Lapa das Tradições e Cultura

Merecidamente a Lapa foi escolhida a Capital Brasileira da Cultura. Parabéns!

Não poderia ser diferente. As lembranças que me advém ao recordar tantas paisagens, acontecimentos, tradições do povo lapeano, seus casarios, seus costumes que enfeitaram a vida dos lapeanos de outrora, e que o tempo levou, e quem viu, viu, e que não viu, não verá jamais, e nem terá idéia de como era, nem como vivia o povo antigo, aí realmente se tem idéia porque a Lapa merece esse ilustre merecimento.

Não existia automóvel, televisão, telefone sem fio; o mundo tinha costumes diferentes na década  de 40; quando vim para a lapa, só existiam três automóveis na cidade (dos saudosos senhores Moisés Linhares, Juca Aracheski e Lindolfo Kaseker) e então nas ruas da cidade transitavam dezenas de carroças e dezenas de cavaleiros que, vindos do interior, enfeitavam a cidade com seus encantos pessoais, seus trajes, seus modos simples de viver. Vinham  com carroças cobertas com toldos de lona adequadas para dias de chuva, ou proteção em dias de sol inclemente; os cavaleiros, com lindos corcéis, a passos compassados ou ligeiramente troteados, seguidos muitas  vezes dum belho relincho cruzar com uma encantadora potranca, onde o olhar do mancebo eqüino estava atendo a sua beleza. Eta bicho véio!!!…

Não se pode falar da Lapa sem falar das corridas de cavalo no Monge e das congadas, onde o velho Rei Jordão, Rei dos Congos, mostrava seu nobre requinte de Rei e Majestade, e o velho rabequista Nhô Inácio, com sua rabeca, dava a cadência das tradições de seu povo soberano e altaneiro.

A Lapa de tardes fagueiras onde as famílias de assentavam no cair das tardes nas calçadas  para conversar e tomar um chimarrão se prolongavam até a chegado do crepúsculo.

Não se pode falar da Lapa sem falar das pessoas, que marcaram sua época, e passaram a ser conhecidas por todos, por seus jeitos e modos pitorescos de viver; cite-se entre tantos, o Sr. Guerino Sera, grande comerciante do passado,  e que tendo um sítio onde possuía vários gados, ensinou várias terneirinhas desde pequenas a comer sentada com as patas de trás e as da  frente erecta como se fosse um cão policial sentado; aí ele dava de comer milho na sua boca com uma colher. Eta vicho véio! Eu era adolescente nessa época e quase morria de prazer e emoção ao ouvir essas  histórias.

Outro fato que eu assisti em uma corrida de cavalos na raia do Monge há mais de 40 anos atrás e que está tão vibrante em minha memória, foi quando meu amigo Sarkiss comprou um belo garanhão do nosso amigo Alfredo Pavoski e estando lá no Monge, na corrida, desafiou um cavaleiro para apostarem corrida com seus pangarés.

O Sarkiss, desculpe a brincadeira, papudo e brincalhão, puxou um maço de dinheiros e bateu no chão em desafio; o senhor desafiado, não tendo dinheiro para casar na aposta, pediu para o seu amigo ali presente, que também por sua vez não dispunha de tanto dinheiro assim naquele momento; o Sarkiss então convidou esse senhor a entrarem na pista de corrida de cavalos, pegavam o  patacão com as mãos e jogavam no chão e gritavam: – “Aposto dois mil no  Sarkiss e um outro respondia: aceito os dois mil e mais 1.500 em cima:”  – se apinche caboco veio, que aqui tem baguá de 2 de altura”

Nessa altura eu já dei um pulo de 1,80m de altura na cerca da pista, para assistir a grande corrida de papos maior que de gaúcho.

Quanto mais se pensa na Lapa antiga, vão florescendo lindas recordações que floreiam a mente da gente, como as procissões do Jesus Morto, onde o Pároco, Monsenhor Henrique conduzindo os fiéis, numa procissão de várias quadras era também acompanhada pela Banda do Maestro João Mariano, que em sentidas execuções de marchas fúnebres, levava os fiéis a extremos de emoção.

Tive o prazer quando adolescente, assistir as últimas tropas de gado passar pela Lapa e (nós)  crianças, sem imaginação do perigo, acompanhávamos junto a tropa e os vaqueiros gritando desesperados: – “Saiam daí piazada, que o gado é bravio, e nós nada de obedecer, pelo contrário, achávamos bonito o grito  dos vaqueiros. Ah, meu Deus do céu, que cenas pitorescas que o tempo levou, e deixou a saudade em seu lugar.

Não dá também para esquecer os imigrantes ainda vivos, falando em suas línguas pátrias, nas ruas da Lapa.

Nunca imaginei que um dia, 60 anos depois, isto viraria história.

Não se pode falar da Lapa, sem falar dos desfiles cívicos na Praça General Carneiro, das visitas do Governador do Estado a nossa cidade, onde era tradição a Diretoria do Grupo Escolar Manoel Pedro levar sua Escola à Praça, para homenagear o Governador e em seguida passar em Revista a Escola, além do  que se faz necessário citar o fato mais marcante da Lapa e do Brasil – Lapa Terra dos Heróis, Berço de Valentes, Exército de Antônio Ernesto Gomes Carneiro – Coronel Comandante de Bravos, de Mulheres Valentes, que  convidadas a se retirarem de trem da cidade, se recusam a deixar seus maridos, seus entes queridos, seus bravos; “Morreremos todos juntos, daqui não saímos”.

Lapa, eu te amo, somente um dobrado, uma marcha, e teu Hino, será capaz de traduzir o encanto que sinto da tua história.

Que campos verdes

Que alegre Terra

Terra mais bela

Que esta não há

Quanta riqueza no solo encerra

A Linda terra do Paraná

Abdalla João Dardaque

um lapeano de coração

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