6.NÃO JULGUEIS

Cristo disse: “Não julgueis, para não serdes julgados. Pois com o mesmo juízo com que julgais, sereis julgados, e com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos” – Mt 7.1s.

Em resumo, este é o pior vício e pura arrogância diabólica, quando nos consideramos bons aos nossos próprios olhos e nos parabenizamos, de modo autolisonjeador, quando vemos ou percebemos uma boa qualidade em nós e não agradecemos por ela a Deus, mas nos tornamos arrogantes, passando a desprezar todo mundo, e enchemos com ela os olhos a ponto de não mais enxergarmos as outras coisas que fazemos e deixamos de fazer. Achamos que em nós tudo é perfeito, roubando e usurpando, desse modo, a honra de Deus, tornando-nos a nós mesmos em ídolo, sem enxergarmos a calamidade que estamos provocando com isto, quando já teríamos problemas que chega conosco mesmos, se fossemos sinceros, como em Ap 3.17 é dito a um bispo que se considerava mais sábio e melhor que outros: “Dizes: ‘Sou rico e estou totalmente suprido, e nada me falta’, e nem sabes que és miserável e lastimável, pobre, cego e nu”. É verdade que teu dom é maior que o de qualquer outro, como não pode ser diferente, porque teu ministério é distinto, mais elevado e maior. Mas, se depois cometes o escandaloso erro, vais e usas isto como espelho, perante o qual ficas admirando a ti mesmo, estragas tudo e fazes com que este mesmo ornamento sublime fique mais imundo que todas as demais mazelas. Pois quanto mais sublimes os dons, tanto mais escandalosa a perversão quando os transformas em ídolo. É como misturar veneno numa preciosa malvasia. Aí, realmente, acertaste no alvo. Julgas alguém outro por causa de uma pequena falta e com tua presunção, tu mesmo cais no grave pecado da ingratidão contra Deus, colocando-te, inclusive, a ti mesmo no lugar dele em teu coração, interferindo em seu juízo, onde um pecado é mais grave do que o peca do de todos os seres humanos. Além disto, tornas-te arrogante para com o próximo e totalmente cego para todas as coisas agradáveis a Deus, de modo que não consegues mais reconhecer e enxergar nem a Ele, nem a teu próximo e nem a ti mesmo.

Que consegues com o julgamento autoindulgente exceto invocar o juízo de Deus sobre ti mesmo?, de modo que é justo que te diga: não te dei os dons para que desprezes o próximo e para que, com eles, sirvas a ti mesmo, e, sim, a teu próximo pobre e fraco e a Mim, no conjunto da Criação. Tu, porém, vais e sequer me agradeces como se isto tivesse crescido em teu coração, e usas minha própria dádiva contra Mim e o próximo, e tu mesmo te tornas um tirano, um carrasco e um juiz contra o próximo, ao qual deverias suportar pelo amor, ajudar-lhe a melhorar suas condições e erguê-lo quando caísse? Que queres responder, se ele se dirigir a ti deste modo – conforme Cristo te advertiu aqui, antecipadamente – sele que esta sentença pronunciada contra ti é justa, porque não consideras, apenas, uma felpa o que, porventura, enxergas no olho de teu próximo, como o nosso único e suficiente Remidor diz aqui, e, sim, porque fazes de uma felpa uma grande trave?

Não quero falar do fato de que com teu escandaloso juízo és condenável não apenas pelo fato em si, mas, em geral, a própria pessoa que julga está envolvida em pecado e vício maior que outros. Se ele voltasse atrás e lesse seu próprio diário e registro, como viveu desde a juventude, iria ouvir uma história que lhe provocaria pavor e que gostaria de ocultar de outras pessoas. Agora, porém, cada um se considera justo, quer esquecer tudo que passou e censurar e condenar um pobre homem por ter pecado alguma vez. Com isto se confronta com dois problemas. Em primeiro lugar, porque ignora sua vida e esquece o que ele foi, não se lembra de quanto lhe teria doído se tivesse sido objeto de zombaria e condenação. Isto é pecado, porque ele é ingrato e porque esqueceu o perdão dos pecados, a graça e todos os benefícios de Deus, via Cristo. A outra dificuldade é que perde sua piedade, evocando, novamente, diante de si mesmo, todos os pecados do passado, justamente, porque se admira em sua piedade como num espelho, e sua situação fica sete vezes pior do que antes. [Segue]

 

 

 

 

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com