Jesus Cristo disse: “Ouvistes que foi dito: “Olho por olho, dente por dente”. Eu, porém, vos digo que não deveis resistir ao mal. Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. E se alguém quer contender contigo e tirar-te a túnica, dá-lhe também a capa. E se alguém te obrigar a andar com ele uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que te pede algo emprestado” (Mateus 5.39-42).
O Filho unigênito de Deus, em resumo, prega, ensina, confessa que uma pessoa cristã, justificada por graça mediante a fé, deve ter e tem um coração que não seja e nem é impaciente, vingativo, nem rompe com a paz fundamentado em sua palavra, vontade, desejos. Essa, como vemos, de pronto, é uma justiça diferente daquela que os fariseus do passado e do presente ensinavam e observavam. Não obstante, eles queriam enfeitar-se com a lei de Moisés, dizendo que é perfeitamente permitido vingar e defender-se quando se sofre injustiça, porque no texto de Êxodo 21. 24,27 estaria escrito: “Olho por olho, dente por dente…”.
Muita gente, ao longo dos anos, ‘quebrou a cabeça’ nesse disto de Jesus Cristo. E, não somente as pessoas de origem judaica, contemporâneas dEle, no passado, mas, também, ao longo dos séculos, gente cristã ‘tropeçou’ sobre o que Jesus pregou, ensinou, confessou, dando, sentido, interpretação e significado que empoderaram a vingança no coração e na ação externa. Para não poucas pessoas cristãs ao longo dos anos parecia demasiadamente rigoroso e duro não oferecer nenhuma resistência ao mal, porque, afinal, nós, neste mundo mau, precisamos de direito e castigo entre nós – de modo que o mal não escravize e domine, por completo. Também houve quem, tentando interpretar o dito de Jesus, contrapôs a isso o exemplo de Cristo, em João 18.22, dizendo que Ele, quando recebeu uma bofetada numa das faces, não ofereceu a outra, mas protestou Sua inocência e repreendeu o servo do sacerdote, o que parece contradizer ao presente texto.
Com base em João 18.22 houve pessoas pregadoras, doutoras, mestres e ensinadoras que disseram que não seria necessário oferecer a outra face ao agressor e interpretaram o presente texto no sentido de que a disposição no coração de oferecer a outra face seria suficiente. Isso não é errado, mas não é a compreensão correta de Cristo. Elas acharam que oferecer a outra face significaria dizer à pessoa agressora: aqui também tens a outra face, bate-me novamente! Ou que se entregue também a capa àquela pessoa que me quer tirar o manto. Se o sentido da pregação, ensino e confissão de Cristo fosse esse, então, dever-se-ia jogar atrás da pessoa má e tola tudo o que temos de precioso e valoroso, e, por último, também, casa e toda a propriedade, mulher, filhos, filhas. Por isso, ao modo de Cristo, nós pregamos, ensinamos e confessamos que não se deve confundir, adulterar e expandir o texto. Ele prega que a pessoa cristã deve estar disposta a sofrer, por amor dEle, do Seu Reino, da Sua justiça, com paciência o que deve e tem que sofrer neste mundo carente de justiça original. A pessoa cristã vai ter vida cruciforme. Contudo, ainda assim não procure e nem provoque vingança e nem sequer retribua o golpe que a pessoa tola, má, impenitente, incrédula dá.
Não obstante, permanece aqui a pergunta e a discussão: Cristo pregou e ensinou que nós devemos, como pessoas cristãs, suportar tudo quanto é desaforo de qualquer pessoa e não defender-nos em hipótese alguma, também não demandar em juízo nem fazer uma acusação judicial ou reclamar e exigir o que é nosso? [Continua na próxima edição.]