Jesus Cristo pregou, dizendo: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e tudo isso cairá no vosso seio.” Ou, na versão que nos é, o mais, conhecida: “… buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”
Urge se conscientizar ou se deixar levar a tal, que ninguém consegue arrancar da comida algo além disso: saciar o estômago. E a sensação de saciedade dura pouco tempo e um breve momento e, depois, teremos que abandonar tudo. Com a comida que sacia a fome nós não podemos acrescentar uma hora sequer à existência corporal, quando vem nossa horinha de partir. Quer o estômago esteja alimentado ou roncando de fome, quando vem a morte, acabou. Ninguém é salvo em virtude do estômago saciado ou do estômago vazio. Por isso também o reino do Mâmon é um reino pobre, miserável, sim, podre e fedorento.
Aliás, que é o reino erigido e fundamentado na ganância e avareza em comparação com o Reino de Deus ou o Reino do SENHOR Cristo? Pondera isso você mesmo e diz o que é a criatura em comparação com Seu Criador, e o mundo em comparação com Deus. Pois se céu e terra pertencessem somente a mim, que teria eu em comparação com Deus? Não tanto quanto uma gota de água ou um grãozinho de pó comparados com o mar inteiro. Além disso, trata-se de um tesouro que não se acaba, que não pode diminuir ou encolher, de modo que nenhum coração e nenhuma mente humana são capazes de mensurar e compreender seu tamanho e sua duração. E eu iria jogar fora de modo tão vergonhoso a Deus e Seu Reino e abrir mão dele e tomar esse imundo e mortal reino da barriga em troca daquele Reino divino, imperecível, que me dá vida eterna, justiça, paz, alegria e bem aventurança, no qual terei tudo que procuro e desejo aqui, temporalmente e tudo, incomensuravelmente, mais glorioso e abundante do que o posso conseguir aqui na terra com grande esforço, preocupação e muito trabalho? E antes que o consiga e possa possuí-lo, terei que partir e abandonar tudo para trás, mais dias menos dias. Acaso não é uma grande vergonhosa loucura e cegueira o fato de não enxergarmos isto? Sim, uma empedernida maldade do mundo possuído pelo diabo que ele não quer ouvir nem dar atenção quando se lho prega, conscientizando, no tempo da graça?
Por isso, Cristo quer despertar-nos, como ouvintes crentes, com essas palavras e dizer: se quiserem preocupar-se corretamente e providenciar para que sempre tenham o suficiente, então busquem um tesouro que se chama Reino de Deus. Não se preocupem com o temporal tesouro corruptível, que as traças roem, como Ele disse acima. Pois vocês têm outro tesouro bem diferente no céu, que lhes mostrarei. Busquem a este, esforcem-se por consegui-lo e ponderem o que ele lhes oferece. Então, com certeza, de bom grado, esquecerão o outro. Pois é um tesouro que os sustentará eternamente e que não desaparecerá nem lhes poderá ser tirado. De modo que, sendo um tesouro que permanece e se vocês se agarram nele, também, vocês haverão de permanecer, ainda que não tivessem um centavo do mundo hostil a Mim.
O que é o Reino de Deus é o reino da fé em Jesus Cristo, Seu Evangelho, Seus benefícios. A definição mais breve é esta: ele não consiste em coisas exteriores, como comida e bebida – Rm 14.17 –, nem em outras obras que se podem realizar, e, sim, consiste em que se creia em Jesus Cristo, que é o cabeça e único rei nesse Reino, no qual e através do qual tudo temos. Quem permanece nele, nem pecado, morte ou desgraça lhe podem causar algum mal. E, sim, viverá eternamente, tem alegria e bem aventurança. E isso começa aqui nessa fé cristológica, mas no dia derradeiro será revelado e consumado eternamente por causa de Jesus Cristo, o Evangelho, o Espírito, a graça divina. Mas, quem se deixa conscientizar?
