A Soma de todos os medos

A pandemia teve efeitos devastadores em todos os setores, porém, os principais prejudicados foram o bem-estar e qualidade de vida das pessoas. Nesta matéria, a Tribuna Regional trata de um assunto que se tornou o maior transtorno do século: A saúde mental.

A soma de todos os medos é o título de um filme que trata de uma possível guerra nuclear, onde o protagonista percorre meio mundo para tentar impedir os líderes mundiais de ‘apertarem o botão’, cessando assim a ameaça nuclear. No fim deste clássico, todos saem felizes para sempre.

A expressão “a soma de todos os medos” pode ser colocada na nossa realidade, no cotidiano e, mais especificamente, na nossa saúde mental. A grande maioria dos transtornos é de origem psíquica, não tendo relação com problemas físicos de saúde, mas que afetam todo o conjunto de corpo e mente, além de prejudicar as pessoas próximas ao indivíduo, pois familiares e amigos também sofrem pelas consequências destes distúrbios. Depressão, ansiedade, bipolaridade são nomes de transtornos sérios de cunho psicológico.

MEDOS

Vivemos em um mundo onde a informação é muito rápida e as novidades nos oprimem. Com esta intensidade no acesso à internet, muitas pessoas acabam se frustrando por não conseguirem ser como as outras nas redes sociais, com milhares de curtidas e compartilhamentos. Esse é um dos principais pontos que geram transtornos em adolescentes e jovens adultos, que não conseguem se equiparar àqueles ídolos que acompanham nas redes, gerando o medo da não-aceitação pelos seus pares. Alie-se a estes fatos o isolamento na pandemia e o quadro geral está formado.

Já entre os adultos, a pandemia criou um medo da contaminação que, somado aos problemas econômicos, amorosos ou de cunho pessoal, trouxeram muita gente para o sistema de saúde em busca de ajuda. A interrupção de grande parte das atividades econômicas nos últimos quatorze meses contribuiu para a criação de ‘fantasmas’ que assombram a mente destes indivíduos.

Os idosos são um dos grupos de maior vulnerabilidade quanto aos distúrbios de natureza mental, visto que após a aposentadoria, a pessoa passa a pensar que é um estorvo para os seus familiares, além de ter seus movimentos diários impedidos pela pandemia, sendo este o principal grupo de risco para a Covid19. Passeios, caminhadas, visitas, bailes, tudo isso foi cortado da vida destas pessoas, o que acabou criando muitos transtornos, que podem até acabar em suicídio.

OS SUICIDAS

A nossa região sempre contou com uma lenda urbana de que seria uma das principais em percentuais de suicídios no Estado. Para a assistente social Ana Maria Nunes Dias Loures, coordenadora da unidade CAPS da Lapa, estes dados não se confirmam, mas existem muitos cidadãos que são suicidas em potencial, à espera da oportunidade de executarem o derradeiro ato.

As faixas etárias mais atingidas pela intenção suicida são a adolescência e a terceira idade. Como falamos acima, os mais idosos se sentem um peso para a família ou mesmo passam por golpes aplicados dentro do próprio seio familiar. E, como não querem expor seus problemas, acabam por pensar em tirar a própria vida.

Já adolescentes pensam nesta hipótese em diversos momentos, visto que esta idade é a idade dos hormônios intensos e ansiedade natural. A não-aceitação das suas postagens em redes sociais, dificuldades de relacionamento pessoal e também a grande cobrança da família em questões de futuro podem ser os fatores que mais influenciam estes jovens a tentar uma saída final.

Por um lado, estes fatos são assustadores, mas na grande maioria dos casos, estas ações depressivas e tentativas frustradas de tirar a própria vida são pedidos de socorro. Neste momento é da maior importância que os mais próximos tenham atenção redobrada a determinados sintomas, como apatia, preguiça exagerada, pouca demonstração de sentimentos, pessimismo exagerado, bem como atitudes mórbidas. Todos estes são sinais de que a pessoa precisa de ajuda profissional.

