9. QUANDO JEJUARDES…

“Quando jejuardes, não façais caras azedas como os hipócritas. Pois desfiguram seu rosto, para que apareçam perante o povo com seu jejum. Em verdade vos digo: eles têm sua recompensa. Mas quando jejuares, unge tua cabeça com óleo e lava teu rosto, para que não apareças perante as pessoas com teu jejum, mas unicamente perante teu Pai, que está oculto. E teu Pai que vê no oculto to recompensará publicamente”. Mateus 6.16-18.

Por meio do jejum a vontade egoísta do ser humano e lerda no assumir a cruz e a renúncia por amor do Evangelho, que não se deixa engajar na diaconia da Palavra, é disciplinada. A carne, jejuando ao modo da Palavra, é humilhada e castigada, pelo Espírito Santo via justiça da fé. Na prática da abstinência revela-se, de fé em fé, o grau de alheamento de minha vida ao mundo. A vida completamente destituída de práticas ascéticas, que goza e dá lugar a todos os desejos da carne pecaminosa, dificilmente se disporá ao discipulado da cruz. Aliás, a carne e o sangue, autocomplacentes, bem alimentados não gostam de orar, jejuar e nem se dispõem ao amor que é diaconal. Razão pela qual são poucas as pessoas que se confessam cristãs, que, de fato e de verdade, permanecem com Jesus Cristo em morte e dor.

A vida da pessoa discípula de Jesus Cristo precisa, em comunidade nascida da Palavra, de rigorosa disciplina externa. Não como se através dela pudesse ser quebrado o desejo ativo-contínuo da carne, ou como se o velho homem pudesse, de vez, ser morto por outra coisa senão pela fé em Jesus Cristo, somente. Mas é justamente a pessoa crente, a discípula cuja vontade foi quebrada pelo Espírito Santo, que em Cristo morreu segundo o velho homem, que conhece a rebelião e a arrogância diária da sua carne pecaminosa. Ela conhece a indolência e a indisciplina, e sabe que essas são a raiz do orgulho que deve ser abatido. Isso se fará por árduo exercício diário na disciplina. A respeito da pessoa discípula vale que o espírito está pronto para obedecer por fé, mas a carne é fraca. Por isso “vigiai e orai”. O espírito transluzido pelo Espírito Santo reconhece o caminho do discipulado e está disposto a seguir a Jesus Cristo. A carne, porém, é muito tímida, o caminho lhe parece demasiadamente árduo, muito incerto, por demais trabalhoso. Assim, o espírito é silenciado quando e toda vez que não ouve ou não crê no Evangelho. O espírito aceita o mandamento do amor irrestrito; a carne e o sangue, quando não regenerados, porém, são mais fortes, de maneira que o amor ao inimigo não chega a se concretizar, ao modo de Cristo. Assim a carne deve ser levada a compreender, de fé em fé, em exercício diário extraordinário na disciplina, que nela não tem direitos próprios. Nisso nos auxilia a diária e ordenada prática da oração, como também a meditação diária na Palavra de Deus. Nisso nos auxilia toda sorte de prática disciplinar e abstinência, via jejum.

A resistência da carne contra a humilhação diária apresenta-se de início, frontalmente; mais tarde, porém, vem disfarçada nas palavras do Espírito, ou seja, vem em nome da liberdade evangélica. Onde a liberdade evangélica da coação da lei, do autoflagelo e castigo substitui, por princípio, o verdadeiro uso evangélico da disciplina, do exercício na fé e da ascese, onde indisciplina e falta de regularidade na oração, no estudo da Palavra são justificados na vida corporal em nome da liberdade cristã, aí revela-se toda a oposição à palavra de Jesus. Aí se desconhece a estranheza da vida diária no discipulado, mas também se desconhece a alegria e, inclusive, a liberdade verdadeira que a disciplina proporciona à vida da pessoa discípula de Jesus Cristo. Sim, a que foi feita tal não pela carne e pelo sangue.

 

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Pastor Airton Hermann Loeve

Pastor Airton Hermann Loeve – Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB) – Lapa/PR.
Entre em contato com Pastor Airton Hermann Loeve: pastor.air.ton@hotmail.com