Onde fica a Lapa na Copa de 2014? No Parque do Monge?

Moro em Curitiba e pelo menos uma vez por mês estou na Lapa. Não esqueço de minha cidade. Minha empresa tem endereço na terrinha e participo ativamente do entertainment business. Sou contribuinte assíduo dos impostos municipais, por isso, de vez em quando, me sinto no direito de reclamar. O assunto da vez é o Parque do Monge. Acompanhando as péssimas notícias sobre a revitalização do parque, notei que a indignação da população, embora pertinente, não reflete nem um pouco a necessidade do município.

Desde criança aprendi que a Lapa é uma cidade histórica e aprendi a amá-la como tal, visitando seus museus e participando de momentos festivos religiosos e patriotas. Deve ser por isso que quando viajo prefiro as feiras aos museus, mas, gosto pessoal à parte, mencionei os tempos de criança para tocar numa ferida: cidade histórica inspira turismo. Infelizmente, a Lapa não tem nada de turismo, ou melhor, não tem nenhuma preocupação em contar a sua história para turistas e crescer com isso. O que é uma pena.

De acordo com minhas contas, a indignação dos lapianos com a péssima gerência e demora na revitalização do Parque do Monge está com a data errada, adiantada. A balbúrdia entre revitalizador e revitalizado deveria ocorrer só em 2017, depois das Olimpíadas de 2016. Por quê? Como é que uma cidade que se diz histórica permite que derrubem árvores, nativas ou não, e acabem com a pouca infraestrutura de seu principal parque turístico bem na época da realização do maior evento do planeta, a Copa do Mundo de 2014?

Nossas forças, me incluindo, deveriam estar voltadas para aulas de inglês e espanhol a serem oferecidas de graça, com o objetivo de capacitar pessoas para receber turistas estrangeiros; deveriam estar voltadas para aulas e mais aulas sobre a cidade e sua história, para que a população saiba contar ao turista estrangeiro onde vive e de que lado combatiam pica-paus e maragatos (você sabe?); as forças deveriam estar voltadas na conscientização da população de que a Lapa precisa ter vida noturna e diurna, precisa de bares com música ao vivo, precisa de restaurantes com bons vinhos, precisa de variedades gastronômicas, precisa de bom atendimento e atrativos para manter o turista na cidade por pelo menos três dias; as forças deveriam estar voltadas para mais uma porção de atividades como, por exemplo, aulas de teatro para crianças encenarem pelas ruas as batalhas vividas no Cerco da Lapa, encantando o turista; as forças deveriam estar voltadas para os investimentos em hotéis no campo, com passeios a cavalo, pinhão sapecado e banhos de cachoeira; deveriam estar voltadas para o surgimento de um sistema para transportar os turistas de um lado para o outro, seja de furgão, táxi ou ônibus.

Vocês perceberam? A partir de 2012 começam as visitas de estrangeiros ao país. Teremos a Copa América, Copa das Confederações, Copa do Mundo e as Olimpíadas e o Brasil vai receber cerca de 500 mil novos turistas, ou seja, o Brasil já recebe turistas, mas virão pra cá mais 500 mil novas caras, do mundo todo. E, como de praxe, esses turistas vão trazer dinheiro para o país, muito dinheiro. E dinheiro para gastar. Mas e a Lapa? A Lapa está preocupada com o Monge. A Lapa está fazendo abaixo assinado cobrando as obras no Monge. A Lapa está perdendo tempo em encontrar culpados pela destruição do parque, pelo início de uma revitalização que só deveria ter começado em 2017. No presente, não era o momento de começar revitalização nenhuma, isso não devia ter sido permitido, era o momento de dar uma gabaritada no restaurante do Monge, nas churrasqueiras, na cancha de areia, na pista de vôo do Roger, no Cristo. Era o momento de mandar fazer uma estátua de bronze do João Maria, de escrever as histórias das pessoas que alcançaram um milagre do ermitão, de produzir vídeos sobre a Lapa e de “cantar” a todos para incluírem a cidade no roteiro turístico de 2014. O que custava esperar mais sete anos para revitalizar o Parque do Monge? É uma pena nada disso estar acontecendo porque Curitiba será uma das sedes da Copa e a capital paranaense fica logo ali, ao lado. O turista estrangeiro, além de assistir aos jogos, quer conhecer o país. E ele vai conhecer tudo o que puder menos a Lapa, porque a Lapa não tem nada pra oferecer. A Lapa permitiu que sabe-se lá quem derrubasse todas as árvores e acabasse com seu parque. A Lapa permitiu que em todos esses meus 32 anos de vida a cidade fosse governada por pessoas incapazes de pensar no futuro, pessoas que se viram seduzidas por uma falsa sensação de poder, por fotografias em jornais e nomes em placas de inauguração de asfaltos e pontes. A Lapa permitiu que as novas gerações deixassem a cidade em busca de oportunidade profissional em outro lugar, e ainda permite que isso aconteça. A Lapa, um dia, existiu nos livros de história, mas, agora, faz questão de esquecer quem ela é e quanta capacidade e coragem tem. Realmente, uma pena.

O que mais me entristece nas péssimas notícias que de vez em quando eu ouço sobre a Lapa é saber que até eu, que tenho raízes fincadas na terrinha, tornei-me um turista de meio dia de visita.

alexcalderari@hotmail.com

twitter: @alexcalderari

Please follow and like us: