Joelzinho dos Teclados: Uma história de superação

Morador de rua durante quarenta anos, o lapeano Joel Matos conseguiu voltar ao seio familiar e hoje vive, trabalha e encanta com sua música.

Nascido em Ponta Grossa, Joel Matos, filho de Ataíde e Terezinha de Jesus Andrade Matos acabou vindo morar na Lapa em sua infância, no final dos anos 60, pois seu pai Ataíde Matos precisava fazer um tratamento no Hospital São Sebastião, na época exclusivo para tuberculose. Terezinha de Jesus Andrade, a mãe de Joel, é lapeana de origem e sua mãe, a conhecida Dona Julia morava em frente ao União Esporte Clube, onde hoje existe uma pequena igreja evangélica.

A doença do “seu” Ataíde acabou ceifando sua vida e, devido às condições financeiras muito precárias, a mãe teve que mandar Joel e seus três irmãos para um orfanato existente na época em São Mateus do Sul. Durante cinco anos, dos 8 aos treze, ele, junto com os irmãos, viveu nesta instituição onde conta que a indiferença e más condições de vida o fizeram perder a parte mais importante da infância. Após este período Joel e seus irmãos voltaram a morar com a mãe na casa da avó, Dona Julia de Andrade, numa pequena casa na Rua Barão do Rio Branco na Lapa. Como seus pais eram músicos amadores e ele aprendeu a tocar e seu talento o impeliu a buscar novos horizontes. Aí começa a história obscura.

O SUBMUNDO DA MÚSICA

Joel se aventurou na grande Curitiba ainda jovem, com 17 ou 18 anos, tentando um lugar para mostrar seu talento musical, mas o que encontrou foi o submundo dos bares e botecos, onde os prazeres mundanos imediatos acabaram o seduzindo. Álcool e drogas circulavam pelos ambientes e ele, um jovem sem muita orientação, acabou deixando a situação o levar através das piores escolhas. No início ainda tocava em troca de alimento e de dinheiro prá manter seus vícios, mas em certo momento o vício não o deixava mais discernir o que era bom para sua vida. Dos vinte aos sessenta anos, um período de quarenta anos, Joel viveu nas ruas de Curitiba, mendigando e se humilhando na intenção de obter mais uma dose, mais uma pedra de crack, vício este que manteve durante os últimos vinte anos de sua vida na rua.

A vida na rua nunca foi fácil e Joel conta que passou por diversas humilhações, violência e problemas entre os próprios moradores da rua. Segundo ele, existe uma hierarquia até prá quem vai pedir num sinal, precisando o morador de rua unir-se a um grupo e obedecer determinadas regras de convivência, determinadas por alguém que manda naquela quadra ou espaço. Apanhar na rua, ser humilhado por pessoas, tudo isso era comum, mas o pior, segundo Joel, é a indiferença das pessoas ‘de bem’ para com a situação de um morador de rua.

A INDIFERENÇA

Vivendo durante 40 anos em situação de rua, Joel sempre tentava levantar sua vida e buscar coisa melhor para poder sair desta situação, mas relata que é a sensação de inexistir perante o mundo que mantém as pessoas no submundo das ruas. Em certos momentos ele tinha a impressão de ser apenas mais um ítem da paisagem, como mais um banco de praça ou mais um ponto de ônibus aos quais ninguém presta atenção e não demonstram a menor preocupação.

O vício junto à situação de rua o impedia de ter uma vida normal, mas a sorte acabou lhe mandando novamente para a Lapa, no ano de 2018, onde ele, mesmo continuando a ser morador de rua e viciado, conseguiu ser resgatado. Quando na Lapa, durante dois anos, viveu perambulando pela Praça General Carneiro, pelo semáforo da Rodoviária, dormindo muitas vezes no pátio do Sicredi ou mesmo nos cantinhos externos da Farmácia Nissei. Joel conta que, aqui na Lapa, depois de quase quatro décadas como morador de rua, foi onde primeiro começou a sentir-se como um ser humano novamente. As pessoas paravam para conversar com ele, ajuda-lo, ouvir seus causos, e aí, segundo ele, notou que o amor desses amigos temporários estava lhe dando força para voltar a viver como um ser humano completo.

OS FILHOS E A REDENÇÃO

Pai de dois filhos que nunca conviveram direito com ele, Joel conta que a salvação e recuperação de seu vício aconteceu no ano de 2020, quando seu filho o encontrou ‘jogado’ próximo ao centro da cidade da Lapa e deu uma descompostura, chamando a atenção para que ele desse mais valor à sua vida.

A partir deste dia foi morar junto com o filho e começou um lento processo de reaprendizado e ressignificação dos principais valores e sentido da vida. Reaprendeu o valor de uma família, o valor do amor próprio e seu talento musical. A partir daí, junto com seu filho, começou a trabalhar com animação de festas no interior do município e hoje é conhecido como Joelzinho dos Teclados.

NOVA VIDA

Em seu relato à reportagem, muita emoção e consciência de seus erros foram notados. Joel sabe que viveu todo este tempo em situação precária devido às suas próprias escolhas, advindas de uma criação dura e penosa, mas que não justifica seu caminho. Ele conta que ao escolher o caminho mais fácil e prazeroso durante o início de sua juventude ficou preso numa teia de dependência e falta de amor próprio. Nada, segundo ele, era mais importante que a próxima dose de álcool ou a próxima pedra de crack, nem filhos, nem família, nem a própria situação deficitária. A droga leva tudo, finaliza ele.

MAIS AMOR

Enxergar as pessoas em situação delicada como sendo indivíduos com capacidade de amar, interagir e merecedores de atenção é um dos principais pontos para retirá-los da situação em que se encontram. Joelzinho dos Teclados é grato aos muitos amigos que fez na Lapa, nos anos que passou nas ruas, pessoas que olharam para ele como um ser humano e o ajudaram a sair do fundo do poço. “O amor é a principal arma contra o vício”, finaliza ele.

SHOWS

Para contratar os shows do Joelzinho do Teclado é só entrar em contato com o (41) 9.9978.3491. O repertório é muito animado e a festa é garantida.

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