Novamente sobre a uso da sala de aula como palanque político

No artigo da semana passada recebi algumas críticas, principalmente de professores que não aceitam a mudança que está ocorrendo quanto ao projeto Escola Sem Partido, e não entenderam ainda que o caso não é mais aceitar ou não, e sim adaptar-se à mudança que está vindo.

Neste fim de semana encontrei uma notícia sobre um professor de química aqui do Paraná que usou suas aulas para manifestar seu descontentamento com o presidente eleito na questão do programa Mais Médicos. Pelo que pude levantar, o professor parou com o conteúdo da aula e começou a discursar sobre o assunto. Uma das alunas manifestou seu descontentamento com “caretas”, e dai, considerando um desrespeito pessoal, o professor mandou a aluna para fora da sala.

Bem… eu já dei aulas de química para ensino médio, e posso afirmar que o conteúdo que é necessário repassar aos alunos é muito maior do que a carga horária que é destinada à disciplina permite. Então se o professor só se focar no conteúdo, ainda assim vai ter coisas que não serão abordadas. Isso é tão real que em várias graduações da UFPR onde é necessário um conhecimento básico de química, existe uma disciplina destinada a “nivelar” os alunos, ensinando-os o que deveriam ter aprendido no ensino médio. Resumindo, mesmo com o melhor professor do mundo, ainda faltaria tempo para passar todo o conteúdo.

Portanto fica a pergunta: como é que esse professor conseguiu abrir espaço em sua disciplina para falar de um assunto que nada tem a ver com a matéria? Fica claro que há algo errado nisto.

Claramente desviou-se do que deveria estar ensinando, e como ele está sendo pago para repassar um determinado conteúdo e não está fazendo, está no mínimo faltando com o respeito aos alunos, pais, e todos os que pagam impostos. Ah, sim! Era escola pública.

Neste ponto, estando ele totalmente fora de uma conduta profissional correta, transformou o espaço da sala de aula em local de bate papo, portanto, não deveria imaginar como ofensa qualquer manifestação contrária, e muito menos exigir que a aluna saísse da sala de aula.

E é aqui que quero mostrar como as ideias do escola sem partido já estão consolidadas: a aluna encaminhou-se à equipe pedagógica, lavrou ata do ocorrido, e está exigindo retratação pública do professor. Não só isso: como o caso repercutiu na mídia, existe uma pressão para que o professor seja punido pela Secretaria da Educação.

Em tempo, um professor só é realmente punido se cometer algum crime muito grave em sala de aula. Mas a secretaria pode instaurar um processo e no mínimo este professor terá muita dor de cabeça e perderá tempo se defendendo. Isso sem contar com um período de execração pública, que normalmente não dura muito tempo, mas é extremamente desagradável.

A conclusão disso é que não importa se o projeto escola sem partido está ou não aprovado. Nem se ele será ou não aprovado algum dia. O que importa é que ele já gerou uma onda fiscalizatória quanto à conduta dos professores, e reclamar disto não irá resolver. Na verdade, entra a máxima do “quem não deve não teme”. A grande maioria dos professores que conheço até se manifestam politicamente em sala de aula, mas não reprimem pensamentos contrários, nem exigem que suas ideias (que não estejam vinculadas ao conteúdo da aula) sejam consideradas como verdades absolutas. Portanto, não há o que temer.

Mas existem sim professores que fogem à regra – e aqui na Lapa temos alguns. Poucos, mas temos. Estes devem começar a tomar cuidado com a forma que utilizam o espaço da sala de aula, pois os próprios estudantes não estão mais aceitando comportamentos inadequados como o daquele professor de química.

Isto é o principal efeito do projeto escola sem partido, mesmo que ele não esteja oficialmente em vigor. Portanto, o projeto já é vitorioso: exigia efetivamente apenas que cada escola colocasse um cartaz em local visível, mostrando quais os direitos que pais e alunos já possuem. Não existe o cartaz, mas estes direitos já estão sendo plenamente divulgados, e aos poucos utilizados pela população.

 

 

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