O Senhor Jesus Cristo disse: “Bem-aventurados são os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus” – Mt 5.3. A pessoa que não quer ser, movida pela fé na doutrina de Jesus Cristo, pobre de espírito em nome de Deus por amor do Reino dos Céus, não obstante, tem que ser pobre de espírito em nome do diabo e não tem nenhum agradecimento por isso. Deus prende, já que não querem crer, a pessoa gananciosa de tal maneira à sua barriga que jamais conseguem se satisfazer e se alegrar nos seus bens ganhos na base da ganância – caso não se arrepender e crer na doutrina de Jesus Cristo. O senhor Ganância é um hospede tão jovial que não deixa ninguém sossegado. Ele procura, empurra e incita sem cessar, de sorte que não consegue gozar o precioso dinheiro por uma hora sequer, conforme também o pregador Salomão se admira e diz: “Acaso não é uma amarga aflição que Deus dá a um homem dinheiro e bens, terras e pessoal em abundância, não obstante, ele não está em condições de usufruí-los” – Ec 6.2. Pois sempre tem que andar temeroso e preocupado e temer por sua preservação e ampliação, para que não se percam nem diminuam. O senhor Ganância está tão preso a seu dinheiro que não consegue gastar com alegria um centavo sequer. Se, porém, existisse um coração que contenta e se satisfaz com o que tem, ele teria sossego e, além disso, o Reino dos Céus, enquanto, de outro modo, teria aqui, em meio a muitos bens ou até com sua ganância, o ‘purgatório’, e lá, o fogo do eterno, com diz o ditado: aqui andará com um carinho de mão e lá terá que andar com uma roda. Ou seja: aqui miséria e temor, lá profundo sofrimento sem fim.
Note, essa é a maneira como Deus sempre faz as coisas permeadas de justiça, de modo que Sua Palavra permanece verdadeira, mesmo que quase ninguém ou lá e cá uma criança atente nela. Ninguém, portanto, pode estar satisfeito, feliz e bem-aventurado, de verdade, senão a pessoa que crê em Jesus Cristo e Sua doutrina. E as outras pessoas incrédulas e resistentes a Ele e à Sua doutrina, embora tenham tudo, nada têm de melhor – na verdade a sua situação ante Deus não é bem-aventurada como a das pessoas discípulas de Jesus Cristo. Razão pela qual, enquanto descrentes e impenitentes, continuam sendo pobres mendigas a calcular pelo critério do seu coração no qual Jesus Cristo não tem vez e nem voz. Triste.
A pessoa discípula de Jesus Cristo é pobre de espírito, de bom grado, quer tenha dinheiro e bens ou não. E, como tal, está presa a um imperecível bem eterno: o Reino dos Céus. Sendo por isso, em virtude da fé e vida correspondente, filha de Deus. As outras pessoas, em contrapartida, andam ávidas por bens temporais e, não obstante, não alcançam o que desejam e, além disso, serão eternamente martirizadas pelo diabo. Contudo, quem o crê?
Em suma, não há diferença entre uma pessoa mendiga diante da porta e uma miserável pessoa avarenta, a não ser que aquela nada tem e se satisfaz com um pedaço de pão, enquanto que esta, quanto mais tem, menos satisfeito está, mesmo que receba o dinheiro do mundo inteiro em um só monte. Por isso, o presente sermão não serve ou é desprezível, como já escrevemos, para o mundo e é de nenhum valor para a pessoa que resiste a Jesus Cristo e à Sua doutrina, pois ela insiste no que autojulga e auto ajuíza certo, bem-aventurança e não quer crer e, sim, quer ver as coisas diante dos seus olhos e poder apalpá-las com as suas mãos, conforme o ditado: ‘um pardal na mão é melhor do que ficar olhando para um ganso no ar’. Tal gente segue o seu próprio caminho auto escolhido – infelizmente.
