Ser Verbo, não substantivo

Há alguns dias estava ouvindo um cd religioso e me chamou atenção uma música que começa com uma criança conversando. Ela fala: “Ontem, Jesus afinou minha guitarra e aguçou meus  sentidos, me inspirou! Papel e lápis na mão, anotei a canção, mas me neguei a escrever. Porque falar e escrever sobre Jesus é ser redundante.  Seria melhor atuar. Logo, algo me disse que a única forma de não ser redundante é dizer a verdade. Dizer que Jesus gosta que atuemos, não que  falemos. Dizer que Jesus é mais que cinco letras formando um nome. Dizer que Jesus é Verbo, não substantivo”.

A música chama-se “Jesus é verbo não substantivo”, do cantor guatemalteca Ricardo Arjona. Achei a letra muito verdadeira, realista. E é exatamente o que não fazemos: atuar em favor de Jesus.

E, muitas vezes, nós temos a idéia equivocada de que, se formos atuar em favor de Jesus, temos que ser reconhecidos por muita gente. Ledo engano. Há tantas pessoas que atuam e fazem a pequena grande diferença na vida de tantas outras. E a maioria da população nem percebe, não valoriza.

Como exemplo de vida que acredito que se encaixa perfeitamente no tema de atuar, não somente falar sobre Jesus, vou citar Ademira da Silva Santa Clara, mais conhecida como Mira Costureira, que faleceu na semana passada.

Mira era uma pessoa muito próxima de minha família. Trabalhou por muitos anos com minha mãe, costurando. E, durante a minha infância, época em que mais convivi com ela, acabei conhecendo um pouco sobre a sua história de vida. Uma perna apresentando problemas devido a um erro médico cometido em sua infância,  anemia crônica, flebite, insuficiência renal… Estes eram alguns dos problemas de saúde de Mira.

Nada disso era empecilho para nos receber com um sorriso largo, com uma palavra amiga. Não tinha muito  estudo, mas sua sabedoria de vida valia por cinco faculdades.

Ela se foi deste mundo na semana passada. Mas a sua risada gostosa ainda ecoa nos ouvidos de quem teve o privilégio de conviver com ela. Ela foi, sim, um exemplo de atuação. Para dizer que foi um exemplo, não preciso me lembrar dela falando de Cristo, de salvação, de pecados… Basta lembrar da forma carinhosa e amorosa com que recebia as pessoas.

Ela foi exemplo porque ela foi  amor. Foi verbo!

E fazendo outra ligação com o tema citado. A sexta-feira Santa neste ano será no dia 2 de abril, data em que se comemora o centenário do nascimento de Chico Xavier. Pessoa que também foi exemplo de dedicação ao próximo. Ele disse: “O exemplo é uma força que repercute, de maneira imediata, longe ou perto de nós… Não podemos nos responsabilizar pelo que os outros fazem de suas vidas; cada qual é livre para fazer o que quer de si mesmo, mas não podemos negar que nossas atitudes inspiram atitudes, seja no bem quanto no mal.”

E não é verdade? A vida de Mira repercutiu na vida de muitos que com ela conviveram. Na minha também. Não sou exemplo. Mas tive a oportunidade de aprender um pouco com ela.

Engraçado… As pessoas de bem  ignoram que são virtuosas. São humildes. Isso se confirma no Evangelho segundo o Espiritismo. “Eles deixam-se ir ao sabor de suas aspirações e praticam o bem com desinteresse completo e inteiro esquecimento de si mesmos.”

A bondade é assim: espalha a sua graça, deixa as suas benesses, enquanto o doador segue adiante, para  continuar a distribuí-la a mãos cheias. Agora, Mira está distribuindo suas benesses no céu. Mas deixou o exemplo de bondade para nós, que ainda não terminamos nossa missão.

Outra pessoa que deve estar distribuindo bondades em outra dimensão é o Seu Firmino Coelho. Vizinho da Tribuna, o “Vô do Sítio” se foi há um ano. Com fé, trabalho e dignidade criou sua família, seus netos… Lutou na guerra e lutou na vida. Sempre recebia a criançada em sua casa humilde com muito carinho. Lembro-me até hoje de seu semblante na beira do fogão à lenha, enquanto a  molecada corria para pegar uma fatia de pão com margarina caído na chapa quente. Um senhor de poucas palavras, mas que deixou exemplos de vida reta, de fé, de virtudes…

Parece que este Bate Papo está  tristonho? Não… Não se trata disso. A Páscoa é o período de morte de Jesus Cristo e nem por isso é triste… Todos morreremos, como Jesus. Mas todos podemos “ressuscitar”. Mira e Seu Firmino “ressuscitam” na lembrança das pessoas que os têm como bons exemplos de vida.

E, nesta Páscoa, porque não fazer o Cristo ressuscitar em nossa vida? Já dizia Chico Xavier: “O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele só pediu que nos amássemos uns aos outros.”

Que nesta Páscoa, o amor ao próximo ressuscite no coração de cada um. Em seu coração, no do seu colega… E de todos os governantes também! Quiçá tivéssemos tantos homens bons na política, na vida pública… Talvez, a situação da saúde,  educação e segurança não estivessem como estão.

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“Qual é o lugar do homem? Onde  os seus irmãos precisarem dele.” (Madre Teresa de Calcutá)

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