ANTIGOMOBILISMO – Placa preta: um alerta

No final do mês de junho o Lapa Clube Veículos  Antigos foi autorizado a conceder a placa preta aos veículos antigos que estejam com suas características originais e tenham 30 anos ou mais de fabricação.Com isto, o clube passa a ter um status diferenciado de reconhecimento junto à sociedade, em particular no meio dos antigomobilistas e que reveste de trabalho sério e idôneo a diretoria do  Clube.

Com base nesta novidade, o Lapa Clube Veículos Antigos divulga um texto de João Marin (Juka), de Londrina, a respeito do tema:

“Desde a publicação da Resolução 56 do CONTRAN (21 de Maio de 1998), o Certificado de Originalidade (Placa Preta) vem sendo mal interpretado e, o que é pior, muitas vezes mal utilizado. No Brasil, quando algo envolve dinheiro ou poder, sempre surgem aproveitadores, e o meio Antigomobilista não é exceção. Muitos assumem cargos em entidades tendo como objetivo principal a obtenção de vantagens, sejam elas econômicas ou sociais (status).

As primeiras planilhas de vistoria (confeccionadas por clubes) que surgiram após a Resolução 56 eram, como tudo no início, muito “precárias”, isso sem contar o erro da resolução em relação à idade mínima de fabricação. Erro que foi fruto de uma minuta mal redigida (propositalmente?).

Até o ano de 1999, apenas 5 entidades eram  credenciadas pelo DENATRAN (três delas utilizavam procedimentos e planilhas similares – elaborados pela FBVA… as outras duas utilizavam procedimentos e planilhas criadas por eles próprios).

Vários veículos foram emplacados nessa época. Muitos erros foram cometidos… era o início…

A tendência era uma evolução com o passar dos anos… mas, …

Não demorou muito e a “placa Preta” começou a ser utilizada com outros fins (principalmente como justificativa para afiliação) e posteriormente no meio “comercial”. Associado a isso havia também uma grande desinformação no meio antigomobilista.

As entidades passaram a cobrar taxas, que aumentavam constantemente visando, dentre outros, “arrecadar mais”.

O Certificado de Originalidade passou a “ser considerado” apenas um documento para “facilitar” o uso/circulação de veículos antigos… e, para muitos, como objeto de “comércio” ou status.

A “Placa Preta” foi criada com o objetivo de preservar os veículos antigos “com mais de 30 anos de fabricação”, que são “mantidos como objeto de coleção”, que “ostentam valor histórico  pelas suas características originais” e que “mantém em pleno funcionamento os equipamentos de segurança de sua fabricação”. Pelo texto acima (do certificado de originalidade, anexo da Resolução 127 CONTRAN) chega-se à conclusão que o objetivo original deste certificado (Placa Preta) é preservar os veículos antigos (originais ou restaurados)  que conservem suas características originais de fabricação, tornando-os  verdadeiros “museus sobre rodas”.

O objetivo é preservar a  história

E este só será alcançado se o veículo realmente tiver um alto grau de originalidade, ou seja, preservar suas características originais de fábrica.

Muitos se perguntam: E o que é “alto grau de originalidade”?.

Alguns itens dos veículos, por possuírem características singulares ou terem efeito estético significativo no conjunto, não devem ser retirados ou substituídos e sim restaurados ou reproduzidos (por exemplo: os freios “tipo varão” dos “fordinhos”. Sua substituição por outro sistema mais moderno (hidráulico, por exemplo) causa uma descaracterização grande, pois são elementos singulares e históricos – além do que o texto legal do próprio Certificado menciona: “ostentam valor histórico pelas suas características originais” e que “mantém em pleno funcionamento os equipamentos de segurança de sua fabricação”.

A substituição de rodas originais ou opcionais de fábrica, por outras, mesmo que sejam de época, causa uma descaracterização estética e também não deveria ser feita.

Da mesma forma, os vários itens que compõem o veículo devem ter este tipo de análise (rigorosa e com muito bom-senso)… para se chegar à conclusão do “alto grau de originalidade”  lógico e aceitável. Para isso, deve-se agir de forma totalmente imparcial, respeitando-se o objetivo da Placa Preta, e não buscando facilidades ou defendendo interesses…

Existe uma pequena quantidade de veículos que apresentam situações/características específicas, seriam uma espécie  de veículos-exceção (são muito raros; estão em bom estado e nunca foram  restaurados; etc). Para estes veículos, devem ser utilizados critérios que permitam “preservar” o máximo possível sua história e ao mesmo tempo  não prejudicar a concessão do Certificado de Originalidade. Estes casos  são exceções e devem ser analisados à parte.

Algumas planilhas/procedimentos chegam a prejudicar o verdadeiro sentido da “Placa Preta” e até servem de “incentivo” para que determinado proprietário de veículo (e muitos outros) venham a fazer, sem realmente serem necessárias, modificações (pois sabem que serão “aceitas”). Ou até mesmo servem de incentivo a que  não se busque a originalidade do item, afinal “é aceito” assim.

São planilhas e procedimentos que aceitam alterações de itens que na maioria das vezes, não têm justificativa lógica e plausível, e afetam significativamente a “história” e/ou a estética do veículo, por exemplo: a troca de motores, a troca de sistema  de freios, a troca de rodas, descaracterizações na pintura, etc.

Aceitar tais modificações só seria justificável em situações especialíssimas nas quais seria impossível, ou  quase, a recuperação ou reprodução do original. Hoje é possível fazer recuperação ou reproduzir quase tudo e de forma idêntica ou similar ao original.

Muitos Clubes, que utilizam determinadas planilhas, até por uma questão de isonomia, pois fazem parte de um mesmo  grupo, estão buscando e conseguindo uma ampliação na “aceitação de substituição de item”. Houve alegações do tipo: “se determinado veículo “X” pode, por exemplo, substituir o motor (e não seria um caso de exceção) por que veículo “Y” também não poderia?.”

Este “afrouxamento” nos critérios acontece  por quê? Para preservar os veículos com valor histórico? Com certeza não!

Para satisfação de proprietários? Talvez!

“Placa Preta” é para ajudar a preservar veículos com valor histórico, originais, e não para todo veículo com mais de 30 anos de fabricação.

Se não houver uma conscientização e uma reformulação por parte dos que distribuem estes conceitos/procedimentos correremos o risco de termos, no futuro, uma grande frota de veículos “placa pretas”, a maioria descaracterizados, de pouco valor histórico original. Além do prejuízo causado à história… (o que é pior) pois tais veículos, por ostentarem a Placa Preta, serão “considerados pelos leigos” como representantes do original de fábrica.”

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