Jornal Nacional e os Presidenciáveis

Meus primeiros contatos com política foram na eleição de 1989. Na época eu tinha apenas 11 anos, mas como meu pai participava ativamente do Partido Liberal e fazia campanha declarada para Guilherme Afif Domingos, eu acabava absorvendo muito sobre o tema. Ajudava que na época a população vivia o tema, pois eram as primeiras eleições diretas em décadas, e todos os grupos ideológicos estavam representados.
Quase 30 anos passados, a situação tem suas similaridades, mas o quadro geral é bem pior. Em 89 você via candidatos falando de propostas criveis para implantação no Brasil. Percebia diferenças de projetos e metodologias. E também tínhamos jornalistas de alto gabarito que durante debates e entrevistas iam a fundo nestas questões. O que temos hoje, exemplificado pelas entrevistas do Jornal Nacional desta semana é uma deterioração de todo o quadro nacional. E não falo só dos políticos. Falo dos jornalistas também.
Apesar da internet estar cada vez mais importante no dia a dia do brasileiro, muitos ainda tem sua principal fonte de informação na TV, e nesta, apesar de seu histórico de manipulação de informações, o jornal mais assistido é o Jornal Nacional.
Portanto nesta semana deveríamos ter tido uma espécie de “baile de debutantes” no cenário político presidencial, onde vários candidatos ficariam realmente conhecidos da sociedade em geral – o povão mesmo. Esperava-se, diante da importância do fato, que houvessem questionamentos mais inteligentes e produtivos por parte dos jornalistas. Não houve.
Não tive a oportunidade de ver a entrevista do Ciro Gomes, apenas de Bolsonaro e Alkimin. Escrevo na quinta feira, então também não assisti a da Marina, que deverá ocorrer hoje.
Mas baseando-se nas duas entrevistas que assisti, temos sim um grande perdedor: o público. No caso do Bolsonaro, apenas vi mais do mesmo, com uma série de “perguntas/ataques” sobre posições do candidato, as quais todo mundo já conhece. Mas do programa de governo dele, quase nada se falou. No caso do Alkmin, uma entrevista morna e sem atrativos, onde também deixaram o candidato falar o que sempre falou. Pouca coisa de seu programa de governo. A maior repercussão até o momento, é claro, foi a de Bolsonaro, justamente por abordar temas polêmicos, e pelas análises que vi na internet, parece foi o mais beneficiado até o momento em termos de agregação de novos eleitores – não estou aqui falando que ele é bom ou ruim, apenas que os primeiros indícios dão conta que ele se beneficiou da discussão improdutiva que teve com a ancora do jornal e das indiretas bem diretas que jogou sobre o jornalista e a emissora.
E o declínio da imprensa não fica apenas no Jornal Nacional. O programa Roda Viva, um baluarte de informações desde que eu me conheço por gente, virou uma versão melhorada de um botequim de esquina.
Felizmente temos muito material bom surgindo na internet, e se depender de recomendação minha, ninguém mais deveria sintonizar os jornais televisivos. Claro, muita gente gosta dos formatos, e eu mesmo tenho uma certa “nostalgia” em assistir esses programas com a família, mas hoje, eles mais desinformam que informam.

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