02. Se Perdoardes

Jesus Cristo disse, sem equivocar e sem enganar: “Porque se perdoardes aos homens as suas faltas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas faltas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas faltas” – Mt 6.14-15.

Uma é a realidade do perdão buscado e recebido, internamente, por graça e fé, mediante os Meios da Graça, em comunidade. Portanto, também o perdão exterior evidenciado por um ato é um sinal seguro, certo, veraz de que tenho perdão do pecado junto a Deus, em virtude de Cristo. E, inversamente, onde tal não se evidencia para com a pessoa próxima, terei um sinal seguro, certo, veraz de que também não tenho perdão do pecado junto a Deus. Mas, antes, que ainda, infelizmente, estou preso na falta de fé. O que deveria ser sim, o quanto antes melhor, motivo e razão objetiva e concreta para a necessidade do arrependimento e da fé em Jesus Cristo, o nosso único e suficiente Advogado junto a Deus Pai.

Seja consciente, – veja e note bem –, trata-se, aqui, de dois tipos de perdão: um, interior, assegurado pelo Espírito Santo, no coração, mediante a Palavra e os Meios da Graça, por graça e fé, que se apega exclusivamente ao ministério da reconciliação. E outro, exterior, que irrompe e nos dá certeza de que temos o perdão interior. Desta forma, distinguimos entre obras e fé como justiça interior e exterior, porém de modo tal que a interior esteja presente antes, como tronco e raiz donde precisam crescer, como frutos, as boas obras, ao passo que a exterior é testemunha da interior e, como diz Pedro, “confirmação”, a certificação de que esta efetivamente está presente. Pois onde não tem a justiça interior, não pratica nenhuma das obras exteriores e, inversamente, quando não estão presentes os sinais e provas exteriores, não posso ter certeza daquela, e, sim, engano a mim e às pessoas semelhantes. Mas quando vejo e sinto, por graça mediante a fé, internamente, por ação do Espírito Santo, que de bom grado perdoo a pessoa próxima, posso, sim, concluir e dizer, livre de auto- juízo enganoso: não faço essa obra por natureza, mas pela graça de Deus, e sinto-me diferente de antes.

A fé, teologia, culto, piedade das pessoas que, ao modo dos fariseus, falsificam a doutrina e a vida conformada com o Evangelho nada creem e nem querem entender do que Jesus Cristo aqui doutrina acerca do perdão. O mesmo vale em relação às pessoas que negam que nós, por natureza, somos de instinto ambíguo autoindulgente ativo-contínuo, razão pela qual diante das pessoas, o mais possível, elas tentam brilhar na aparência ilibada. Contudo, o coração é e permanece péssimo diante de Deus: não conformado com Cristo. O mesmo vale para a gente que nada entende acerca da fé, a que é dom de Deus. É, também, verdade, que tal obra – a de perdoar como queremos ser perdoados/as – como Cristo aqui a chama, não é mera obra como outras que fazemos por nós próprios/as. Pois aí não está esquecida a fé. Jesus Cristo toma essa obra e a dota de uma promessa, de modo que se poderia chamá-la com boa razão de sacramento para fortalecer a fé. Também o Batismo pode perfeitamente ser considerado obra praticada por mim que batizo ou me deixo batizar como resposta de fé presente na Palavra. Visto porém, que nele está presente a Palavra de Deus, o Batismo não é mera obra que valha ou crie algo por si mesma, e, sim, palavra e sinal divinos aos quais a fé se apega. Da mesma forma, também nossa oração, como obra nossa, nada valeria nem efetuaria qualquer coisa; o que, porém, a faz valer e efetuar algo é o fato de ela ter seu mandamento e promessa, de modo que também pode muito bem ser considerada um sacramento, mais obra divina do que obra nossa. [Segue]

 

 

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com