Com a popularização dos materiais sintéticos e a industrialização da produção, a profissão de sapateiro pode deixar de existir. Mas o Zamba continua firme na sua sapataria.
Nos idos tempos de dantes, era muito comum o uso dos serviços do sapateiro, profissional este respeitado e muito procurado, tanto pela necessidade de reparos nos calçados quanto para aquisição de novos ‘pisantes’. Utilizando ferramentas simples, muita técnica e uma boa dose de criatividade, os sapateiros eram responsáveis por confeccionar os calçados de toda a população, desde o mais simples lavrador, até o mais renomado doutor da cidade.
O sapateiro escolhia os materiais, preparava o couro, selecionava o melhor para a sola, unia tudo com cola, pregos e muita força no braço e depois aplicava os detalhes para deixar o calçado mais belo. Após o início da industrialização do mercado, o sapateiro passou a ser o profissional responsável pelos consertos dos calçados, fazendo todo o tipo de reparo, desde uma simples colagem de sola até a substituição de pedaços inteiros de couro do dito cujo.
Aqui na cidade da Lapa foram muitos os profissionais que trabalharam nessa área, nos tempos de outrora, mas hoje o único e último sapateiro remanescente o Luiz Roberto Baggio Azambuja, popular Zamba, que tem sua loja na Rua Hipólito Alves de Araújo, 459.
Zamba está na profissão há trinta e cinco anos, tendo começado a trabalhar com o Pedro Sapateiro, conhecido profissional da cidade. Pelas mãos do Zamba já passaram todos os tipos de calçados e, ultimamente, diz ele com tristeza “não compensa mais consertar os calçados”. A afirmação tem sua razão de ser. O consumidor não se preocupa mais com qualidade e sim com o preço. É mais fácil comprar um calçado novo do que consertar um antigo. Com a popularização dos materiais sintéticos imitando couro e as importações de países como a China, onde a mão de obra é praticamente gratuita, não há como competir, fazendo calçados, muito menos consertando os mesmos.
Além disso, Zamba afirma que é muito comum as pessoas levarem para consertar seus calçados e mais da metade delas nunca mais aparecem para buscar. Para reduzir as perdas Azambuja teve que modificar seu sistema de cobrança, sendo que hoje o cliente paga adiantado pelo conserto e aí, se não buscar o calçado, não é a loja que arca com o prejuízo. “Já cansei de doar sacos e mais sacos de calçados em excelentes condições para instituições sociais, pois os donos não vem buscar”.
Há vinte anos em sua loja própria, Zamba continua com os consertos de calçados pois tem muitos clientes que sabem valorizar um bom produto e gostam do seu serviço. Não são poucos os clientes habituais que sempre passam por lá, pedindo uma boa engraxada ou aquela arrumadinha básica no belo calçado que estava guardado, para usar numa cerimonia especial.
Falando em cerimônias, Zamba conta que no início de sua profissão, era comum virem dezenas de pessoas procurar reparos nos calçados ao mesmo tempo, quando haveria um casamento, um batizado ou uma comemoração maior, como as tradicionais festas de Santo Antonio e São Benedito. Aí a semana toda era aquela correria, conta ele, que tinha que se desdobrar junto aos funcionários para cumprir com toda aquela demanda.
NOVOS TEMPOS
Para não perder o costume de oferecer bons serviços, Zamba transformou a sapataria numa bela loja tradicionalista, oferecendo desde estribos e selas para montaria até cintos de couro especiais, passando por calçados de couro legítimo, botinas e muita roupa bonita.
A tradição de consertar os calçados pode estar acabando, mas a tradição de atender bem, esta nunca vai deixar de ser na “Loja do Zamba”.