A oração ao modo de Jesus Cristo não contém intenção falsa. Ele disse: “E quando orares, não deves ser como os hipócritas que gostam de se postar orando nas sinagogas e esquinas nas ruas, para serem vistos pelas pessoas. Em verdade vos digo: eles já receberam sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai em secreto; e teu Pai que enxerga o secreto, te recompensará publicamente” – Mateus 6.5-6.
Ao orar não é necessário trancar-se, sempre, no quarto da nossa casa, embora seja muito conveniente estar sozinho para orar, porque, então, a pessoa crente ao modo do santíssimo Evangelho de Jesus Cristo pode derramar sua oração perante Deus, livre e desimpedidamente em palavras e gestos, o que não pode fazer na frente das outras pessoas. Pois mesmo que se possa orar no coração sem quaisquer palavras e gestos, estes ajudam para que o espírito esteja tanto mais despertado e aceso, pela fé. No mais, deve-se orar quase sem cessar no coração, pois a pessoa cristã sempre tem o espírito da oração dentro de si, de modo que seu coração se encontra em constante suspiro e súplica perante Deus, mesmo ao comer, beber, trabalhar, etc. Pois toda a sua doutrina e vida visam difundir o nome, a glória, o Reino, a Vontade de Deus. Tudo mais que ela faz, necessariamente, está subordinado a isso. Assim fica tanto mais compreensível o quanto os fariseus se fizeram dignos de crítica e desaprovação.
Jesus Cristo, não obstante, não diz que não deve haver também a oração exterior, tanto individual (como, por exemplo, quando cada um pronuncia uma bênção ou um Pai nosso, uma confissão ou um salmo de manhã, à noite, à mesa ou quando tem tempo) quanto também em conjunto, quando, numa reunião, se trata da Palavra de Deus e depois se dá graças, invocando-O pelas necessidades comuns; isso deve e precisa ocorrer publicamente, havendo, para tal, ocasiões e lugares especiais de reunião. Esta sim é doutrina e pratica de oração preciosa aos olhos de Deus e uma defesa vigorosa contra o diabo e suas investidas. Porque, então, toda a cristandade se reúne em concórdia, sem querer fazer ‘show diante das pessoas’. E quanto maior, pela fé, em conformidade com Cristo, a convicção com que se ora, tanto mais pronto se terá certeza interior de que ela será ouvida, segundo apraz a Deus. E tanto mais eficaz será, de fé em fé, como, também, agora, efetua muitas coisas boas, protegendo-nos contra muitos ardis malignos do diabo e impedindo-os de agir. Caso contrário, ele haveria de perpetuar por meio de seus asseclas homicídios, mentiras – porque Ele é homicida e pai da mentira desde o princípio e jamais se firmou na verdade. No diabo não há verdade. E assim fica tanto mais claro porque Cristo condena e rejeita a doutrina e prática da oração dos fariseus. Em suma: O que, atualmente, existe e persiste sem prejuízo da nossa salvação por graça mediante a fé em Jesus, o Cristo, tanto na esfera espiritual quanto na civil, naturalmente, é preservado pela oração ao modo da Palavra de Deus, o SENHOR da História.
Os elementos e características de uma oração autêntica são: que sejamos impelidos a ela, em primeiro lugar, pelo mandamento de Deus que ordenou veementemente que orássemos. Em segundo lugar, por Sua promessa de que Ele atenderia a nossa oração. Em terceiro lugar, que consideremos nossa aflição e miséria a nos oprimirem e sufocarem, de modo que realmente precisamos orar, apresentando-o e derramando-o, sem pestanejar, perante Deus, segundo Sua ordem e mandamento. Em quarto lugar, diante de tal palavra promissiva de Deus, nós devemos, isto sim, orar com fé genuína, tendo certeza e nenhuma dúvida de que Ele quer atender-nos e ajudar-nos segundo e conforme Lhe apraz. E tudo isso deve ser feito em nome de Jesus Cristo, por intermédio do qual, somente, nossa oração é agradável a Deus Pai, concedendo-nos, mercê dEle, toda graça e benefício, etc.