“Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e onde ladrões os escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde nem traças nem ferrugem os corroem, e onde ladrões não os escavam nem roubam; porque onde está o vosso tesouro, aí está também o vosso coração” – Mt 6.19-21.
A vida e fé da pessoa cristã se comprovam no fato de nada se interpor entre ela e Cristo, não a lei, nem a piedade e nem sequer o mundo. Ela, enquanto pessoa feita discípula, pelo Espírito Santo, vê somente a Cristo: Não a Cristo e a lei, não a Cristo e a piedade, não a Cristo e o mundo. Ela não se entrega a estas reflexões, mas em tudo segue unicamente a Cristo, como benefício, com fé presente. O seu olho é unidirecional, porque se fixa unicamente na luz que vem de Cristo, a luz do mundo. NEle não há escuridão, por isso mesmo ela não conhece ambiguidade. Assim como o olho deve ser unidirecional, claro, puro, para que o corpo permaneça na luz, assim como o pé e a mão não recebem luz de outra parte senão do olho, assim como o pé tropeça e a mão erra quando o olho embota, assim como o corpo está na escuridão quando se apaga a luz dos olhos, assim também o Povo da Fé só permanece na luz enquanto olha unicamente para Cristo, como resposta da fé em Sua pregação e doutrina. O coração da gente discípula está orientado, unicamente, para Cristo e Seu Evangelho. Caso o olho enxergar outra coisa além do real, todo o corpo está sendo ludibriado. Se o coração se prender a ilusão do transitório, à criatura ao invés de ao Criador, está perdido o discipulado.
A fé e o amor aos bens do mundo querem e podem desviar de Jesus Cristo, o SENHOR, o coração da pessoa discípula. Para onde está orientado o coração do ser humano, enquanto pessoa não conformada com Cristo via ação do Espírito Santo? Eis a pergunta. Ele está orientado para as riquezas do mundo. Pois não há como estar orientado, ao mesmo tempo, para Cristo e para o mundo. A luz do corpo são os olhos. Estando embotados os olhos, como o coração deve estar em grandes trevas! Caso ele seja trevas, é preciso arrependimento! O coração se entreva quando se apega as coisas do mundo hostil a Cristo, Seu Evangelho, à fé, ao Espírito. Por mais insistente que seja o chamado de Jesus, então e hoje, há que reconhecer que não encontrará acesso ao ser humano, pois fechado está o coração que pertence a outrem.
Assim como não penetra luz no corpo sendo mau o olho, assim também a palavra de Jesus não mais penetra no/a discípulo/a quando o coração está endurecido. A Palavra foi sufocada qual sementeria entre os espinhos, “com os cuidados, riquezas e deleites da vida” (Lc 8.14). A unidirecionalidade do olho e do coração corresponde aquela abscondicidade que nada sabe a não ser a Palavra e o chamado de Cristo, abscondicidade que consiste na completa comunhão com Jesus, por graça divina mediante a fé. Como poderá a pessoa discípula usar as riquezas deste mundo com zelo unidirecional? Jesus não Ihe proíbe o uso das riquezas. Ele comia, bebia como os discípulos. Ele, assim fazendo, santificou o uso dos bens do mundo. O discípulo pode receber grato os bens que se consomem num instante e que servem ao sustento diário da vida física. Contanto que seja neste espírito: “Viver qual peregrino, vazio, sem nada ter. Ter muito amontoado / só pesa no correr. / Ajunte, pois, quem quer, / nós, desembaraçados, / com pouco contentados, só temos p’ra viver.” (Tersteegen).
Isto posto, para finalizar, resumindo: Para isso servem os bens – para que deles façamos uso; não, porém, para serem amontoados e tornados deus. Nisto creia firmemente.