“Vós sois o sal da terra; se, porém, o sal se tornar insípido, com que se há de salgar? Doravante, para nada serve a não ser que seja jogado fora, para que seja pisado pelas pessoas” – Mateus 5.13. O que significa e quem salga, de verdade?
O que significa salgar é fácil de entender, a saber, que nos apresentemos dizendo: ‘Tudo que é nascido e vive na terra para nada serve, é pobre e corrompido perante Deus’, fora da justificação por graça mediante a fé em Jesus Cristo. Porque Cristo diz palavras secas e claras que devem ser sal da terra, isto é, de tudo que o mundo é, haverá de seguir-se que tudo que existe no mundo e que se chama carne ou ser humano deve ser punido e salgado. E, isto significa: Condenar a santidade, sabedoria, culto auto justificado no mundo inteiro; bem como a regra e norma de vida e fé inventada pela palavra humana. Somente a Palavra de Deus, como sendo distinta da do diabo cujo lugar é no abismo do inferno, se não se ativer unicamente em Cristo, não há como salgar ao modo dEle. Portanto, isso é uma pregação desagradável à carne, ao diabo e ao mundo. Jesus Cristo e Seus discípulos, de verdade, se tornaram incômodos para o mundo e lhes acarretou inimizade e um ‘tapa’ na boca.
Ora, o mundo suporta, perfeitamente, que se pregue corretamente sobre Cristo e todos os artigos de fé. Se, porém, quisermos tocar nele e salgá-lo, mostrando que sua sabedoria e santidade de nada valem com vistas à sua justificação, pelo contrário, são cegas e condenadas, isso ele não pode nem quer tolerar, e acusa os pregadores de nada saberem fazer do que recriminar e morder, e que isso nada mais é do que alvorotar o mundo e disseminar a discórdia, injuriar os estados espirituais e as boas obras. No entanto, o que nós, que temos o Evangelho colocado em curso na nossa vida pelo Espírito Santo, podemos fazer? Se quisermos salgar, isso haverá de arder. E ainda que nos acusem de sermos mordazes, sabemos que tem que ser assim e que Cristo o ordenou e quer que o sal seja causticante e que seja ardente, como ainda leremos mais adiante, em nosso benefício. Também o apóstolo Paulo denuncia, constantemente, o mundo inteiro e ataca tudo que ele elogia e faz, onde não existe a fé em Jesus Cristo – a que é dádiva do Espírito Santo mediante a pregação da fé. E Cristo diz em João 16.8: “Quando vier o Espírito Santo, ele haverá de denunciar o mundo”, etc., isto é, Ele haverá de atacar tudo o que encontra no mundo, sem exceção nem distinção, não repreenderá uns e elogiará outros, ou castigará somente ladrões e patifes. Ele reunirá tudo num só monte, tanto um quanto o outro, seja grande, pequeno, piedoso, sábio, santo ou como quer que seja, em uma só palavra, tudo que não é Cristo, nem sequer o promove ou para Ele aponta. Pois o Espírito Santo não virá nem enviará pregadores ao mundo para denunciar e castigar pecados grosseiros exteriores, adultério, assassinato, etc., que o mundo conhece e pode punir, e, sim, as coisas que o mundo considera o mais precioso e que apresenta de melhor: A sua piedade e santidade auto inovada e auto justificada, com as quais quer servir a Deus, sem fé em Cristo.
Daí você vê o quanto depende disso e que Cristo não o coloca aqui por acaso antes de qualquer outra coisa e o recomenda com tanta insistência. Porque sem isso a cristandade não pode subsistir, e Cristo não pode permanecer, nem pode haver verdadeira compreensão e vida, de modo que não há maior prejuízo e ruína para a cristandade do que quando o sal, com o qual se deve temperar e salgar todas as outras coisas, se torna insípido. E isso acontece muito depressa, pois é um veneno de gosto doce e que agrada o velho Adão e a velha Eva.