O Brasão da Lapa: Um estudo sério

Nas últimas semanas recriamos o Brasão da Lapa oficializado por decreto do prefeito Pedro Fávaro Cavalin, nos idos dos anos 1954. Agora, trazemos para o leitor um estudo feito dentro das normas heráldicas corretas, realizado por uma comissão formada no ano de 2018, por ocasião dos 250 anos de fundação da Lapa.

Ao contemplarmos o atual brasão do município da Lapa, vemos em primeiro plano um canhão alusivo ao episódio do Cerco da Lapa, ladeado por um soldado Pica-Pau e um soldado Maragato. Este brasão foi instituído como símbolo municipal no ano de 1969, pelo então prefeito Sérgio Augusto Leoni, de saudosa memória. O brasão é bonito, rápido e direto em seus símbolos, mas segundo as normas heráldicas (ciência que estuda brasões e bandeiras), o símbolo da Lapa estava totalmente fora de conformidade com o que é correto.

Além das falhas heráldicas, também o brasão atual da cidade limita toda a nossa história, que já chega a 251 anos de fundação, a um episódio específico, que durou apenas 26 dias – O Cerco da Lapa.

Em nossa reportagem em edições anteriores, recriamos, como exercício de curiosidade, o brasão anterior, que foi instituído pelo prefeito Pedro Fávaro Cavalin, nos idos de 1954. Tal desenho foi apresentado apenas para iniciar uma discussão acerca do que queremos representar com nossos símbolos municipais. Na marca atual, não se contempla o desenvolvimento agropecuário, bem como deixa de fora a figura do tropeiro, peça fundamental para a fundação da Vila do Príncipe, depois cidade da Lapa.

O lapeano e historiador amador Luiz Roberto Bara Araújo entrou em contato com a nossa redação, apresentando o trabalho criado por ele e uma comissão de notáveis, comissão esta criada pelo Decreto 23.689 de 28 de agosto de 2018. A comissão foi criada visando a execução de estudos para a criação de um símbolo que, realmente, pudesse representar nossa cidade. O decreto criou a Comissão de Análise e Revisão do Brasão do Município da Lapa, composta por Luiz Roberto Bara Araújo, como presidente e os membros Ernani Costa Straube, Carlos Zatti, Latif Salin e Márcio Anis Mattar Assad.

Com a participação do Prof. Ernani Costa Straube, uma das maiores autoridades, senão a maior, do nosso país no estudo da Heráldica, a comissão reuniu-se com seus próprios recursos, e estudou durante mais de seis meses a questão. Como resultado, foi apresentado o brasão que você vê em destaque nesta reportagem, que tem muito maior representação das mais diversas potencialidades e história de nossa cidade. A seguir você confere a descrição do símbolo, com cada item representado tendo sua explicação correta segundo as normas heráldicas.

DESCRIÇÃO DO BRASÃO

Escudo português, esquartelado em cruz, tendo no 1º quartel, em campo de argenta, a representação de canhão de artilharia, voltado, de sable; no 2º quartel, em campo de blue a representação, em ouro, da fachada do Teatro São João, aberta, esclarecida de janelas e portas de blue, sustida de sol de ouro com seus raios; no 3º quartel, a representação, em campo de blue, de trator agrícola, de argenta; no 4º quartel, em campo de argenta, pinheiro-do-paraná, de sinople.

Como Tenentes, à destra um tropeiro-patrão, e a sinistra tropeiro-peão, com as vestimentas usuais a cores.

Como timbre, a coroa mural de prata.

No listel, em blue, o topônimo LAPA-PARANÁ, seguido da data 13.06.1769, tudo em argenta.

Descrição das peças do Brasão:

Escudo Português ou clássico – com a ponta arredondada, onde estão assentes as peças

Esquartelado – divisão do escudo, em quatro partes iguais – os quartéis.

Em cruz – quando as partições resultam da combinação do partido e cortado.

Campo – todo o espaço a ser preenchido no escudo.

Canhão de artilharia – lembra o desenrolar do episódio do Cerco da Lapa, em 1894.

Voltado – quando a peça está virada para a esquerda.

Sable – é o nome heráldico da cor preta.

Teatro São João – representação da fachada frontal e que identifica uma construção secular de interesse Histórico que se destaca na paisagem da cidade.

