Um pouco sobre educação

Lá no finalzinho da greve dos caminhoneiros recebi uma postagem por rede social de uma professora reclamando que a população não se unia da mesma forma quando era para lutar pela educação.
Queria ter comentado aqui mais cedo, mas outros temas surgiram, e só agora surgiu a oportunidade. Na prática, se confunde “luta por educação” com “luta de classe”, quando se fala de exigências dos professores.
Vejam bem: não sou contra melhoria das condições de trabalho dos professores. Muito pelo contrário – acho que realmente merecem uma política salarial mais séria, pelo simples fato de terem muito mais importância na sociedade que outras funções que recebem muito mais, como vereadores, por exemplo.
Mas aumentar salário não vai refletir diretamente em melhoria de ensino. Temos que analisar o que foi feito e proposto nas últimas décadas, e seus efeitos reais. Quando meu pai cursava o equivalente ao segundo grau, tinha aula de inglês, francês e ainda latim. E mais: na década de 80, o ano escolar não tinha mais que 180 dias. Mesmo assim, a geração do meu pai tem um desempenho muito melhor em várias áreas que a minha.
Já na minha geração se excluiu algumas disciplinas – como as que citei acima – e aumentou-se o número de aulas de outras. Apesar de algum prejuízo, devo dizer que minha geração não se saiu tão mal, apesar de vários tropeços.
A geração atual já tem algumas novidades importantes. Primeiro, o ano letivo tem 200 dias. Segundo, a média baixou para 6 (antes era 7). Finalmente, como grande mudança, temos a “avaliação continuada”, que basicamente força o professor a fazer até 3 avaliações diferentes, e logo em seguida a cada uma, aplicar uma revisão seguida de recuperação (a coisa não é exatamente assim, tem mais detalhes, mas em linhas gerais, é por aí). Antigamente se o professor quisesse fazer uma única avaliação, com recuperação só lá no final do ano, sem problemas.
Oras… com estas mudanças, era de se imaginar que o ensino com certeza melhoraria, certo? Mas o que se está vendo é o contrário. Criamos um arcabouço que privilegia quem não quer estudar, e com isso, esta geração está menos escolarizada que a anterior.
O aumento dos dias letivos não teve nenhum impacto além de reduzir o tamanho das férias da criançada. A avaliação continuada tem um impacto muito negativo pela sua aplicabilidade, pois em um bimestre, temos em média 20 aulas (em disciplinas com 2 aulas semanais). Antes, aplicavam-se 18 ou 19 aulas de conteúdo, e uma ou duas para prova. Hoje o professor tem que usar de três a seis aulas apenas para avaliações. Após estas avaliações, tem que usar mais três a seis apenas para provas de recuperação. E claro, entre a recuperação e a prova tem que ter pelo menos uma aula de revisão, ou seja, três revisões. Então, em vinte aulas, no melhor dos cenários temos 11 dedicadas a conteúdo, e o restante a avaliações. É óbvio que fica mais fácil para o aluno, pois é muito menos conteúdo (quase a metade) sendo avaliado em mais vezes.
Dai tem outro efeito subsequente. Como as turmas normalmente são grandes, um professor chega a lecionar para até 500 alunos diferentes ao mesmo tempo. Mas com uma única avaliação, como era antigamente, eram apenas 500 correções para determinar a nota. Agora são 3 avaliações e 3 recuperações, portanto, 6×500 = 3 mil correções. É muito difícil aplicar avaliações que possam ser corrigidas adequadamente nesse volume e que apresentem algum grau de dificuldade ao aluno. Portanto os professores acabam, as vezes sem nem perceber, facilitando tudo.
Nisto entra a nota seis. Com menos conteúdos e avaliações facilitadas, qualquer um que no mínimo vá para as aulas e resolva as atividades propostas, consegue ser aprovado, mesmo que na verdade nada entenda do conteúdo aplicado.
Com isso, no ano seguinte, mesmo aqueles alunos que eram bons passam a raciocinar que, se o outro conseguiu aprovação sem se esforçar, pra que vale então este esforço? E com isso, param de se dedicar.
Voltando, quando falamos de luta pela educação, teríamos que lutar para reverter estas políticas falhas que foram implantadas nos últimos 20 a 30 anos. Mas para estas coisas, efetivamente, ninguém está se importando. Ai que entra a diferença entre lutar pela educação e lutar pela classe.

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