Esta semana abri o último pacote de Erva Legendária que tinha em meu estoque. Lógico, não pude deixar de perceber o momento nostálgico, e algumas memórias quanto à erva, e claro, minha juventude.
Quando criança não gostava de chimarrão. Coisa amarga… não queria. Sempre via meu pai tomando, diariamente, mas eu não gostava muito. Mas em 1997, quando ele teve o primeiro episódio de ir para uma UTI, alguém precisava assumir o lugar dele no jornal, pois o meu irmão, o Zinho, não daria conta da diagramação e mais a parte comercial. Como eu ainda não tinha entrado na faculdade – só fazia cursinho (sim, foi o ano do acidente com o ônibus da prefeitura), então fiquei com “a vaga”.
Logo chegou todo o povo que vinha trazer notícias e publicidades para o jornal, que na época funcionava na casa dos meus pais, e claro, meu pai já tinha criado uma rotina com esse povo de todo dia, após as 15 horas, sentarem-se à sombra de uma cássia que plantei ali em frente (que hoje sustenta a casinha da árvore dos netos e netas da vó Suzana).
Lógico, todo esse povo vinha para tomar um chimarrão com meu pai – chimarrão com Erva Legendária. E naquele ano aprendi a gostar da bebida. Logo ele se recuperou e eu fui para outras paragens – agora com uma companheira fiel: a Legendária.
Em todo lugar que fui, era uma companheira constante. Cinco anos na UFPR, e sempre em minha mochila uma cuia, bomba, um pacote da Legendária e uma garrafa térmica. Trabalhos “free lancer” após a faculdade? Sim, mas com a erva junto. Início da vida profissional, em SC e RS, claro, mas mesmo com o contato direto que eu tinha com várias ervateiras, devido à minha formação, sempre levava a Legendária junto. Cheguei a desafiar um amigo dono de uma ervateira lá em Catanduvas/SC a fazer uma erva igual. Ganhei a aposta e ele não conseguiu. Em Erechim acredito que conquistei um cliente para a Incomate, pois depois que um gaudério de lá experimentou a erva que levei, sempre que voltei a visitá-lo encontrava ele com um pacotinho vindo da Lapa. Como conseguia, não sei.
O meu período no nordeste foi uma fase meio “contrabandista”. Sim, pois todo mundo que ia do sul para lá, eu dava um jeito de que me levasse um pacote de Legendária, que eu tomava tranquilamente sob o ar-condicionado do escritório. Virei especialista em logística e raras vezes fiquei sem ela. Um fazendo um tour pelo Brasil a partir do Rio Grande do Sul me telefonou quando saiu de São Mateus do Sul, para me dar a notícia que ia passar pela Lapa. Não tive dúvidas: lá do Piauí cobrei o pedágio, e lá se foram alguns quilos da nossa erva cruzando as estradas do Brasil, até chegar em Teresina. Lucro para o Supermercado São José, ali perto do Parque Linear, que foi onde meu amigo comprou os pacotes.
Voltando à Lapa tudo ficou mais fácil. Bastava ir ali no mercadinho mais próximo. Até esta semana. Agora não tem mais como encontrar, e assim como eu, muitos acreditam que a Lapa perdeu um de seus maiores bens. A cada chimarrão, o pacote vai diminuindo e o aperto no peito vai aumentando. Já recebi várias recomendações de outras marcas de erva e até já experimentei umas três ou quatro. Parece que nem é chimarrão. Mas a roda do tempo sempre gira, e temos que nos adaptar ao que os novos tempos nos trazem.