MEDO DO COVID

Segundo a assistente social Ana Maria Nunes, coordenadora do CAPS, houve um aumento na busca por ajuda durante a pandemia, devido às restrições do momento. Além disso, muitos dos atendidos pela unidade tiveram recaídas e voltaram a procurar auxílio. Por outro lado, muitos dos pacientes se fortaleceram nestes meses de pandemia, focando de forma mais atenta nas orientações recebidas durante seus tratamentos.

Além de pessoas que desenvolvem transtornos mentais pelos motivos citados acima, também surgiu o grande monstro da Covid19. Praticamente todas as pessoas foram afetadas pela pandemia, perdendo amigos, familiares ou conhecidos, ou mesmo padecendo da doença, o que vem gerando grandes traumas e medos conscientes e inconscientes. A falta de contato pessoal, o medo da contaminação, o pavor de perder seu emprego entre outros fatores, estão criando muito mais problemas do que apenas os visíveis. Como a mente humana é ágil e livre, continua criando situações impossíveis de serem superadas sozinhos. As restrições aplicadas pela pandemia vieram a criar uma legião de pessoas traumatizadas, retraídas e amedrontadas.

Além das preocupações, existe a figura do luto, muitas vezes somado às culpas que muitos carregam por serem os vetores de contaminação de pessoas próximas.

O CAPS

O CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) é uma instituição pública, vinculada ao Sistema Único de Saúde, que trata dos distúrbios de origem psicológica e psiquiátrica. Seu público é, na sua maioria, composto por adultos e também adolescentes.

Para ter acesso aos serviços prestados na unidade, os interessados devem, em primeiro lugar, procurar a unidade de saúde mais próxima e fazer uma consulta com os médicos para realizar um diagnóstico físico e mental. Constatada a necessidade o médico fará o encaminhamento do paciente para o CAPS, onde o indivíduo será tratado de forma gratuita e completa.

Casos de uso de drogas e alcoolismo são a principal clientela do CAPS, porém existem casos de depressão aguda e padrões suicidas que também são atendidos pelo conjunto de profissionais que lá prestam serviço.

SÓ POR HOJE

O CAPS é a ponta final de um processo de tratamento dos distúrbios mentais, mas grande parte das nossas ansiedades e depressões podem ser combatidas se vivermos um dia de cada vez, resolvendo um problema de cada vez. A máxima utilizada pelos Alcoólicos Anônimos, que sugere que “só por hoje” o adicto se abstenha da bebida, aplica-se também ao cotidiano das pessoas.

Atualmente já é possível ter a liberdade de fazer um pequeno exercício, praticar alguns esportes, focar seus momentos livres em algum hobbie que traga satisfação. Ao mudar o foco de olhar, o indivíduo consegue aos poucos olhar adiante, mesmo que seus problemas pareçam imensos.

Reaprender a gostar dos pequenos prazeres saudáveis é uma forma muito eficaz de voltar à vida normal. Atos simples como cozinhar, brincar com os filhos, caminhar, pedalar, conversar com os que estão próximos, são receitas que podem colaborar e recuperar os indivíduos.

Quanto ao luto pelas perdas na pandemia, o ideal é viver o momento, pois todas as etapas deste momento são importantes para a aceitação da perda e a superação do momento. Se o período de luto se estender por muito tempo, o ideal é procurar auxílio profissional.

CAPS X FAMÍLIA

O CAPS também é formado por profissionais dispostos a atender a todas as demandas, mas contam com um aliado de grande força: A família do doente. Quando uma pessoa padece de um transtorno mental, afeta a todos no entorno e estes também devem ser tratados, mas, principalmente, podem ser os alicerces necessários à volta da normalidade na mente do paciente.

O apoio da família é fundamental e extremamente necessário, pois todos devem aprender a lutar juntos para enfrentar tanto a depressão, como a ansiedade e também os vícios e adicções do indivíduo em questão.

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