Jesus Cristo diz para os Seus ouvintes que Lhe obedecem crendo, com vistas ao discipulado da cruz: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” – Mateus 5.16. Porquanto as obras mais sublimes e as melhores são, justamente, aquelas das quais deve seguir ensinamento ou essa pregação que nos priva de toda honra e santidade e diz que em nós não há nada de bom, do qual nós nos pudéssemos gloriar diante de Deus. Por outro lado, instrui a consciência quanto ao modo de comportar-se perante Deus. Mostra-lhe a graça e a misericórdia de Deus e todo o Cristo e Seus benefícios em nosso favor. Essa é, em verdade, a verdadeira revelação e glorificação de Deus que, também, é o verdadeiro sacrifício e o verdadeiro culto a Ele. Essas obras devem ser as primeiras e principais. Depois, deve seguir também a vida exterior em relação à pessoa próxima e ao todo da criação, ao que chamam, segundo a carne, obras de caridade que, igualmente, brilham, mas, somente, até onde são acesas e praticadas na fé.
Agora você, leitor/a, pode concluir, em unidade com o Evangelho, por você mesmo/a, que o evangelista de Jesus Cristo, Mateus, não deve ser entendido aqui como se falasse das obras comuns que cada qual deve fazer à pessoa próxima, por amor, como lemos em Mateus 25.35-37, e, sim, sobretudo, das verdadeiras obras cristãs. A saber: Como ensinar corretamente o Evangelho, praticar a fé, instruir, fortalecer e perseverar nela, com o que testemunhamos que somos pessoas cristãs íntegras diante de Deus, sobretudo. Porquanto as outras obras fora da fé não oferecem essa certeza. Porque, também, as pessoas que são falsas cristãs podem enfeitar e encobrir-se com belas obras de caridade; mas, ensinar e confessar a Cristo, de verdade, não é possível sem a fé, conforme diz o apóstolo Paulo em 1 Co 12.3: “Ninguém pode chamar Jesus de Senhor a não ser pelo Espírito Santo”. Pois nenhuma pessoa que é falsa cristã nem qualquer espírito cismático é capaz de entender esse ensinamento, muito menos, pregar e confessá-lo corretamente. Porque, ainda que ela use as palavras e as repita, não se atém a elas nem as preserva em sua pureza, pregando, sempre, de tal modo que se percebe que não é correto, pois rouba a honra exclusiva de Cristo e a atribui a si mesma.
A mais certa obra de uma pessoa que tem o Evangelho de Jesus Cristo colocado em curso na sua teologia, vida e fé, mediante a ação do Espírito Santo, onde e quando aprouver a Deus, é, somente uma: Glorificar e anunciar a Cristo de tal modo que as pessoas aprendam que elas nada são e que Ele é tudo. Resumindo: É uma obra que não se faz a uma ou duas pessoas, ficando oculta como outras obras, e, sim, brilha publicamente perante o mundo inteiro, e se mostra, sendo, por isso mesmo, a única obra que é perseguida, pois as outras obras o mundo ainda é capaz de suportar. Por isso, ela é chamada, propriamente, de obra por meio da qual nosso Pai, por graça e fé em Cristo, é reconhecido e glorificado. As outras obras fora fé não conseguem chegar a esse ponto. Elas permanecem, simplesmente, no plano humano e fazem parte da segunda tábua dos Dez Mandamentos. Estas, as obras da fé, porém, pertencem aos sublimes três primeiros, e dizem respeito à honra, ao nome e à Palavra de Deus. E, para que possam subsistir, elas têm que ser comprovadas e acrisoladas por meio de perseguição e sofrimento e, além disso, injuriadas perante o mundo, para que permaneçam isentas da honra e presunção próprias, e sejam glorificadas tanto mais perante Deus, se realmente Sua honra e glória estão sendo atacadas. Por isso, também, são as mais existenciais, porque Deus as protege tanto mais e as conduz através da fúria e da perseguição do mundo.
