A Cidade Carinho e seus símbolos

Nos idos dos anos 80 o já falecido jornalista Aramis Gorniski, meu pai, tinha uma pequena marcenaria onde trabalhavam menores de idade em situação de risco social. Destes aproximadamente vinte meninos, apenas um não teve sucesso em sua vida posterior, já os outros são empresários ou empregados em ótimos trabalhos.  Hoje isso não seria possível, pois os jovens de 11 a 14 anos não podem trabalhar, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente. Tirando este fato, voltamos à história.

Nesta marcenaria, que era gerida por meu pai, com os lucros distribuídos igualitariamente entre os adolescentes, se fabricavam caminhõezinhos de madeira, nos quais era estampada a frase: “Lapa – Cidade Carinho”. Não sei quem criou este apelido para a Lapa, mas posso dizer que é uma das melhores definições que temos.

A Lapa, apenas por sua arquitetura e belezas naturais, já é uma cidade gostosa de se visitar, somando-se a isso nosso povo acolhedor, podemos afirmar que, sim, somos a Cidade Carinho.

Este preâmbulo todo é para mostrar ao leitor que o que define a comunidade não está representado em seus símbolos. Afinal, ninguém vem à Lapa para ver maragatos e pica-paus, e sim vem visitar as belezas da arquitetura de época, preservadas, reformadas e, graças ao falecido prefeito Sérgio Leoni, tombadas pelo patrimônio histórico. Os turistas vêm passear na avenida, comer coxinha de farofa, escutar histórias dos tropeiros, e, claro, também passam e conhecem os museus alusivos ao Cerco da Lapa. As delícias culinárias, como a comida típica lapeana, servida no Lipski, ou aquela costela especial servida no Costelão do Mickey, estes sim são os atrativos que movimentam centenas de turistas todos os anos. A visita ao cenário histórico é uma volta ao passado, mas a um passado singelo e saudosista, onde todos sentavam em frente às suas casas para tomar um mate amargo.

O Cerco da Lapa, na minha opinião, foi um momento de desespero do governo federal que escolheu a nossa pequena cidade como forte para defender dos federalistas que vinham subindo e, provavelmente, chegariam ao Rio de Janeiro. Depois da destruição de grande parte da cidade, os recursos que aqui chegaram para reconstrução ficaram nas mãos dos coronéis. Mais um motivo para saudarmos nosso colono, comerciante, empresário ou dona-de-casa, que, sem apoio federal, uniram esforços para a reconstrução da cidade.

Nossos cidadãos comuns, decerto não nutriam carinho pelo episódio da luta armada. Todos os “antigos” faziam o sinal da cruz ao falar sobre a violência e maldades aqui praticadas.

E nós estamos limitados a louvar este momento de violência, hoje, com nossos símbolos.

Dá o que pensar né?

 

 

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Aramis José Gorniski


Entre em contato com Aramis José Gorniski: aramizinho@gmail.com