6.  TERMINADO O DISCURSO

“Depois que Jesus havia terminado esse discurso, o povo se encheu de espanto sobre sua doutrina, pois pregava com autoridade, e não como os escribas” – Mt 7.28-29.

Ainda que ninguém seja salvo em virtude das obras é altamente consolador nos ter por conscientizado, em nossa vida e fé marcadas pela cruz e renúncia, de que temos, antecipadamente, por Jesus Cristo, o nosso SENHOR, sem e antes de todo o nosso fazer, recompensa presente, e no ao depois da vida presente, infestada de autojustificações, tão fugaz e muito bastantemente transitória, a certeza da vida eterna. Paulo diz que Deus quer fazer de ti, pessoa santa em e por causa de Cristo, uma grande e brilhante estrela e dar-te um dom especial também nessa vida. Pois, também um cristão pode conseguir aqui, na terra, tanto junto a Deus por meio de sua oração e boas obras que ele poupa um país inteiro, prevenindo-o de guerras, carestias, pestilência, etc. Não que a obra, por sua dignidade, fosse tão preciosa, e, sim, porque Ele o prometeu para nosso fortalecimento e consolo, para não pensarmos que nosso trabalho, nossas fadigas e nossos sofrimentos estão perdidos e esquecidos, de todo e de vez. Aí não há merecimento pelo qual devêssemos obter graça ou nosso Batismo, ou o Cristo e o céu do que tanto falam santos autofeitos quando se referem ao mérito, já que tudo isto se refere ao fruto do cristianismo, que custa muito para a pessoa discípula. Pois, como vimos até aqui, no sermão, Cristo nada diz a respeito de como nos tornamos cristãos, e, sim, fala somente das obras que ninguém pode realizar e dos frutos que ninguém pode produzir, senão aquele que já é cristão e se encontra na graça divina, em arrependimento e fé diários, por ação do Espírito Santo, via ministério da Palavra, que deve ser honrado por todos nós, se é que Cristo nos é importante. Isto o mostram, no conjunto do sermão de Cristo, as referências à pobreza, à miséria, à perseguição que haverão de sofrer pelo fato de serem cristãos e por terem o Reino dos céus colocado em curso em si, etc. Se, agora, falamos, como gente santa em Cristo, destes frutos que seguem a graça divina e o perdão dos pecados, permitimos perfeitamente que se chame a isto de merecimento ou recompensa. Defendemos e defendamos, por amor a Cristo e Sua doutrina, porém, que estas nossas obras, não são o bem principal, que devem existir antecipadamente e sem as quais não podem ser realizadas nem podem agradar a Deus Pai, meritoriamente. Se, agora, mantivermos puro o artigo da justificação por graça divina mediante a fé em Jesus Cristo, de que isto não é mérito, e, sim, pura graça de Deus, não nos opomos que se chamem os frutos subsequentes por este nome, sob a condição de que esses ditos de Cristo e de Paulo não sejam pervertidos falsamente, aplicando-os ao nosso mérito da graça, contrariando, assim, a Escritura, que tem como centro não uma doutrina, mas, sim, a segunda Pessoa da Trindade: Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Portanto, que eles, os ditos consolatórios dEle, sejam interpretados corretamente como devem ser interpretados: como consolo para crentes batizados engajados no resgate de outras ovelhas perdidas e extraviadas, especialmente, em realidade de sofrimento e resistência incomuns, quando temos a sensação objetiva de que nossa vida, nosso sofrimento e nosso agir em favor de Cristo e do Seu Evangelho são em vão e resultam em nada, como, aliás, a Escritura sempre consola quando admoesta à perseverança nas boas obras, como, por exemplo, Jr 31.16: Est mercês operi tuo – “Teu trabalho não é em vão” e, também, Paulo, em 1Co 15.58: Labor vester non est inanis in Domino – “O vosso trabalho não é vão no Senhor”. Pois se não tivéssemos este consolo seguro e certo, não poderíamos suportar a miséria, a perseguição e a penúria como recompensa para tantas coisas boas que fazemos às pessoas, no conjunto da Criação, recebendo como pagamento por nosso ensino e nossa pregação, puras e corretas, meramente ingratidão e ignomínia. Por fim,  sem consolo seguro, teríamos que acabar com essas obras e sofrimentos próprios de cristólogos/as com os quais nos deparamos, recorrentemente, cá e lá, quando menos nos damos por cientes.

P. Airton Hermann Loeve.

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com