Jesus Cristo, nosso único e suficiente Justificador, disse: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao Mâmon” – Mt 6.24.
Quando se trata de discipulado da cruz e renúncia, ao modo de Cristo, é preciso arder em amor muito fervoroso, tão ardente que a pessoa possa abandonar tudo, casa e propriedade, mulher e filhos, bens e prestígio, corpo e vida: que, inclusive seja capaz de desprezá-los e ‘pisá-los com os pés’, metaforicamente falando, para preservar apenas aquele tesouro que ele, não obstante, não vê e que é desprezado no mundo e é, apenas, apresentado com a mera Palavra e crido com o coração.
Com o dito acima, Cristo não quer dizer que não se deve ter ou adquirir dinheiro nem propriedade, ou que, se alguém os possui, deve jogá-los fora, conforme ensinaram e praticaram alguns, ao longo da história, idiotas dentre os tolos filósofos e alguns santos malucos entre as pessoas que se autocriam cristãs. Pois Ele permite perfeitamente que sejas rico, mas não quer que se prenda o amor às riquezas, conforme ensinou Davi, demonstrando-o com seu exemplo: “Se conseguirdes angariar riquezas”, diz ele, “não prendais nelas vosso coração” – SI 62.10. Esta é a atitude que pode manter o coração livre no meio do dinheiro e das posses concedidas por Deus (coisa que o mundo, sem Palavra e fé, não pode). E quando estão a seduzir o coração (pela atração das lindas vantagens financeiras, das lustrosas ‘recompensas e subornos’) e a arrancá-lo da Palavra de Deus, ele consegue, pela fé na Palavra, calcá-las aos pés e desprezá-las tanto quanto o mundo a eles se apega e, em contrapartida despreza o tesouro celeste. Em suma: é preciso dominar o Mâmon, tê-lo atirado aos pés, e não se sujeitar a ninguém nem ter a ninguém por senhor senão a Palavra de Deus. Mas isso é pregado àquele remanescente fiel que crê em Cristo e acredita na sua Palavra; as outras pessoas, enquanto servas e cativas do deus Mâmon, são caso perdido.
Deus e o mundo, Deus e as riquezas são opostos entre si, porque o mundo e as riquezas visam conquistar o coração, e se revelam em sua essência somente após terem conquistado seu objetivo – o coração do ser humano. Sem o coração, bens e mundo nada são. Eles alimentam-se de corações nos quais Cristo e Sua Palavra não reinam, de modo soberano. Nisso são opostos a Deus. Pois nós podemos dar o coração apenas a um em amor total, podemos entregar-nos apenas a um senhor totalmente. O que se opõe a esse amor cai no ódio. De acordo com a Palavra de Jesus, há somente dois sentimentos em relação a Deus: amor e ódio. Se não amamos a Deus odiamo-Lo. Não há meio termo. Deus é Deus tal, e justamente nisso Ele é Deus, que pode ser somente amado ou odiado. Existe somente esta alternativa: Ou amamos a Deus, ou, as riquezas do mundo. Se tu amas o mundo, odeias a Deus; se amas a Deus, odeias o mundo. Isso independe da tua vontade ou da tua ação consciente. Decerto o não quererás nem terás consciência do que fazes; pois justamente acontece o que não queres, pois o teu desejo, por natureza, é servir aos dois senhores. Queres amar a Deus e às riquezas, e, portanto, jamais admitirás que odeias a Deus. Perdida a Palavra e a fé, amas a Deus a teu modo. Amando a Deus e às riquezas, o amor a Deus é ódio, o olho já não é unidirecional, o coração já não tem comunhão com Jesus. Querendo ou não, assim será. “Não podeis servir a dois senhores”, vós que estais e quereis estar no discipulado da cruz e da renúncia. Esta é a mais pura verdade, quer a gente o creia quer não.
