Cristo disse: “Não julgueis, para não serdes julgados. Pois com o mesmo juízo com que julgais, sereis julgados, e com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos” – Mt 7.1s.
Quando a ideia do julgar autoindulgente e auto inventado invade a esfera espiritual e o diabo semeia sua semente no reino de Cristo, de modo que a coisa penetra na doutrina e na vida, ai começam a miséria e o perigo. Na doutrina, isso se manifesta do seguinte modo: embora Deus tivesse designado e incumbido alguém com a pregação do Evangelho puro, não obstante surgem outras pessoas pregadoras, também, entre a gente aluna que o querem saber fazer dez vezes melhor do que elas, que foram, legitimamente, chamadas, preparadas e incumbidas pela comunidade, nascida e nutrida pela Palavra. Assim, o Evangelho tem que sofrer a desgraça e o infortúnio de se deixar julgar por ‘todo mundo’. Todas as pessoas autoenviadas se tornam doutoras do Evangelho e cada qual quer ser ele/a próprio/a mestre na doutrina. É a mesma coisa que também aconteceu a Moisés em Números 16.3ss., quando Coré e seu séquito se rebelaram contra Arão, dizendo: por que vocês se exaltam acima do povo de Deus? Acaso não são todos santos? Será que Deus fala somente através de Moisés e Arão? Hoje as pessoas autoenviadas e auto instituídas dizem a mesma coisa: acaso não teríamos também nós o Espírito Santo e entenderíamos a Escritura tão bem como outros/as? E imediatamente se produz uma nova doutrina e se criam seitas, e já começa o julgar e condenar e, especialmente, a escandalosa difamação, onde um ‘partido’ ou ‘grupo’ acusa e difama venenosamente o outro, como também o presenciamos suficientemente em contextos objetivos e concretos nos quais se pretende, de verdade, resgatar e honrar o Evangelho. Disto resulta o prejuízo fatal: a cristandade é dividida e a pura doutrina desaparece em toda parte.
Cristo preocupou-se muito com isto e não, apenas, se preocupou, mas também anunciou que isto aconteceria. Pois não se pode transformar o mundo, ainda que pregássemos até a exaustão. Mundo é sempre mundo! Por isto, onde quer que surge o Evangelho, haverão de aparecer hordas e seitas que novamente o pervertem e amortecem. A causa é a seguinte: o diabo tem que semear sua semente entre a boa semente, e onde Deus constrói uma igreja, ele constrói sua igreja ou sua capela ou seu tabernáculo do lado – Mt 13.25 –, pois satanás sempre quer estar entre os filhos e as filhas de Deus, como diz a Escritura – Jó 1.6; 2.1. Por isto, Cristo quer advertir aqui os Seus apóstolos e fiéis pregadores para que se previnam cuidadosamente deste vício e cuidem para que não se instale, para que não surjam cismas e discórdias, especialmente, na doutrina. É como se quisesse dizer: se querem ser Meus discípulos, cuidem para que sua compreensão da doutrina e suas opiniões a respeito dela sejam iguais e unânimes; que ninguém queira ser mestre, que sabe algo novo ou o sabe melhor, julgando e condenando os/as outros/as, com base em revelação auto inspirada. E não se importem com a pessoa, e, sim, deem atenção ao que lhes ordenei pregar. Fiquem, em magno consenso, nisso: no que promove e aponta para Mim, e que tudo seja feito em harmonia, para que um não despreze o/a outro/a ou comece algo novo, em termos de base de fé, teologia, culto, piedade.
Isto posto, é preciso que entendamos e nos tenhamos por conscientizados/as que, não obstante, aquele/a que tem o encargo público de pregar não está proibido de julgar questões doutrinárias e também questões de vida. Pois por força de seu ministério compete-lhe denunciar publicamente o que não corresponde à verdadeira doutrina, justamente para evitar que se instalem e surjam seitas, e assim o Evangelho da graça e da glória de Deus seja perdido. Igualmente, onde vê que não se vive de modo piedoso, também deve denunciar e prevenir. Pois ele/a está aí para cuidar destas coisas e tem que responder por isto no juízo final.
