A pureza do coração é o Deus Espírito Santo, se Lhe aprouver, onde e quando quer, por graça mediante a fé em Jesus Cristo, via ministério da Palavra de Deus pregada corretamente e Meios da Graça administrados em conformidade com as palavras de instituição de Cristo, quem suscita, de modo monoagente. Eis porque não há como alcançar tal pureza via vida e existência eremitas – contrário à justiça da fé –, com sua ordem e suas regras inovadas pelos ser humano no intuito de alcançar um coração puro. Aliás, mesmo que uma pessoa eremita se ‘mate’ com jejuns e flagelos, que chore ‘lágrimas de sangue’ o dia inteiro de tanta devoção e, mesmo que tivesse alcançado perfeição – o que é impossível – que tivesse esquecido, completamente, o mundo – como realidade hostil à justiça da fé, mas, não obstante, não tivesse fé em Cristo, que se desdobra no amor, ela nada mais é do que um ser ‘fétido e imundo’, tanto interior quanto exteriormente, de modo que Deus e os Seus anjos têm horror e nojo de tal pessoa que expõe o oficio de Cristo à ignomínia.
Sê consciente de que tudo depende da Palavra de Deus. Tudo que ela contém e tudo que acontece de acordo com ela há de ser puro, imaculado e branco como a neve perante Deus, Seus anjos e as pessoas piedosas. Por isso, Paulo, diz em Tito 1.15: “Para os puros tudo é puro”, e ainda: “Para os impuros e descrentes nada é puro”. Por que isso é assim? Porque tanto sua mente quanto sua consciência são impuras. Como acontece isso? Isso acontece, na verdade, porque dizem, da boca para fora, que conhecem a Deus, mas com as suas obras o negam, visto que são pessoas que são abominação para Deus. Vê com que palavras horrorosas o apóstolo Paulo descreve e denuncia esses grandes santos que querem ser santos e puros de coração sem a Palavra de Deus, ou que via justiça das obras, renegam o ofício de Cristo e a justiça da fé. Tomemos como exemplo um monge que crê, ensina e confessa que se tornará puro segundo a sua regra rigorosa, em obediência, pobreza, sem mulher, isolado do mundo. Da perspectiva dele e de quem crê, sem amparo na Palavra de Deus, tal pessoa é ou necessariamente deveria ser pura em todos os sentidos. Assim criam e viviam os monges cartuxos – uma ordem eremita fundada em 1084. Mas o que é tal regra, norma de fé, vida e conduta senão ideia e doutrina de quem crê e vive segundo o modo de pensar humano, sem Palavra de Deus e sem fé inspirada pelo Espírito Santo. Bem pelo contrário a fé, ensino e confissão que tal pessoa segue e defende brotou do coração concupiscente do fundador da regra, que faz acepção das pessoas. E, o que é pior, além de se auto considerar e ajuizar puro em todos os sentidos, via sua fé, ensino e confissão condenam e rejeitam como impuro quem crê e vive de modo contrário à ela. Eis porque nós precisamos voltar às Escrituras Sagradas quando o assunto é pureza de coração. E, na Palavra, escutar o fiel intérprete das Palavras de Jesus Cristo: o apóstolo Paulo. Porquanto é ele quem chama e nomina de mente impura, de inventiva e pensamento pessoal quem quer alcançar pureza de coração tendo o ser humano como agente, tanto no crer e ensinar, quanto no confessar e viver.
Isto posto convém estar ciente de que é uma ilusão, consciência cegada e pensamento impuro, a ideia de querer alcançar coração e vida puros contrários à justiça da fé. Se a pureza de coração estivesse presa a capuzes, mosteiros e regras monásticas ou eremitas quem é e quem não é puro de coração seria fácil discernir. Ademais, o que fazer da Palavra de Deus que nos ordena servir ao próximo e se envolver em Igreja e Sociedade? Acaso isto não seria, necessariamente, significado como o mais grave pecado e condenável? A pureza do coração, tanto o que é e no que consiste, precisa ser (re)conhecida via justiça da fé em Cristo, o puro.