Jesus Cristo, o Filho unigênito de Deus, que quer ser o nosso único e suficiente SENHOR, disse: “São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!” – Mt 6.22s.
Naturalmente, tu podes tomar propósitos louváveis de que não irás ajuntar dinheiro e bens por ganância como as outras pessoas, e, sim, que o queres fazer de tal maneira que o podes responsabilizar perante Deus e o mundo, para que não possas ser acusado de ganancioso. Contudo, vives como tal e assim fazes tua própria luz no coração. No entanto, cuida para que essa luz não seja, igualmente, escuridão e, para que não tenhas somente pura ganância no coração e, ainda, a queiras mascarar com a luz, para que não seja chamada de ganância, tornando-se, desse modo, uma escuridão dobrada, muito maior do que antes.
As grandes trevas, em Igreja, disfarçadas e mascaradas de farisaísmo, que apagam totalmente a luz da doutrina do único salvante Evangelho de Cristo, consistem no fato de nada haverem ensinado além de redimir pecados e ser salvo por meio de obras. Mas a escuridão se engrossa realmente quando se defende essa posição e se proclama que essa é a verdadeira doutrina divina e que quem ensina outra coisa é herege, que proíbe o culto divino e as boas obras, etc. Ainda mais, quando se ‘enfeita’ esse engano e essa escuridão autoproduzida com o nome da verdade, aumentando, desse modo, ainda mais, a escuridão com a luz agregada. É a mesma coisa que reconhecer o diabo como diabo e fazer dele um deus. Isso significa cobrir trevas com trevas, mas, não obstante, querer ser claridade e luz, sim, o próprio sol.
Assim, Cristo conclui: se essa opinião e doutrina infestadas de avareza farisaica, consideradas luz, já são escuridão, quão grande será, então, a outra escuridão que essa acarreta? ou seja, quando se promove essa doutrina e se vive de acordo com ela? No presente caso, se um ser humano for vencido pela ganância, de modo que passa a ‘cavoucar e unhar’, esse já tem trevas no coração; se, porém, vai e pretexta que aquilo não é ganância, iludindo, desse modo, a consciência para que não seja acusado, isso é realmente uma densa escuridão dobrada. É o caso do tolo que quer ser sábio e não ser acusado de tolo. Esse é, na verdade, um grande e grosseiro tolo. Ou tomemos o caso de uma megera horrorosa que quer ser bonita e se enfeita com seus horríveis adereços. Isto é tornar as coisas ainda mais dúbias e escandalosas. Por natureza, nenhuma pessoa quer que se denuncie seu pecado; todos os seres humanos, que não vivem arrependimento e fé diários, fazem para si um disfarce, para aparecerem louváveis e preciosos, fazendo, desse modo, de um pecado simples, um pecado duplo. Aliás, fica a pergunta: que benefício se ganha se a carne e o sangue nos consideram ilibados, se, ao modo do justo e veraz juízo divino, no coração, se é uma pessoa péssima?
Se, agora, isso penetra nas questões espirituais, isso causa o grande dano mortal. Porque nessa posição não é fácil achar a medida certa. Seguindo o Evangelho, a pessoa facilmente se torna muito generosa em suas contribuições. Por outro lado, quando a pessoa se afasta do Evangelho, não há medida para a avareza. Antes e, no passado eclesiástico avaro, quando se começou a dar, choveu dinheiro para igrejas, cultos e instituições eclesiásticas, assim como em tempos passados pessoas particulares e autoridades doaram, na melhor das intenções, territórios inteiros para esses fins. Agora, porém, se quer que Cristo e Seu Evangelho sejam e são pregados com pureza e clareza, quase ninguém está disposto a doar um centavo, e a maioria se agarra a tudo que pode, como se estivessem morrendo de fome.
