Lá no início dos anos 2000 as transmissões da TV aberta começaram a ficar cada vez menos interessantes para mim. Lembro que assistia bastante a Globo e um pouco do SBT. Tinha meus programas favoritos, principalmente na Globo, como novelas, Globo Repórter, Fantástico, Globo Rural, Jornal Nacional, e claro, os filmes que atraíam bastante.
O interesse começou a cair primeiro com os filmes. Cada vez menos interessantes, e as vezes empurrados para horários que eu – devido ao trabalho – não tinha condições de acompanhar. As locadoras de vídeo lucraram muito comigo nesta fase.
Depois comecei a perceber que as novelas eram sempre releituras de duas histórias básicas – pelo menos a novela das oito. Um era o cenário no nordeste extremamente estereotipado, com beatas, vigários, gente pobre e sofrida, liderança municipal míope, e claro, o mocinho ou mocinha progressista, que queria trazer progresso e ia contra tudo que tinha de errado no local. O outro enredo envolvia sempre um mocinho ou mocinha sofredor enfrentando desafios em grandes centros como Rio e São Paulo, contra alguém rico, influente e mau, e tendo apoio da galera do morro, pobre mas honesta e boazinha. Estereótipos para todos os lados. Acho que decidi parar com novelas lá por 2003, e confesso que não me fez mais falta nenhuma.
Globo Repórter foi um pouco depois. Uma sequência de programas sem embasamento nenhum, até chegar ao cúmulo de um programa – nunca me esqueço disso – em que defendiam o uso do “suco de clorofila” para vários males à saúde. Quem atestava os benefícios era uma socióloga. Sim… nem nutricionista, nem médica, mas uma socióloga. Não lembro o ano, mas acredito que foi antes de 2005, também parei de assistir esta atração global.
Aos poucos fui cada vez mais me decepcionando com os programas. O último que parei de assistir – ainda em 2018 – foi Globo Rural, que não sai mais da Serra da Cantareira, e acabou ficando enjoativo.
Mas ao mesmo tempo que parava de assistir TV aberta, comecei a procurar outras opções, é claro. E felizmente tivemos o “boom” da internet neste mesmo período. Ainda costumo assistir ao jornal da Band, e vez por outra o Jornal Nacional, mas é só. Notícias e entretenimento estão basicamente no Youtube e Netflix.
Mas o que achei interessante, e que me fez escreve aqui, é que lá em 2004, 2005, quando alguém iniciava conversa sempre tinha alguma menção a polêmicas iniciadas por novelas ou até pelo último episódio do BBB. Como eu não assistia mais estas “atrações” acabava mudando de assunto, e não foi uma nem duas vezes que fui tratado como um “ET”. Mas realmente eu não conseguia mais me interessar pelas velhas histórias novelísticas remastigadas.
Esta semana, em um grupo de conversa, percebi que todos falavam sobre suas séries preferidas, um recomendando ao outro o que assistir. E aí caiu a ficha: ninguém – e aqui repito: NINGUÉM – daquele grupo estava mais assistindo as atrações da Globo.
E nisso caiu a ficha: a mudança é já uma realidade palpável. A quinze anos, era raro encontrar alguém que não acompanhava, ainda que de forma parcial, alguma das novelas globais. Hoje o grupo noveleiro está cada vez menor, a ponto de em determinados grupos várias pessoas não conhecerem nem mesmo o nome da novela em exibição.
Para um país que na década de 80 parava para assistir o último capítulo de todas as novelas, que chegou a ter discussões acaloradas sobre “quem matou Odete Hoitman”, isso é uma mudança brutal, e altera um paradigma que dizia que a Globo que mandava no Brasil. E nisto, a empresa mais influente no cenário político e social brasileiro em toda a segunda metade do século vinte começa a cair. Se isto é bom ou mau, teremos que esperar alguns anos para confirmar, mas dado o caráter democrático de plataformas como Youtube, acho que estamos no lucro.