Professores e serviço de assistência social

Semana passada comentei sobre o impacto que alunos com famílias desestruturadas tem em sala de aula, tanto no seu desempenho quanto no dos colegas. No fim de semana, em um almoço em família alguém sugeriu que eu assistisse a novela “Malhação”, que aparentemente tem em seu enredo um professor – ou professora, não sei ao certo – que além de sua dedicação em sala de aula, ainda está se desdobrando em resolver os problemas familiares de seus alunos.
Já comentei aqui antes que penso serem raras as novelas da Globo que trazem ou trouxeram algo positivo para a sociedade. Aqui não é diferente. Primeiro, analisemos a função do professor: a rigor, esse profissional tem o dever de repassar conteúdo da sua disciplina específica, e avaliar se seus alunos atingiram um grau mínimo de entendimento da mesma. Ponto final. Neste ponto entram até aqueles que acham que deveríamos mudar termos como “Secretaria da Educação” para “Secretaria do Ensino”, pois a função estrita dos professores é ensinar, e não educar. Todo o preparo acadêmico e cursos de especialização ofertados aos professores tem foco de melhoria do ensino.
Mas então, o que é a tal “educação” e quem é responsável por ela? A educação é um conjunto de valores morais, sociais e éticos, que deve obrigatoriamente ser responsabilidade dos pais. Nenhum professor recebe nenhuma formação profissional nesse sentido, e mesmo que recebessem, estariam influenciando as crianças de forma que talvez não seja da concordância dos pais.
E quando os pais falham na educação, quem resolve? Para isso se criou toda uma estrutura estatal de assistência social, com profissionais na área, psicólogos, médicos, conselho tutelar e também varas justiçais específicas para isso.
Portanto, quando ocorre algum problema familiar, os professores podem até por uma questão de humanidade, auxiliar. Mas dado ao seu pouco treinamento na área, podem acabar mais prejudicando que ajudando. Por isso a importância de uma assistente social, treinada e graduada no assunto, intervir.
O grande problema é justamente que as pessoas em geral tomam uma ficção como “Malhação” por realidade, e passam a tratar professores que não tomam atitudes como a da novela como se fossem relapsos ou desumanos.
Na verdade, se um professor começar a focar na parte social, corre o risco de causar injustiças na sala de aula. Como? Simples. O professor tem que avaliar se determinado aluno está apto ou não em determinado tema. Simples assim. Mas a partir do momento que começa a interpretar a realidade do aluno, até por uma questão de humanidade, poderá começar a fazer concessões, e com isso aprovar alunos com aproveitamento inferior ao necessário. Ou ainda, estabelecer critérios próprios para determinados tipos de alunos, deixando sua avaliação mais criteriosa para uns, e mais “frouxa” para outros, de acordo com critérios totalmente subjetivos. Pior que isso, um professor como esse pode acabar focando mais no assistencialismo do que em prover aulas com conteúdo adequado.
Quando se fala em conselho tutelar e rede de assistência infantil, muita gente tem a concepção que o modelo hoje existente não funciona, e claro, tem vários motivos para acreditar nisso. Mas penso que a saída seria repensar o modelo, e não responsabilizar a escola e/ou os professores por algo que eles nem mesmo tem controle: o ambiente familiar.

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