Divagando sobre a falta da regra de três

Há alguns dias um jovem com seus 15, talvez 16 anos postou algumas coisas no facebook falando sobre política. Tudo bem, é direito comum a todos que se manifestem da forma que bem entenderem.

Mas daí comecei a analisar o ensino atual em comparação com antigamente. A educação brasileira vem decaindo ano a ano desde a década de setenta. Eu fui educado ainda no princípio da decadência, e posso afirmar que a geração anterior, a do meu pai, tinha muito mais conteúdo que a minha.

Disciplinas como português e matemática eram vistas como base para fornecer ao aluno uma compreensão mínima do mundo, de forma que qualquer outra falha na educação poderia ser suprida com compreensão de textos e raciocínio lógico.

Outras disciplinas são importantes? Claro que são. Mas estas duas – português e matemática – são a base de todas as outras, pois sem entendê-las o indivíduo não sabe compreender textos de história, geografia, sociologia, filosofia, e também não entende as nuances de disciplinas como física, química, geografia e até em certa medida, de biologia. Na vida, português é indispensável e o mínimo de matemática para entender sobre finanças pessoais, financiamentos, juros, etc, também é fundamental.

Uma vez fui informado que a meta de ensino de matemática, na década de setenta, era que o aluno saísse do ensino médio sabendo calcular integrais e derivadas. Na minha época, no final dos anos 80/90 com o ensino já em decadência, só fui aprender isso na universidade, pois a meta era mais modesta: saber matrizes, logaritmos, funções…

Tenho a impressão que a meta hoje é saber a regra de três. Sim… o básico da velha e simples regra de três. Digo isso porque já tem universidade por aí que criou aula especial de matemática básica para tentar melhorar o nível de seus alunos, e por incrível que pareça, cálculos como percentual, equações de primeiro e segundo grau, além de matrizes logaritmos e funções entram nesta disciplina, coisa que em teoria, os alunos deveriam saber ainda no primeiro e segundo grau.

Tenho exemplos de alguns alunos que estão terminando o segundo grau e não conseguem entender uma conta simples de regra de três. Não sou professor de português, mas percebo reclamações similares de professores desta disciplina. Falta o básico.

Temos, portanto, uma geração onde uns poucos alunos – muito poucos – realmente tem a compreensão mínima que se tinha a algumas décadas. A imensa maioria é o que podemos chamar de analfabetos funcionais.

Ok, mas é o que isso tudo tem a ver com política, mencionada no primeiro parágrafo?

Simples. É esta imensa massa de analfabetos funcionais que está discutindo política hoje. Gostaria de poder dizer que são todos apoiadores de um ou de outro lado da política – seria muito fácil – mas não. Temos muitos analfabetos funcionais na esquerda, e muitos também na direita. E esse povo todo, se ainda não vota, vai votar. E sim, tem e terá grande peso na política. Será que o jovem que citei no começo realmente sabia o que estava postando?

Isso que eu acho preocupante, pois eles – os analfabetos funcionais – não tem condições de entender o funcionamento da máquina estatal e da sociedade, e frequentemente só repetem coisas que ouviram falar de alguém com mais influência. “Sempre foi assim!”, o leitor poderá declarar. E é verdade.

Cada estado e município tem um valor que gasta com educação, mas o valor mínimo encontrado no Brasil é de R$ 25 mil para formar cada aluno do pré primário ao segundo grau, podendo chegar a R$ 60 mil em alguns estados. E esse dinheiro todo serve para que, afinal de contas?

A situação é grave, sim. E o que mais dá medo é que está sobrando justamente para os analfabetos funcionais pensarem e alterarem esta realidade, pois não vejo a minha geração nem a anterior tendo poderes para fazer algo.

 

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