A alguns dias estive em uma reunião na Prefeitura, e percebi que uma ideia está tornando-se consenso quanto ao desenvolvimento de nossa cidade, mas ela não chegou nem mesmo a ser discutida. A discussão seria: “para que lado a Lapa deve se expandir”?
O que está se formando e se aceitando é que a cidade só pode expandir no sentido do Marafigo, Passa Dois e Colônia Johanesdorf, regiões a norte e a oeste, com os argumentos que para o lado do Piripau (sul) temos muitas áreas de mananciais que abastecem boa parte da cidade. Já para o lado do Alto da Lapa e Colônia São Carlos (leste) o problema seria a escarpa devoniana, que além de dificuldades resultantes da APA ali implantada também geraria problemas na urbanização.
Num primeiro momento parece bastante claro e lógico esse desenvolvimento, pois para o norte e para o oeste temos caminho desimpedido e terreno relativamente plano, fácil de urbanizar. Mas existem sim algumas coisas a serem lembradas.
A primeira é existência das rodovias, que são consideradas auxiliares no desenvolvimento num primeiro momento, mas depois de o centro urbano desenvolver-se, tornam-se um estorvo para a população. Vejam Curitiba, por exemplo: seu crescimento se deveu, entre outras coisas, pelo entroncamento forçado de várias rodovias nacionais, mas depois de um tempo foi necessário criar todo um sistema de “contornos”. Toda cidade pequena enfrenta também problemas com uma rodovia passando em seu perímetro urbano – e as vezes, problemas graves. Se a Lapa crescer bastante “para o lado de lá” da rodovia do Xisto, teremos que pensar mais em atropelamentos, controle de veículos, sinalizações, etc, etc. Já até comentei aqui nesta coluna de um projeto, daqueles para elaborar e botar numa gaveta até que apareça vontade política. Esse projeto seria alterar o traçado da rodovia do Xisto, saindo ali no Feixo, seguindo pelo interior até encontrar com o Núcleo Leiteiro e dai emendando com a PR433, e de lá criar um traçado entre o Capão Bonito e a Pedra Alta, onde finalmente a rodovia retomaria seu curso. Não se enganem: se crescermos para norte e oeste, em algum momento será necessário uma alteração como essa – pode demorar 50, talvez 100 anos, mas será necessário.
Mas acho que a principal dificuldade que ninguém está percebendo é a existência de dois núcleos urbanos em nosso município, separados por um trecho relativamente pequeno de terreno, e que seria de interesse de todos que fossem unificados. Falo da cidade da Lapa em si, e do distrito de Mariental. Se crescermos para norte e oeste isolaremos cada vez mais nosso mais importante distrito e incentivaremos – com razão – a ideia de criação de novo município independente no local.
As dificuldades para se urbanizar a região entre Lapa e Mariental existem, como já falei, primeiro pela existência da APA. A boa notícia é que esta área de proteção ambiental está sendo revista, e talvez muito em breve essa região não seja mais parte de nenhuma unidade de conservação. A outra dificuldade é o relevo local, que apesar de ter bons pedaços planos, tem também muito declive. Quem conhece a Serra do Caracol sabe o que estou dizendo. Só que um terreno inclinado nunca foi e nunca será impeditivo para a construção civil e a urbanização – basta visitar a região do Vale do Rio do Peixe, em Santa Catarina, para perceber o que digo. Na verdade, existem pessoas que até preferem terrenos declivosos por se harmonizarem com construções com mais de um piso.
Colocando todos os prós e contras, do ponto de vista econômico dos proprietários de terras é uma questão duvidosa – cada um defenderá o que lhe for mais conveniente. Já do ponto de vista político e administrativo faria muito sentido a Prefeitura, como órgão público, incentivar o desenvolvimento para leste, unificando Lapa e Mariental.
Só que uma política definitiva definindo os zoneamentos para nossa cidade deveria – pelo menos em tese – surgir a partir de uma discussão mais ampla sobre o assunto, e não estamos vendo isto. A impressão que tenho é que estamos todos nos deixando levar, e poucos estão pensando realmente em como será nossa cidade no futuro.
