Nesta semana tivemos uma – ou mais uma – polêmica envolvendo declarações do presidente Bolsonaro. Agora é sobre se o Brasil preserva ou não suas florestas, e se somos ou não exemplo de alguma coisa. Resolvi escrever sobre isso para passar uma percepção não muito recente que tenho sobre estes estudos sobre desmatamento.
No início dos anos 2000 eu trabalhava lá no oeste de Santa Catarina, com fomento florestal para uma grande empresa papeleira. Isso me obrigava a visitar constantemente fazendas daquela região, e posso dizer que não há estrada rural entre Palmas e Concórdia, e entre Joaçaba e Xanxerê que eu não tenha percorrido.
Naquela época existia uma grande dificuldade ambiental. A cultura que impulsionava a região, o milho, estava a vários anos dando resultados econômicos pífios e até prejuízos (isso só mudou quando os americanos começaram a produzir etanol de milho, entre 2006 e 2010). Com isso, muitos agricultores foram para as cidades e no campo estavam ficando apenas os “nônos”, os avós, que por sua vez não tinham condições de tocar as propriedades. O efeito prático é que muitas áreas que foram de agricultura por mais de cem anos estavam sendo abandonadas, e daí é lógico que estes agricultores me procuravam para transformar estas áreas abandonadas em cultivos de pinus e eucalipto.
Mas a dificuldade ambiental era que a legislação ambiental era – e ainda é – tão restritiva, que algumas lavouras abandonadas a apenas três anos já tinham árvores de pequeno porte, que pela lei, fazia com que fossem consideradas florestas. Mata atlântica. Preservação total. Portanto, sem possibilidade de voltar a uso agrícola – legalmente. Claro que muitos agricultores simplesmente colocavam o trator na área e voltavam a plantar, mas eu, como representante de empresa bastante visada, não podia recomendar isto.
Não me recordo bem se foi 2004 ou 2005 que uma pesquisa elaborada por uma ONG ambientalista associada ao mesmo instituto que o presidente criticou, apontou Santa Catarina como o estado brasileiro que mais teve desmatamento. Como a notícia foi bastante divulgada e rendeu até um “Prêmio Motosserra” para o então governador, fui mais a fundo no assunto.
Descobri que a metodologia utilizada, não sei se por erro ou por má fé, estava considerando como desmatamento algumas destas áreas, que eram agricultura, ficaram um curto período sem uso, e que os colonos resolveram voltar a plantar milho (sem avisar autoridades). Vejam, as áreas já eram agricultura por mais de um século (na cidade de Irani algumas áreas tinham cultivo desde 1700), e aconteceu apenas um curto período onde esse cultivo foi interrompido. É correto considerar uma área desta como floresta que foi desmatada? Claro que não.
Mas o absurdo não para por aí. Existiam áreas que o cultivo não havia sido interrompido, e mesmo assim eram apontadas como desmatamento. Em outras situações, plantios de pinus que foram cortados e em seguida replantados, entraram como desmatamento. E não eram poucas. Lembro que inclusive a ACR – Associação Catarinense de Reflorestadoras, uma entidade bastante forte e atuante por lá, até buscou estudos que contestassem as informações sobre desmatamento. E sim, apareceu até tese de mestrado comprovando o erro dos índices de desmatamento, dizendo que mais de 60% das interpretações estavam erradas.
Não posso afirmar categoricamente que os dados de desmatamento para a Amazônia estão errados, mas sei que a metodologia para dizer quanto se desmata no Brasil não é nenhuma “Brastemp”. Vi isso na prática. Então quando alguém vem falar que o desmatamento aumentou ou diminuiu, costumo ter muitas ressalvas quanto a isso. Aliás, uma das afirmações feitas por Bolsonaro é verídica: se somássemos toda a área que foi tida como “desmatada” nos últimos 40 anos, não teríamos mais nenhuma árvore no Brasil – aliás, acho que já estaríamos derrubando floresta na Colômbia…