1. NÃO JULGUEIS

Cristo disse: “Não julgueis, para não serdes julgados. Pois com o mesmo juízo com que julgais, sereis julgados, e com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos” – Mt 7.1s.

No capítulo anterior, nós lemos como o SENHOR Cristo acrescentou à Sua pregação e doutrina sobre as verdadeiras boas obras um longo sermão, para advertir contra a ganância que impede, de modo especial, o reino de Deus, tanto na doutrina como na vida, e que causa um prejuízo mortal na cristandade. Aqui Ele começa a advertir contra outro ponto que também é um grande vício prejudicial, chamado sabedoria própria, que julga e censura todas as pessoas, com base em critérios autoescolhidos, autoindulgentes, próprios de mestre Sabichão autofeito. Pois onde dominam esses dois vícios, aí o Evangelho de Jesus Cristo não pode ficar, mesmo que as pessoas muito brilhem na aparência. Porque a ganância faz com que ou a gente pregadora, legitimamente chamada, silencie, ou as pessoas ouvintes não deem ouvidos ao Evangelho, que, portanto, é expulso pelo desprezo, fastio, negligência. Quando, porém, se infiltra a sabedoria própria, cada qual quer ser o melhor pregador e ser ele mesmo mestre, não quer ouvir a ninguém nem aprender de outros membros do Corpo de Cristo; daí surgem seitas e hordas sectárias, que falsificam e corrompem a Palavra, de modo que ela não pode permanecer pura e, mais uma vez, o Evangelho se perde com seus frutos. A isso Jesus Cristo chama, aqui, de julgar ou sentenciar, onde cada qual se agrada somente do que ele mesmo faz e considera execrável tudo que a pessoa próxima faz. De fato, uma bela e encantadora virtude e igualmente um ser homem maravilhoso, chamado Mestre Sabichão, que não agrada nem a Deus nem ao mundo e, não obstante, o mundo está cheio deles.

Ninguém deve escandalizar-se com esse sermão de Cristo, entendendo o mal, como se aqui fosse inteiramente proibido julgar e sentenciar. Aliás, do que dissemos várias vezes acima se torna claro que Cristo fala aqui somente aos discípulos e não se refere, em absoluto, ao julgamento e à punição que necessariamente tem que existir no mundo. No lar, por exemplo, pai e mãe têm que julgar entre os filhos e os serviçais, punir e intervir, quando não querem com portar-se como convém. Igualmente, uma autoridade governamental ou juiz, se quiser exercer corretamente seu oficio, nada pode fazer senão julgar e punir, em cumprimento do seu dever. Isso faz parte do regime secular, que não nos diz respeito. Por isso nós o deixamos agir como é de sua competência. Aqui, porém, falamos de outro reino, que não enfraquece nem anula o outro, a saber, da vida e existência espirituais entre a gente conformada com Cristo, e quem tem o Evangelho colocado em curso na sua vida. Aí está proibido que um julgue e condene o outro, pois aí acontece que o diabo sempre se mete no meio e realiza sua obra, de modo que cada qual se considera bom e pensa que somente sua causa é válida e é a melhor, criticando e destruindo tudo que não se orienta por ele.

Em negócios seculares isso é uma bela tolice e ainda pode ser tolerado, embora não seja correto. Pois é tão grosseiro que cada qual o percebe. É como se uma mulher leviana se considerasse mais bonita que todas as outras ordeiras e decentes, e tudo que enxergasse em outras não lhe agradasse. Ou como se um jovem tolo quisesse ser tão belo e brilhante que não conhece igual. Entre os sábios e eruditos é extremamente comum que ninguém admite que vale alguma coisa o que um outro sabe e faz, e cada qual quer ser o único que sabe tudo melhor e ninguém escapa de sua crítica. Todo mundo entende isso perfeitamente. No entanto, o Mestre Sabichão está presente em toda parte. Ele é tão sábio que, inclusive, sabe como embridar um cavalo pelo rabo, enquanto todo o mundo tem que embridá-lo pela frente, pela boca. [Segue]

 

Please follow and like us:

Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com