Como os mais chegados sabem, eu gosto muito de uma discussão. Mas não daquela de bater boca, alterar a voz, sair na porrada. Não. Discussão para mim é troca de ideias para se chegar a um consenso – ou para conhecer a posição do outro. Portanto, não saio “magoado” de que alguém não pense como eu, e muito menos analiso as coisas pensando em quem “ganhou” ou “perdeu” na discussão, afinal, se estiverem os dois lados com mente aberta, ambos devem aprender algo, portanto, ambos ganham.
Mas infelizmente não é bem assim que a maioria pensa as coisas. Levam para o lado pessoal, se ofendem, usam baixarias, etc. Não que eu seja santo… as vezes os nervos fervem também, mas passado o momento, amigos novamente.
Dito isto, estava analisando algumas discussões que participo, ou pelo menos que assisto. Só que comecei a verificar algo que achei interessante: em todos os temas onde envolvemos conceitos sólidos, ou seja, não temos teorias, existem três verdades sempre.
E essas verdades podem ser traduzidas em a) “o que é de fato”; b) “o que os leigos defensores querem que seja”; e c) “o que os leigos contrários pensam que seja”.
Exemplos: escola sem partido. O projeto é na verdade apenas a fixação de um cartaz em todas as escolas que divulgue direitos que os alunos JÁ têm. Só isso. O objetivo é que com isso os alunos possam perceber e denunciar casos de abusos contra seus direitos.
Mas o que o pessoal leigo a favor do projeto pensa é que vão eliminar as aulas sobre socialismo e políticas de esquerda. Já quem é contra, pensa que o projeto vai amordaçar o professor ou impedi-lo de lecionar algum conteúdo. Percebam que as versões se distanciam bastante.
Outro exemplo: separatismo no Brasil. Basicamente, em várias regiões do Brasil algumas pessoas analisaram a estrutura do nosso país e concluíram que para mudar, só criando algo novo, e para isso acontecer, só desmembrando o Brasil em vários pedaços. Podem ter pessoas que estudaram mais que concordem ou não com a tese, ok… sem problemas, mas, o foco da discussão é a melhoria das condições de vida.
Mas o pessoal leigo a favor, aqueles que não leram grande coisa sobre o tema, acreditam e difundem conceitos como o de que a culpa de tudo é dos nordestinos ou outras coisas do tipo. Já os contrários que também não leram muito argumentam que os separatistas são racistas, xenofóbicos, etc, etc.
Nesta última semana o grande tema foi o aborto, ou pelo menos a mudança da legislação sobre a prática, e claro podemos aplicar a mesma regra das três verdades. Mas como não estudei muito a fundo o assunto, se eu me manifestar estarei indo ou para o segundo grupo ou terceiro grupo.
Triste é ver que, pelo menos nos assuntos que domino o mínimo para me considerar no primeiro grupo, muitos jornalistas da grande imprensa estão entre o segundo ou terceiro grupo. Com isso grandes formadores de opinião que deveriam servir para esclarecer as massas estão servindo apenas para confundir e dividir, e o papel deles não é esse – o pelo menos não deveria ser.
Finalmente, qual o problema disso tudo? O primeiro problema é que posicionando-se no fora do primeiro grupo você turva a discussão de assuntos sérios, tornando-os as vezes risíveis, e portanto sem efeito – talvez até castrando iniciativas interessantes socialmente. Pior ainda, em tempos de internet que a informação está a um clique, a população está cada vez mais acirrando posições, mas sem base de conhecimento, apenas pelo “achar bom” ou “achar ruim”, e com isso temos um país bastante dividido.
Portanto leitor, por favor, ao se manifestar sobre um tema, tenha certeza de conhecer o mínimo sobre o mesmo.