Aberto – quando a representação de uma construção se apresenta com portas e janelas, em esmalte diferente

Esclarecido – quando dotado de aberturas

Blue – a cor azul

Ouro – a identificação do metal amarelo

Sol – círculo com feições humanas, do qual partem dezesseis raios retilíneos e outros tantos de raios curvilíneos, alternados e tudo de ouro.

Sustida – quando uma peça está sobre outra, ou colocada acima de outra

Trator – representação de trator agrícola, usado no passado recente.

Argenta – é a denominação do metal prata e é representado deixando a área em branco

Pinheiro-do-Paraná (Araucaria angustifólia), em posição ereta, com a galhada plena de acículas, representa o Estado do Paraná, do qual faz parte, como Município.

Sinople – é a denominação heráldica, da cor verde.

Tenentes – são figuras humanas, colocadas aos lados do escudo, em posição simétrica, com a finalidade de sustenta-lo.

Tropeiros – figuras humanas, de corpo inteiro, importantes no desenvolvimento do Município e do Estado e usando a vestimenta tradicional, a cores.

Listel – em forma de faixa curva ondeada, que é colocada em posição externa e inferiormente, e pode conter expressões e/ou datas

LAPA – denominação do Município

PARANÁ – unidade da Federação Brasileira, no qual o Município é parte integrante

13.06.1769 – data da instalação da Freguesia de Santo Antonio de Lisboa, atual Lapa

Timbre – ornamento colocado na parte superior do escudo.

Coroa Mural – assente no escudo, apresentando três torres completas e ameiadas de frente e duas meio laterais, perfazendo oito, das quais somente essas estão representadas

Destra – o lado direito do brasão, esquerdo de quem olha

Sinistra – o lado esquerdo

Um caso a se pensar

O brasão apresentado pela comissão citada nesta reportagem representa muito mais nossa cultura, potencialidades e não deixa de valorizar episódios importantes de nossa história, como o Cerco da Lapa.

Limitar o símbolo do município apenas aos 26 dias do Cerco da Lapa é uma afronta a todos aqueles que, com seu suor e trabalho, contribuíram cada qual ao seu modo para o desenvolvimento do município.

A sugestão apresentada ao então prefeito Paulo Furiati não foi discutida pela Câmara de Vereadores, pois não chegou a se tornar projeto de lei, porém, novos tempos e novos objetivos nos dão respaldo para solicitar aos administradores municipais uma atenção maior sobre este assunto. Pode parecer uma coisa simples, mas o município é o que representa em seus símbolos.

Já está mais do que na hora de pensarmos a Lapa como um grande município, com potencial agropecuário imenso, indústrias e turismo pujantes.

Até para as gerações futuras, a alteração do brasão se mostra importante, visto a detalhada descrição na montagem do mesmo. Só isto já é uma aula de história, correta e muito bem apresentada pela comissão que citamos.

Parabenizamos o trabalho dos membros da comissão, em especial ao Prof. Ernani Straube, pela bela representação que nos apresentou e pela potencialidade contida neste símbolo.

E você, leitor, o que diz disso tudo?

NOTA DE PESAR

A Tribuna Regional, em conjunto com a comissão citada nesta reportagem, se entristece com o falecimento do Sr. Carlos Zatti, integrante ativo nesta empreitada e grande incentivador dos valores paranaenses e sulistas. Zatti foi um dos principais organizadores do Movimento O Sul É Meu País e, constantemente, participava com suas opiniões nas matérias deste jornal. É uma personalidade que merece nossa lembrança e respeito. Vá em paz, caro amigo! Encontre com os seus queridos no outro plano e não deixe de olhar pela história paranaense, de onde estiver.

BRASÃO

Seguindo as normas oficiais da heráldica, orientada pelo Prof. Ernani Costa Straube, a artista plástica Latif Salin foi a responsável pela criação dos elementos componentes do brasão, que ora apresentamos aqui. Um trabalho de pesquisa intensa e muita disposição pelos integrantes da comissão.
 
O professor Ernani Costa Straube é membro da Academia Paranaense de Letras e Diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, além de ser uma das principais autoridades em Heráldica em todo o país. O trabalho realizado pela comissão citada na reportagem teve a chancela, colaboração e apoio deste sábio professor.
A comissão composta pelos integrantes (da direita para a esquerda) Luiz Roberto Bara Araújo, Prof. Ernani Costa Straube, Latif Salin, Carlos Zatti (in memorian) e Márcio Assad.
 
 
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