Oi queris, sabe que é bem contraditório mesmo essa dualidade: feminilidade versus maternidade. Ao mesmo tempo em que nos sentimos empoderadas, corajosas, vitoriosas por gestar e parir (independentemente do parto, natural ou cesárea, há um orgulho interno por termos conseguido), nos deparamos com uma queda brusca de autoestima, de autocuidado e, até mesmo de autoconhecimento, justamente porquê, quando seu bebê nasce, nasce também em você uma nova mulher. É uma guerra perdida, naquele tumultuo todo que é a chegada do baby, passamos a ficar em segundo plano. As prioridades passam a ser, as necessidades do bebê, o cuidado com a casa, e uma gama de responsabilidades que automaticamente se tornam sua “obrigação”. E mesmo ainda não tendo o controle de ser mãe, a gente fica naquela pressão por suprir as expectativas dos outros, sobre o que vão pensar sobre você como mãe, rendida aos palpites e insinuações alheias, e, claro que seu amor próprio nessa hora, tá longe… Então, nos vemos ali presas por 1, 2… 3 anos tentando se reencontrar consigo mesma. Isso é sério! Segundo pesquisadores da Universidade de Tilburg, na Holanda, que analisaram, durante nove anos, os dados de mais de 84 mil mulheres, descobriu-se que há um declínio na autoestima durante a gestação, seguido por um aumento nos seis primeiros meses após o parto, passando por uma nova queda até a criança completar três anos. Então é uma oscilação brusca que coincide com o tempo da “maternagem”. Vamos deixar de lado aquela maternidade romantizada e perfeita imposta pelas mídias, aquela mãe maquiada, sem olheiras e sorrindo com aquele bebê miúdo em sono profundo, está bem longe da realidade, né? O choque é grande, principalmente para as mães de primeira viagem. Longe de mim tirar “glam” da maternidade, e, digo de antemão que se me perguntarem sobre ser mãe, vou esquecer de todo o espinho e me derreter toda para falar da minha pequena e do quanto sou grata pela vida mas… a função da maternidade é osso! E como fica esse reencontro consigo mesma? Existe um caminho para esse resgate que permeia o repertório de “não-mãe”, com a essência e a reconstrução da feminilidade, da libido, da autoestima, revisitando medos e incertezas e, por fim, a confirmação de novos padrões de pensamento, tudo isso para se reencontrar de alguma maneira. Isso leva tempo? Sim, muito tempo. Eu mesma levei um tempão! E, longe de mim ser uma referência, até porque, por escolha própria, me doei para a maternagem dos 1.000 dias. Emprestei meu corpo aos 270 dias da gestação, me permiti aceitar as mudanças todas de adaptação dos dois primeiros anos de vida e, maternei. Optei pela amamentação prolongada e cuidei de tudo intuitivamente em prol de um desenvolvimento psíquico e fisiológico saudável. Claro que como a “mãe-galinha-choca” que sou, ainda cuido de tudo, mas tento fazer com que minha pequena tenha cada vez mais independência, mais autonomia. Enfim, a gente quer sim, ser a melhor mãe possível, a gente quer arrasar e, nesse percurso, vamos errando e acertando também. Porém, contudo, todavia… a gente se esquece. E sabe de uma coisa? Ninguém vai perceber esse esquecimento, porque somos nós, as responsáveis por nós mesmas. Reencontrar-se é difícil, reascender-se, é difícil. … mas é possível e ouso dizer, que é necessário. É uma conversa franca e individual, de você para com você. Um exercício de autocuidado e, me permite um conselho? Tente. Faça. Insista. Tire um tempo para você mesma, usufrua da sua própria companhia, isso ajuda no processo de autoconhecimento. Uma outra dica é o mindfullness – atenção plena e mente presente. O objetivo desta técnica é sair desse estado de falta de consciência (que é fazer as coisas no automático) e viver uma vida consciente do momento presente, dos seus sentimentos e sensações. Até a Gisele Bundchen faz. São exercícios de empatia e paciência, autocontrole, respiração. É fazer as coisas com mais atenção, com mais consciência. Enfim, tente se reconectar com o mundo, com as pessoas que importam de verdade, com seus antigos robbies, com novas ideias e novos sonhos, por mais simples que sejam, são seus. Seja você… mulher-mãe!
Enriquecendo nosso vocabulário: Maternagem: é uma filosofia de vida que consiste em entender o real significado de ser mãe, com afeto e presença. Maternidade é um fator biológico, enquanto que a maternagem é uma escolha. | Glam: expressão muito utilizada na moda para simplificar o sentido da palavra glamour. Mindfulness: é atenção plena, é a prática de se estar no momento presente da maneira mais consciente possível. | Robbies: atividade exercida exclusivamente como forma de lazer, passatempo favorito.