Esta semana, numa daquelas rodas de bate-papo comuns em tempos de política, um dos meus interlocutores afirmou que achava que a política tinha mudado.
Ao ouvir essa frase fiquei pensando sobre o assunto. É verdade que temos no Brasil um movimento maior de cidadãos procurando saber, conhecer, opinar e movimentar a política nacional. Mal ou bem a polarização política acendeu os ânimos de muitas pessoas que estavam quietas no seu canto.
Hoje vemos muita gente sabendo das coisas, procurando notícias, informando e opinando sobre os cenários políticos os mais variados, mas aí fiquei a pensar e concluí que, sim, a política mudou, mas o eleitor não mudou.
Essa conclusão é um tanto confusa, mas me deixe molhar o bico e explicar. Se você tiver um grupo de pessoas reunidas e fizer uma proposta indecente para elas através de um discurso, a grande maioria, se não a totalidade, naquele momento vai se manifestar contrária. É como um efeito manada. Ninguém quer ser menos consciente que o vizinho e, portanto, todos serão contra falcatruas. Porém, ao pensar no eleitor individual, aquele cidadão simples, ou melhor, o brasileiro médio, a coisa muda de figura.
O eleitor é um cara manhoso, que não gosta de se expor, não conta o seu voto, mas gosta de ter algum privilégio ou influência. Em cidades pequenas como a nossa é assim. O cara pode até falar que sonha com a mudança na política, mas na hora do voto ele vai depositar a sua escolha naquele candidato a vereador com o qual ele se sente prestigiado.
Você duvida, leitor? Só precisamos lembrar que existem políticos que se eternizam nos mandatos apenas mandando abraços e fazendo uso de meios de comunicação para aparecer. O cara que é lembrado e recebe o abraço se sente importante e isso atrapalha o seu senso de discernimento. Mas ele acredita que é especial porque o tal vereador lembra dele.
Isso também serve para aqueles eleitores que gostam de levar vantagens sobre os outros, seja no sistema de saúde, seja no recebimento de um caminhão de terra, seja apenas recebendo atenção daquela tão importante “otoridade”. Quanto mais o político me faz pensar que eu sou parte do seu círculo íntimo de amizades, mais eu paro de pensar em projetos e ações para o bem comum.
A música dos Titãs pergunta: “O que você faz quando ninguém te vê fazendo?” serve aqui. Ninguém sabe de verdade o que passa pela nossa cabeça, às vezes nem nós mesmos sabemos. Mas nos nossos pensamentos mais pessoais, gostamos de ser valorizados e não damos a menor importância para os problemas dos outros. É um egoísmo inconsciente, mas existe. Quando todo mundo está olhando, seja nas rodas de bate-papo, trabalho, escola ou redes sociais, sofremos do filtro da opinião dos outros. Aí todos somos contra as coisas erradas, apoiamos as mais diversas causas sociais e opinamos com todas as nossas forças. É o mesmo caso do grupo de pessoas recebendo uma proposta indecente. Eu, pessoalmente, até posso ver vantagem na proposta, mas como estou num grupo, tenho que seguir as normas sociais que regem a sociedade. Mesmo contrariado, querendo levar vantagem, em público vou me posicionar como um cara íntegro e honesto, incapaz de me sujeitar a falcatruas.
Quando o eleitor está na cabine de votação, ele está sozinho e os ‘diabinhos’ da consciência estão bem ativos. E como ninguém vai saber em quem ele depositou seu voto, ele é livre para continuar elegendo aquele cara que faz-de-conta que é amigo.
Posso estar muito errado, mas a minha conclusão é que a Política Mudou, mas o Eleitor Não.