Cristo disse: “Não julgueis, para não serdes julgados. Pois com o mesmo juízo com que julgais, sereis julgados, e com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos” – Mt 7.1s.
Eis a verdade nua e crua, quer a gente o cria quer seja incrédulo: o ser humano infestado de autoindulgência não pensa que Deus pode ‘esfregar’ em seu nariz um ‘registro’ e citar, historizando, não, apenas, as suas falhas e pecados da juventude contra a segunda tábua dos Mandamentos, mas também, os de toda a sua vida, que considerou preciosa, como, hoje, se verifica nas pessoas que não se examinam à luz da primeira Tábua dos Mandamentos. Sim, o que pode ser mais blasfemo do que crer e viver como pessoa para quem Jesus Cristo nada aproveita? Como quer subsistir perante Deus e o que você vai responder pelo fato de ter blasfemado e crucificado diariamente Seu Filho com fé, teologia, culto, piedade autoinspirada? É isso que acontece quando esquecemos o que fomos, antes do nosso autêntico regenerar pelo Batismo e pelo Espírito Santo. Assim, autoindulgente, naturalmente, é fácil julgar outras pessoas, com critérios autoinventados. Mas o que se requer no presente versículo é isso: “Fulano/a, pega-se pelo próprio nariz e põe a mão no seu próprio peito. Se você está à procura de um patife para condená-lo, encontrarás ali o pior patife da terra e, certamente, você esquecerá as outras pessoas e as deixará em paz, de boa vontade, porque jamais encontrará em alguém outro tantos pecados quanto em você mesmo. Pois se você vê muito pecado em alguém outro, ajuíza um ano ou dois em si, porém, Deus vê a vida inteira, especialmente os grosseiros, dos quais ninguém sabe, e em face das quais deveria envergonhar-se a si mesmo”.
Isso seria uma maneira de combater esse vício escandaloso: que você não se agrade a si mesmo, e, sim, peça a Deus que perdoe a você e a outras pessoas. Em segundo lugar, que, mesmo vendo algo de ruim na pessoa próxima, não a despreze e nem condene por causa disto, pelo contrário, você deve olhar para suas boas qualidades e ajudar-lhe com as suas, dando-lhe cobertura, melhorando sua imagem e aconselhando-o, sabendo que, ainda que você fosse a pessoa mais santa e piedosa, se torna justamente o pior, se você julga alguém outro, sendo autoindulgente. Pois seus dons não lhe foram dados para seu próprio prazer, e, sim, para, com eles, ajudar a pessoa próxima quando ela tiver necessidade, para que, com sua força e honradez, carregue sua fraqueza, encubra e disfarce seu pecado e sua vergonha com sua piedade, assim como Deus o fez contigo em Cristo e ainda o faz diariamente, sem méritos, dignidades, boas obras de sua parte. Se você não o faz e quer pavonear-se com eles e desprezar outra gente, saiba que, enquanto, em sua opinião, a outra pessoa tem uma felpa nos olhos, você tem uma grande trave nos olhos perante Deus. Eis a verdade.
Aí, pois, você se tenha por conscientizado por que Cristo fala de modo tão rigoroso contra esse vício, pronunciando a dura sentença: quem julga será julgado, como também é justo. Porque, visto que você interfere no juízo de Deus e condena aquela gente que Deus não condenou, você dá motivo a que Ele, por sua vez, lhe condene ao inferno com toda a sua vida, por mais piedoso que tivesse sido. E ao próximo, que você julgou e condenou, Ele dará uma posição de honra e, além disto, o instituirá como juiz sobre você, acontecendo que encontrará em você dez vezes mais coisas condenáveis do que você achou nele. Assim, você, em verdade, seu deu mal, provocando a ira de Deus e do próximo contra você e perdendo simultaneamente a graça de Deus e a vida cristã, tornando-se pior do que um gentio, que nada sabe de Deus. O discípulo está proibido de julgar. Se o fizer, está sujeito ao julgamento de Deus. A espada com o qual julgam o irmão, se voltará contra eles próprios. A incisão com a qual se separam dos outros como os justos dos injustos, separa-os de Jesus.
