Jesus Cristo disse: “Tudo, pois que quereis que as pessoas vos façam, fazei-o vós também a elas. Essa é a lei e os profetas” – Mt 7.12.
Se aplicarmos a lei áurea aos Mandamentos e a todos os artigos da fé que justifica e salva, nós temos, em verdade, uma prédica sem fim. Pois é impossível enumerar todas as coisas que estão sendo feitas, em oposição à vontade boa e misericordiosa de Deus, até o dia derradeiro. Na verdade, é um mestre fabuloso Esse que é capaz de resumir um sermão tão abrangente em tão poucas palavras e encerrá-lo num sumário tal que cada um pode levar para casa, recordá-lo, diariamente, como escrito em seu próprio coração, sim, em toda sua vida e todas as suas obras, para que possa ver onde há carências em toda a sua vida.
Além disso, sou da opinião de que o sumário, não obstante, terá seus efeitos e produzirá frutos, desde que nos acostumemos a meditar nele e não sejamos tão preguiçosos e desatenciosos. Pois a ninguém considero tão grosseiro nem tão perverso que, lembrando-se dele, não iria envergonhar-se e escandalizar-se. Sem dúvida, é uma bela maneira como Cristo o fez, tomando por exemplo somente a nós mesmos e tornando-o o mais íntimo possível, isto é, colocando-o em nosso coração, no corpo, na vida e em todos os membros. Desse modo, ninguém precisa ir longe para buscá-lo, nem gastar com isso muito esforço e dinheiro. Ele colocou o livro em teu próprio ‘peito’ e, além disso, de maneira tão clara que não precisas de nenhuma explicação para entender a Moisés e a lei, de modo que tu mesmo és tua ‘Bíblia’, mestre, doutor e pregador, contato que veramente, ouças a Cristo, com fé presente. É esta a direção que Ele te aponta. É só dar uma olhada e verás como o livro perpassa todas as tuas obras, palavras, pensamentos, coração, corpo e alma. Basta que observes isto, e serás suficientemente sábio e instruído, mais do que toda a arte dos juristas e dos livros leis.
Para tomar um exemplo bem simples, para fixação da Palavra: se és artesão, encontras a Bíblia em tua oficina, em tua mão, em teu coração, que te ensina e te prega como deves tratar a pessoa próxima. Dá uma olhada em tuas ferramentas, tua agulha, teu dedal, teus apetrechos, teu metro, em tudo lerás inscrito esse dito de Jesus Cristo. Para onde quer que olhes, teu olhar cairá sobre ele, e nada daquilo com que lidas diariamente é tão insignificante que não te diga isso sem cessar, desde que o queiras ouvir. Pregação é que não falta, pois tens muitos pregadores: negócios, mercadorias, ferramentas e outras utilidades em tua casa e propriedade. Tudo isso grita a uma só voz: meu caro, usa-me de tal maneira no trato com teu próximo como queres que a pessoa semelhante aja contigo com seus bens e tudo o que tem.
Vês, pois, essa doutrina inscrita em toda parte para onde olhamos, metida em toda a nossa vida, bastando que tenhamos ouvidos para ouvir e olhos para enxergar. Ela nos é anunciada em tão grande abundância que ninguém pode desculpar-se, dizendo que não sabia ou que não lhe teria sido dito ou pregado suficientes vezes. No entanto, no geral, somos como as áspides, que tapam os ouvidos e se fazem de surdas quando alguém as quer encantar – Cf. SI 58.4b-5a. Não queremos ver nem ouvir o que está inscrito em nosso coração e em nossa mente, e dizemos perversamente: ora, que tenho eu a ver com o outro / a outra? Posso fazer com o que é meu o que eu quero e vender meu produto ao preço que eu quero. Quem mo poderá proibir?, etc., do modo como o fazem ‘Sr. Avaro’ e ‘Sr. Espoliador’ no comércio. E se alguém os repreende e ameaça com a Palavra de Deus, saem rindo e zombando e se endurecem ainda mais em sua maldade autojustificada. No entanto, não é a esses que pregamos, também Cristo não o faz e, também, não quer saber deles. Ele os despreza na medida como eles O desprezam e os manda para o inferno, para que ambos fiquem separados.
