Jesus Cristo, por amor da nossa salvação, adverte: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós em roupagem de ovelha, mas por dentro são lobos vorazes” – Mateus 7.15.
Até aqui, em parte diretamente em parte por subentendido, eu descrevi o que são as ‘roupagens de ovelha’, as quais deixam as pessoas boquiabertas, sempre de novo, em todos os tempos, lugares, épocas. No entanto, que são eles por dentro e no fundo? Nada mais, diz Cristo, do que lobos vorazes. A intenção malíflua deles é, de propósito, destruir e dilacerar as almas com sua bela aparência da doutrina e da vida religiosa e piedosa de própria inventiva, não exteriormente, como o fazem tiranos e perseguidores, que destroem corpo e bens; e também, não como os pregadores que pregam publicamente contra os autênticos cristólogos, e que condenam a doutrina pura, etc.; e, sim, interiormente, para arrancar, ardilosamente, o tesouro dos corações piedosos, que se tornaram, pelo Espírito, o trono de Deus ou Seu reino e Sua morada. Isto significa: toda a sua maldade, que tanto enfeitam com a doutrina e a vida, vai no sentido de ‘rasgar’ a fé e o artigo principal a respeito de Cristo. Não é só gente piedosa reclusa e separada das semelhantes, mas também no chão da vida sempre houve e há ‘piedosos de própria inventiva’, que muito usam o nome de crente exteriormente e que se reportam aos verdadeiros cristológos, como gente réproba que não têm o Evangelho, a Palavra, a pregação. Mas, logo, ao modo da carne e do sangue, levantam a acusação de que não há frutos, dizem eles. E, justamente, com a expressão “não há frutos” desviam o povo da fé em Jesus Cristo, suficiente e necessária, para justiça das obras. E assim acabam com o artigo capital, que é a fé em Cristo, e nos levam, enquanto cegados, a olhar somente para os frutos. Se estes estão presentes, dizem, então seria o Evangelho correto, e vice-versa. Toda a doutrina e vida piedosa de própria inventiva consistem unicamente nisso: pegar-se e provar sua fé com os frutos, não ter nada próprio, abandonar tudo, etc. Portanto, a tentação da justificação pelas obras também está presente e reina nos corações de pessoas que se vestem, comem, bebem o que todas as pessoas vestem, comem, bebem. E isto porque recaem novamente nas obras e põem nelas sua confiança, como se pudessem salvar-se por meio delas. Fato é que precisamos aprender a voltar-nos muito a Jesus Cristo, de fato, pela fé. E assim nos examinar, corrigir e abandonar tudo o que se chama egoísmo, também sob o manto da mais profunda piedade. Porque Deus não nos chamou à existência para fazer grau diante das pessoas, antes, para, onde quer que estivermos, no chão da vida, ser um Cristo para a pessoa próxima, com tudo o que temos e somos, sem jamais intuir boas obras meritórias.
E o pior de tudo, sempre de novo presente na história mundial, é que a gente piedosa segundo a sua própria inventiva não ensinam os verdadeiros frutos que o Evangelho de Jesus Cristo ensina e exige segundo a fé, e, sim, o que eles mesmos sonham e excogitam. Nada dizem como cada qual deve cumprir correta e fielmente seu dever inerente a seu estado e permanecer nele. E assim fazem justamente o contrário: afastam as pessoas destes estados divinos, ensinam-nas a abandoná-los e a fugir deles como algo mundano e a começar algo mais especial: exibir uma cara azeda, levar uma vida ascética, não comer, não beber nem vestir-se como as outras pessoas, deixar-se torturar e matar espontânea e desnecessariamente em nome de uma suposta fé que tornaria a pessoa uma filha de Deus mais distinta e proeminente no céu. Do contrário, dizem os mestres e pregadores das obras, o Evangelho não produz frutos em ti e ainda não és cristão verdadeiro, ainda que creias há muito tempo, etc.
Vale lembrar e se conscientizar: há quem tenta enfeitar com seus sonhos a Escritura e com frases do Evangelho uma vida piedosa autoinovada, embora Cristo jamais tivesse ensinado ou ordenado, nem com palavras nem com o exemplo, que se deve fugir das pessoas, abandonar tudo, não possuir nada próprio, a não ser quando se é confrontado com a alternativa entre abandonar tudo ou abandonar sua Palavra.
P. Airton Hermann Loeve.