Cristo disse: “Entrai pela porta estreita. Pois é espaçosa a porta e largo o caminho que leva à condenação. E são muitos os que andam por ele. E é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida, e são poucos que o encontram” – Mt 7.13-14.
Deus sabe perfeitamente do que a Palavra é capaz, visto que experimentou e sentiu muitas vezes o quanto é poderosa, forte como um exército, se alguém crê nela. Por isso, o profeta se sente tão seguro no SI 118.6,12s.: “O Senhor está comigo, por isso não temo. Que me poderia fazer o homem?” “Na verdade eles me cercam como as abelhas e ardem como fogo nos espinheiros, mas em nome do Senhor eu os despedaçarei. Empurram-me para que eu caia, mas o Senhor me ajuda”, etc. Vê, ele também nada possui além da Palavra e da fé de que o SENHOR está com ele, ao qual não vê. No entanto, sente o mundo e a carne que tornam seu caminho apertado e lhe amarguram a vida, mas ele, não obstante, permanece firme. Para ele, basta que o SENHOR está com ele e lhe dá apoio e tem certeza de que subsistirá e os vencerá, ainda que o mundo inteiro seja contra ele. Deus é Deus.
Temos que acostumar-nos com esse consolo incomum, aprendendo a fazer da porta apertada e do caminho estreito um espaço amplo, e do pequeno contingente uma grande multidão, não ficando de olhos arregalados, e, sim, por meio da fé e da Palavra, voltando os pensamentos para o invisível, a saber, que o próprio Cristo e todo o exército celestial estão comigo e andaram pelo mesmo caminho, precedendo-me ao céu numa bela e longa procissão. Toda a cristandade há de trilhar a mesma estrada até ao dia derradeiro. Pois por onde Ele anda e onde Ele está, por ali também deverão andar e ali haverão de estar todos os membros do povo da Fé. Assim o caminho se nos torna fácil e agradável e andaremos por ele confiantes, para o qual Cristo nos atrai, dizendo: “Venham a mim todos que estão carregados e fatigados, eu quero dar-lhes um descanso refrescante”, “pois meu jugo é suave e meu fardo é leve” – Mt 11.28,30 –, como se quisesse dizer: não se deixem amofinar com o fardo que lhes imponho no mundo. Isso é apenas um jugo e um fardo para a carne. A isso eu chamo de caminho estreito e porta apertada. Mas atenham-se a Mim e Eu lho farei bem suave e aprazível, e lhes darei força suficiente, para que possam trilhar o caminho com leveza, e, não somente isso, mas que também possam experimentar que ele se tornará amável e doce para vocês, apesar de.
A verdade é esta: fazendo as contas e comparando-nos com outros seres humanos os crentes têm a vantagem, de modo que não quererão trocar facilmente com os ímpios, embora estes vivam na abundância, e aqueles tenham que passar por muitos sofrimentos. No entanto, eles se torturam e martirizam a si mesmos dez vezes mais do que a nós com seu venenoso ódio irrequieto, com tantos ‘atentados’ vãos para nos prejudicar e com toda sorte de atos e truques vis, com os quais pecam e se torna culpados. Assim não podem ter boa consciência nem verdadeiras horas alegres, sendo seus próprios diabos aqui na terra. Não obstante, nada conseguem contra nós a não ser sujar e ameaçar-nos um pouco, até onde Deus o permitir.
Os que, porém, creem em Cristo não precisam preocupar-se com isto nem angustiar-se por causa disto. Podemos ter um coração e uma consciência alegres, ainda que sejamos um pouco atribulados e o diabo nos aperte. Mas ele terá que desistir disto novamente e, entrementes, nós somos fortalecidos pela Palavra, de modo que o fardo e a atribulação se nos tornam doces, e temos apenas a metade do suplício exteriormente, no homem exterior. Eles, porém, terão os martírios do diabo dobrados, terão seu inferno tanto aqui quanto lá, com eterno tormento e consciências atribuladas por morte e sangue, de modo que não podem ter nenhum pensamento alegre e bom em ralação a Deus, embora exteriormente tenham alguma alegria e algum prazer carnal. É bem feito para eles, conforme diz a Escritura: “Senhor, fazer cair sobre eles flagelos e aflições em dobro” – Jr 17.18d., conforme a versão da Vulgata.
