Jesus Cristo, atraindo-nos, carinhosamente a Si, pregou: “Observai os pássaros debaixo do céu: eles não semeiam, não ceifam, não ajuntam em celeiros. Contudo, vosso Pai celestial os alimenta. Acaso vós não sois muito melhores do que eles? Quem há entre vós que pudesse acrescentar um côvado a sua estatura, por mais que se preocupe?” – Mt 6.26-27.
Cada vez que nós, temerosos pelo sustento, ouvimos um pássaro cantando, clamando aos céus o ‘louvor’ de Deus, nós não deveríamos envergonhar-nos e não erguer os olhos?! No entanto, nós, incrédulos, somos duros como pedras, de modo que sequer tomamos conhecimento deles, embora os ouçamos pregar isso diariamente em grandes bandos.
Observa ainda o que os queridos passarinhos fazem além disso, como vivem sem qualquer preocupação e esperam seu alimento somente da mão de Deus! Quando são engaiolados, para que cantem e se põe diante deles comida em abundância, para que pensem: agora tenho o suficiente e já não preciso mais me preocupar de onde tirar alimento, pois agora tenho um senhor rico e meus galpões estão abarrotados, etc. Isso eles não fazem. Preferem estar livres no ar e, aí, também, ficam mais gordos e cantam louvores a Deus mais doces e encantadoras a seu SENHOR, e cantam matinas cedo de manhã, antes de comerem. Embora nenhum deles tivesse um grãozinho de reserva, cantam um belo e longo bendizer, e deixam que Deus cuide deles, também quando têm filhotes que precisam alimentar. Por isso, quando ouves um rouxinol, por exemplo, ouves o mais excelente pregador, que te exorta por este evangelho, não com simples e meras palavras, e, sim, com a ação e o exemplo vivos, porque canta a noite toda e quase se ‘mata’ cantando, e é muito mais alegre no mato do que quando está preso na gaiola, onde se tem que tratá-lo com todo cuidado e onde, raras vezes, vinga ou sobrevive, como se quisesse dizer: eu preferiria, livre, ficar na cozinha do SENHOR, que fez o céu e a terra, onde Ele mesmo é cozinheiro e hospedeiro, alimentando diariamente inúmeros passarinhos de Sua mão, e que não tem apenas um saco, e sim, céus e terra cheios de cereal.
Assim, pois, Cristo diz: visto que vocês têm diariamente diante dos olhos como o Pai celestial alimenta os passarinhos no campo sem qualquer preocupação da parte deles, vocês não poderiam esperar dEle que irá alimentar também a vocês, no exercício e incumbência junto ao ministério da Palavra e Meios da Graça, porque é o Pai de vocês e os chama de seus filhos? Como não iria cuidar muito mais de vocês, que Ele tornou seus filhos e aos quais dá sua Palavra e todas as criaturas, do que dos passarinhos, que não são seus amados filhos e, sim, servos de vocês? Não obstante, Ele tem tão grande cuidado deles, alimentando-os diariamente, como se eles fossem sua única preocupação. E agrada-Lhe o fato de esvoaçarem e cantarem alegres, sem qualquer preocupação, como a dizer: eu canto e sou alegre, apesar de não ter um grãozinho para comer, meu pão ainda não está cozido, meu cereal ainda não foi semeado. Eu faço o que faço porque eu tenho convicção certa e segura na e por fé, porque tenho um SENHOR rico, que provê meu sustento enquanto canto e durmo. Ele pode dar-me mais do que todos os seres humanos e do que eu seria capaz de autoalcançar com minha preocupação. Ora, se os pássaros dominam a arte de confiar tão completamente em Deus e de lançar sobre Ele suas preocupações, nós, que somos seus filhos, o deveríamos fazer tanto mais. Por isso, temos aí um exemplo excelente, que nos envergonha a todos, porque nós, que somos gente racional e que, além disso, temos a Escritura, não temos sabedoria suficiente para imitar os pássaros e, diariamente, temos que passar tanta vergonha perante Deus e o povo cada vez que ouvimos um passarinho cantar.
