Jesus Cristo, nosso único e suficiente Remidor, disse: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao Mâmon” – Mt 6.24.
Toda pessoa cristã, membro do Povo da Fé, que tem a Palavra de Deus presente em si, procede assim: ela a honra e observa, sem levar em consideração se incomoda o mundo ou deixa de tirar vantagem. Ela segue a seguinte postura: ali está a bolsa e a carteira, casa e propriedade, etc., mas aqui está meu Cristo; se devo abandonar e entregar algo, então eu deixarei aquelas coisas todas, para ficar com Cristo. Isto é o que Cristo quer dizer com o enunciado de que não se pode servir a dois senhores. Pois os dois, com certeza, entrarão em conflito, tendo um que ceder ao outro; por isso, não adianta que te enfeites com essa ideia de manter os dois senhores. Antes, resoluto, deves tomar a corajosa decisão de largar um deles.
No enunciado de Cristo, o importante é a palavrinha “servir”. Porque ter dinheiro e posses, esposa e filhos, casa e bens não é pecado. Só não deves deixá-los tornarem-se teus senhores. Põe-nos a teu serviço e sê tu seu senhor, como se diz quando um homem é honesto, generoso e de fino quilate: ele é senhor do seu dinheiro, e não submisso e preso como um ganancioso miserável que prefere largar a Palavra de Deus e tudo o mais, que não mexe um dedo nem abre a boca para não pôr em perigo seu dinheiro. Esse é um coração tolo, ímpio e pagão, que, por amor ao mesquinho Mâmon, que ele não ousa usar nem fruir, despreza e abandona o tesouro eterno. Mesmo assim, anda por aí, seguro, pensando que pode voltar à Palavra de Deus a qualquer hora. Enquanto isso, apodera-se de tudo que pode, não deixando escapar sequer um centavo. E assim, sem amor à Palavra de Deus, afunda-se, cada vez mais, na ganância. E afasta-se, num crescendo, dela, a ponto de, enfim, tornar-se hostil a Cristo.
Cristo usou palavras duras e foi seco em seu juízo, ao dizer: “Ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro”. Isso quer dizer: o execrável amor ao Mâmon cria inimigos de Deus. Quem é autoindulgente com o seu pecado diz: essa certamente seria uma bela doutrina, se não fosse prejudicial. Por isso lhe são hostis, e não sem razão como julgam, pois ela dá motivo para tal. Mas o Mâmon é um deus excelente! Não prejudica nem a cozinha nem o bolso. Por isso, é nessas palavras que acontece a decisão entre amor e amizade: “Há de aborrecer-se de um e amar ao outro”. Pois são dois senhores incompatíveis, que não se toleram num mesmo coração, como dois donos na mesma casa na hora do conflito, quando se tem que decidir a servir e devotar-se a um, tem que se aborrecer de outro ou largá-lo. E assim corre, com certeza, que quem cultua o dinheiro e os bens se torna inimigo de Deus. É esse o fruto precioso da idolatria ao Mâmon. Isso se percebe particularmente, em Igreja e Sociedade, quando a ganância prevalece de fora a fora, a ponto de haver uma epidemia de ganância entre todos os setores e classes sociais. Que santidade e bela virtude é esta, tirar de Deus o que há de melhor no ser humano, para dá-lo ao Mâmon? Pois este é, naturalmente, o serviço supremo que o coração ama e deseja e que todos os membros e o corpo inteiro almejam, como Cristo disse acima: “Onde estiver o teu tesouro, ali também estará o teu coração” – Mt 6.21. Pois aquilo que alguém ama, isso ele, com certeza, perseguirá, disso ele gostará de falar, ali estão todos os seus pensamentos e o seu coração. Por isso, também Santo Agostinho diz: “aquilo que amo, é o meu Deus.” Por aí vês que espécie de gente é essa há quem Cristo dá o título de inimigos de Deus. Fazem uma enorme demonstração de serviço a Deus como seus mais íntimos amigos, mas, no fundo, não passam de autênticos santos do diabo, que odeiam e perseguem, do fundo do coração, a Deus, Sua obra e Palavra.