O casamento entre pessoas de mesmo sexo já é uma possibilidade prevista em lei no Brasil a alguns anos, e quando foi aprovado gerou menos repercussão do que se previa. Pouca gente foi contra, e o motivo principal é bastante lógico: ele só causa impacto real aos envolvidos, ou seja, o casal homossexual. Portanto, a maioria da população tem aquela típica opinião: “não me causa problemas, e se pode ajudar alguém, então por quê não?”.
E realmente, como disse, o que seria uma “polêmica” nacional, acabou sendo aceito pela maioria, dificultando até um pouco a narrativa de que o Brasil é um país homofóbico. Mas o foco aqui é justamente o argumento, e não a causa em si. A causa foi aceita porque só afetava os envolvidos, para bem ou para o mal. Ponto final.
A alguns anos uma discussão se forma em nossa sociedade, mas não de forma muito difundida – justamente por afetar apenas um grupo pequeno de pessoas: o chamado “homeschooling”.
Trata-se de uma prática já existente em outros países, onde por motivos pessoais alguns pais optam por ensinar seus filhos em casa, e não enviá-los a uma escola regulamentada. Claro, existem regras. Mesmo estudando em casa, as crianças passam por exames para atestar seu nível de conhecimento, e assim se merecerem, recebem os diplomas de primeiro e segundo grau. E se as crianças educadas em casa não atingirem níveis mínimos de conhecimento, a família é obrigada a enviá-las para o ensino regular.
Mas o ensino em casa é para qualquer família? Não. É necessária a orientação constante de um tutor ou professor, que pode ser contratado exclusivamente para as crianças daquela família, ou até mesmo ser um dos pais. Então a família que quiser praticar este tipo de ensino terá que desembolsar valores altos, ou até deixar de ter a renda do pai ou da mãe da família. Não só isso: o ensino terá que ter um padrão mínimo, então a coisa não será MESMO para qualquer um.
Na verdade, caberia até uma reflexão: se a criança ensinada em casa não aprender o mínimo, terá que ir para o ensino regular. Mas e a criança do ensino regular que não aprenda o mínimo, vai para onde? Mas isso é outra discussão.
O que quero frisar é que a aprovação e regulamentação do “homeschooling” no Brasil também só afetará algumas famílias bastante específicas, e para todo o restante, será totalmente indiferente. Desta forma, em teoria deveria receber o mesmo apoio – ou se preferirem, a mesma indiferença – que o casamento entre pessoas do mesmo sexo causou.
Mas o interessante é que o mesmo grupo que a alguns anos brigava pela aprovação daquela causa, hoje é contra a aprovação desta causa. E claro, a população em geral está pouco se importando com isso, afinal, o ensino em casa não os afetará, e se pode ajudar alguém, então, por quê ser contra?
O pior é que nas duas causas existiam e existem contra argumentos estapafúrdios. O casamento gay iria destruir a família brasileira. Era anti natural. É contra o que diz a Bíblia… E por aí vai: argumentos que merecem sim ir para o lixo da história.
No caso do ensino em casa, de que irá esvaziar as escolas (como se toda família fosse optar por tirar os filhos da escola). Que irá tirar a obrigação do Estado de prover educação (acho que nem precisa discutir). Que o aluno não aprenderia a se socializar (como se apenas o ambiente escolar proporcionasse socialização). E vários outros argumentos que também devem ser em breve destinados ao lixo da história.
Ok. Mas e o que isso tem a ver conosco, cidadãos normais? É que existem vários “especialistas” pagos com dinheiro dos nossos impostos que deveriam em teoria se focar na melhoria do ensino público, e ao invés disso, desviam suas carreiras a atacar o “homeschooling”. Também o ataque ao ensino em casa está sendo usado como forma de ridicularização pública ao novo governo, que se dispôs a regulamentar a prática. Então não precisamos entender em profundidade do tema, mas é interessante ficarmos alertas e tomar cuidado para o que é e será divulgado nas grandes mídias.