Vergonha nacional

A exemplo de outros casos bastante explorados pela mídia, na última semana tivemos o lamentável incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Não acho que seja o momento de discutir culpados e inocentes, nem mesmo se o museu cumpria ou não sua função. Isso depende muito de investigação e qualquer comentário neste sentido, neste momento, pode estar extremamente errado. E convenhamos, apenas os envolvidos na administração do museu e o círculo profissional mais próximo destas pessoas podem realmente saber o que acontecia lá. Temos que aguardar – e talvez nunca tenhamos respostas assertivas.
O que eu quero focar é na repercussão que tivemos. E nisso acho que devemos ter ainda mais vergonha como País do que a perda irreparável pelo fogo (apesar de isso ser muito lamentável).
Um dos comentários que mais repercutiu nas redes sociais foi o de um cidadão comemorando o incêndio, e justificando a comemoração pelo fato do prédio ter sido da família Imperial e ali existirem muitas relíquias que relembram o período imperial brasileiro. Segundo ele, essa parte da nossa história deveria ser apagada pela existência da escravidão, e relaciona escravidão à monarquia.
Neste ponto você fica imaginando se vale a pena gastar dinheiro com um museu, afinal, o objetivo de termos estas instituições é promover a cultura do povo, mas com comentários como o deste cidadão percebe-se que matérias como história (onde se descobre que o primeiro e segundo reinado foram responsáveis pela abolição, e que a república foi fundada por escravagistas) e filosofia (onde deveria se aprender o conceito de moralidade) foram ambas ensinadas de forma bastante falha, pelo menos para este cidadão. E quantos será que ele representa?
No mesmo momento, vemos vários políticos tentando crescer sobre as cinzas do museu. E isso de todos os lados. Uns culpando o corte de verbas do Governo Temer, mas esquecendo que a quebradeira atual é culpa de 13 anos de governo petista. Outros culpando uma pretensa politica ‘neoliberal’, o que é meio estranho, pois não teve nada de liberal e muito menos neoliberal na gestão do museu. Ainda o povo culpando o reitor da UFRJ, que aparentemente recebeu dinheiro para restauração, mas o dinheiro se perdeu nas contas da universidade – o que até pode ter acontecido, mas ninguém ainda sabe os pormenores, portanto pode ser uma grande mentira, ou ainda, apenas uma verdade parcial. Teve os loucos que culparam os bombeiros – justo os bombeiros!!!
E nisso acho que entra outro grande motivo de vergonha para todos nós, pois as nossas lideranças não estão preocupadas com o que efetivamente se perdeu ou até com as maneiras de recuperar isso tudo. A preocupação é achar alguém em quem colocar a culpa, para “pagar de bonzinho”.
Será que é esse Brasil de analfabetos culturais e aproveitadores que queremos? Creio que casos como este servem bastante bem para analisarmos o patamar moral que estamos como nação – e no nosso caso, perceber o quanto nós brasileiros temos que melhorar.

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