O raciocínio longo e o raciocínio rápido

Não quis abordar este assunto durante a campanha presidencial para não parecer que estava defendendo ou atacando nenhum candidato, apesar de não esconder a ninguém minha preferência política. Tinha medo de gerar mais polêmicas intermináveis. Mas agora acredito que possamos abordá-lo sem problemas.

O que quero abordar é a diferença do que chamo pessoalmente de raciocínio longo, mas poderia ser também chamado de raciocínio lógico, e o raciocínio rápido, que também pode ser chamado de midiático.

O primeiro segue algumas premissas básicas de causa e consequência e serve para planejamentos de atividades. O segundo serve para atrair a atenção do público para aquela ideia, e nestas eleições foi utilizado por ambos os lados para vilipendiar o adversário e até produzir fake news.

Um exemplo foi o tema “13o salário”, comentado pelo vice presidente eleito. Ele é um liberal, assim como eu, e essa alteração é bem conhecida por todos. Mas ninguém propõe o fim do 13o, apenas uma mudança na sua aplicabilidade. Ainda, esta mudança é apenas teórica, pois da forma que está nossa constituição, não seria viável implantá-la.

Como funcionaria? Ai que entra o raciocínio lógico. Quando foi criado por Getúlio Vargas, o problema principal era que com a criação da PETROBRAS foi necessário contratar alguns técnicos de outros países, pois até então não tinhamos mão de obra especializada no Brasil. Mas ninguém queria vir para cá. O motivo era que na época, os países produtores de petróleo pagavam os seus funcionários por semana trabalhada, e em alguns casos, a cada quatro semanas. O salário pago no Brasil era equivalente ao de 4 semanas, mas pago mensalmente. Ocorre que o ano tem 52 semanas, e com isso, se recebermos a cada 4, teremos 13 salários. Recebendo mensalmente, temos 12 salários.

A solução – que acabou virando também uma medida eleitoreira – foi criar o 13o salário, que iria equivaler o valor anual ganho lá fora, com o valor anual ganho aqui no Brasil.

A proposta liberal é que alteremos o pagamento para ficar como funciona lá fora hoje – você tem um salário anual, que é pago em várias parcelas, de acordo com uma negociação entre o funcionário e o patrão e as características da atividade econômica. Assim, uma atividade que tem seu pico de lucro em abril, por exemplo, poderia gerar uma negociação que neste mês os funcionários recebem uma parcela maior de seu salário anual. Fica bom para o empreendedor, e também para o funcionário que não terá que aguardar até dezembro para receber um 13o, pois este pagamento já terá sido pago durante o ano.

Isso foi o que o General Mourão explicou em sua palestra, mas ele concluiu com uma frase como “E com isso, poderíamos acabar com o 13o da forma que conhecemos”. Não sei dizer se por não ter entendido o raciocínio, ou por ter chegado atrasado, ou ainda por ter a intenção de distorcer a informação, a manchete que o jornalista lançou no dia seguinte foi “General Mourão propõe acabar com o 13o salário”.

A manchete foi extremamente bem sucedida, pois manchetes tem a função de atrair os leitores e gerar debate, através de um raciocínio rápido e superficial sobre o tema, que da forma que foi lançada na mídia é realmente uma fake news.

Mas é justamente nesta diferença que gostaria que o leitor mantivesse o foco e não sobre se vale a pena ou não alterar o 13o, ou mantê-lo como está. A diferença sobre o raciocínio lógico sobre determinado tema, e o raciocínio para a manchete.

Frequentemente ficamos focados apenas nas manchetes, e elas são sempre tendenciosas. Por isso, antes de atacar ou defender algum ponto de vista, devemos tentar entender qual é o raciocínio por traz daquela proposição. Na maioria das vezes, uma ideia que parece absurda num primeiro momento, pode parecer bastante lógica e eficaz se analisada de forma mais lógica. Podemos citar vários exemplos: políticas afirmativas para grupos minoritários em geral, problemas educacionais, alternativas econômicas, propostas sociais… enfim, o leque é enorme.

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