Mais empatia, por favor

Desde que engravidei, percebo que há muitas pessoas interessadas em dar enxurradas de conselhos sobre o que é o mais importante os filhos aprenderem para ter êxito na vida. Programação. Inglês. Xadrez. Ballet. Mandarim. Oratória. Matemática. Esportes em equipe. Música. Artes marciais.

Estou grávida de oito meses, com um ventre notório. E cada vez que subo no ônibus, lotado, ou vou a lugares onde preciso enfrentar filas para ser atendida, observo como as pessoas, em sua maioria, ao me verem entrar, viram a cabeça para o outro lado. Ou melhor, viram a cabeça para seu Smartphone para evitar ver uma grávida a um metro de distância, a quem sabem que deveriam oferecer o lugar ou a vez. São muito poucas as pessoas que me olham nos olhos e se levantam para deixar-me seu assento ou oferecer o lugar na fila. Não sei se sabem mandarim, programação ou se são boas em matemática. Mas todas as que me olham nos olhos têm algo em comum: empatia. Empatia tal que te move e te leva a fazer algo pelo outro.

Empatia em ação. Essa é a empatia que move as pessoas a fazer coisas pelos outros. A doar seu tempo e esforço por uma causa em comum. A que move um jovem a montar uma iniciativa social em sua escola.

Mas, não é apenas isso. A empatia em ação, ao contrário do que se pensa, não só é boa porque ajuda os demais. A empatia é essencial para ter êxito pessoal. A empatia é a que faz com que uma pessoa trabalhe bem em equipe, que seja um bom líder, que uma empresa enfoque seu serviço às verdadeiras necessidades do cliente, ou que um jovem saiba como atuar em uma entrevista de trabalho.

A empatia não surge só quando a gente olha ao nosso entorno. A empatia nos faz olhar de outra maneira ao nosso entorno, fixando nas necessidades e preparando a ação. De nada serve que alguém seja um bom orador, se não é capaz de se dar conta que o que está comunicando não interessa. A empatia em ação nos leva a inovar e nos faz mais pragmáticos e exitosos. Mais felizes. E, ainda, ajuda que o mundo seja melhor.

A boa notícia é que a empatia se pode aprender e praticar. Existem empreendedores sociais, como a canadense Mary Gordon, que já estão impulsionando a empatia em escolas há quase 20 anos e demonstrando com resultados tangíveis os benefícios objetivos da empatia.

Mas, não é necessário ir tão longe. Existem colégios na Espanha que estão trabalhando a empatia em ação com seus alunos e conseguindo resultados excelentes. Neste curso, pela primeira vez, as crianças do Ensino Fundamental terão a sorte de cursar a matéria – obrigatória e avaliativa – “Educação Emocional e para a Criatividade”, onde duas vezes por semana trabalharão a empatia e outras emoções. Hoje este tipo de indicadores não computa nos rankings dos top 100 colégios da Espanha. Mas, se todos nos conscientizarmos da sua importância – como um dia aconteceu com a alfabetização – e começarmos a praticá-lo, as coisas mudarão.

Quero que minha filha aprenda empatia. Para que não vire a cabeça para o outro lado. Para que seja pessoa ativa ao que acontece ali fora, e se movimente por isto. Para que tenha êxito pessoal e profissional. E para que, quando for à China, seja capaz de entender os moradores locais com apenas um olhar nos seus olhos.

Enfim, para que haja mais respeito entre as pessoas. Porque, afinal, de nada adianta ter conhecimento, se não sabemos conviver.

Please follow and like us: