Tenho saudades dos brindes

Época de eleição é um tempo estranho. É um momento onde gente que não conhecemos bem apresenta candidatos de quem nunca ouvimos falar, dizendo que vão melhorar coisas que nem sabíamos que precisávamos melhorar. É tempo de reuniões e churrascos, onde candidatos apenas aparecem no local, como se não fossem eles os patrocinadores e discursam como se fossem convidados para estar lá. Em momento algum o candidato é o organizador do encontro.

Nestas reuniões é comum encontrar pessoas das quais nunca ouvimos falar, que também não nos conhecem e, em frente ao candidato “convidado”, se mostram unidas e fortes na conquista por votos para um mundo melhor. Tenho a impressão de que todos sabem que os outros estão mentindo, mas por educação ou conveniência, todos fazem de conta que acreditam.

É tempo também de encontrar um jeitinho de abocanhar uma graninha, através da promessa de dezenas ou centenas de votos, a candidatos que nunca pisaram em nossas terras. O mais incrível desta ação é que o cara que se propõe a ser cabo eleitoral não acredita no candidato e, mais ainda, sabe que não vai fazer aquela quantidade de votos prometida. Talvez seja uma maneira de enganar todo um sistema eleitoral que nos prejudica a cada eleição, mas acho que isso é somente uma cara-de-pau descarada.

Tenho saudades do tempo em que ganhávamos camisetas, bonés, canetas e, principalmente, aqueles calendários fogosos que faziam a alegria de todos os adolescentes. Era comum o candidato mandar fazer seus calendários divididos em temas. Em alguns eram impressas imagens de santos e mensagens bíblicas, noutros eram colocadas paisagens bonitas da cidade ou do Estado onde se pretendia governar. Mas sempre existia aquela porcentagem de impressos que eram feitos com imagens marotas, prá não falar muito explicitamente. Esta cota de calendários era distribuída única e exclusivamente para homens, principalmente jovens e adolescentes, que guardavam como uma relíquia.

As camisetas de candidatos eram muito boas para serem usadas como pijamas, enquanto os bonés serviam para proteger a cabeça ao cortar a grama. Canetas funcionavam até o dia da eleição, pois vinham com pouca tinta, além de quebrar fácil, pela baixa qualidade do material. A única coisa que sobrevivia à época de eleição eram os calendários. Até hoje conheço pessoas que mantém uma coleção diversificada destes itens.

Os brindes podiam não valer nada, mas tenho a impressão de que a compra de votos era mais clara e honesta, mesmo sendo uma prática desprezível. Hoje continuamos a ser enganados, mas não levamos nem um brindezinho em troca.

 

 

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Aramis José Gorniski


Entre em contato com Aramis José Gorniski: aramizinho@gmail.com