Sl 22 – Ainda que não substitua o texto em si, vamos à introdução, com vistas à interpretação e explicação contextualizada e atualizada, cristologicamente, dos Salmos, que têm em vista o conhecimento e a glória de Deus, em aroma suave, mediante Jesus Cristo. E nEle, na unidade do Espírito Santo, de fé em fé, edificação luteradora das consciências pávidas, exortação de soberbos e empedernidos, e consolo necessário, profícuo, ubérrimo dos corações atribulados.
O Salmo 22 é uma profecia acerca do sofrimento, morte, ressuscitação de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e do Evangelho, que o mundo inteiro deve ouvir e aceitar, com fé presente, com vistas ao perdão dos pecados. Ele, antes de todos os outros textos da Escritura, de modo evidente, profetiza a paixão e morte de Cristo na cruz, não obstante, seja o Filho Unigênito de Deus Pai. O Salmo assevera como Suas mãos e pés haveriam de ser perfurados e como os Seus membros seriam judiados excruciantemente, de modo público, a tal ponto que seria possível contar os seus ossos, e Deus, aparentemente, assistiria, inclusive concordando com o fato, dada a Sua não intervenção com castigo e ira contra os algozes imediatos. Tal semelhante profecia cristológica salmodiada não é encontrada tão claramente em nenhum outro profeta. O Salmo 22 é também um dos salmos principais, no que diz respeito à salvação por meio da cruz e sofrimento de Cristo, contanto que nEle creiamos, em consonância com o ministério da pregação pura da Palavra de Deus. Ele pertence ao Primeiro Mandamento, porque profetiza um novo culto, e está contido na primeira e segunda petição do Pai Nosso.
Jesus Cristo, o que ama de modo puro até às últimas consequências, em Seu padecer obediente, cumprindo a vontade de Deus Pai de modo perfeito, tomou sobre Si o pecado de todos/as nós. Ele, como Crucificado Ressurreto / Ressurreto Crucificado é exemplo, mais, exemplar para todos/as nós no tomar sobre Si as cargas, cruzinhas, cruzonas de gente próxima aturdida por n presenças e realidades que atribulam e tornam o peregrinar sôfrego nesse mundo que hostil a Cristo. Antes, ao contrário, Ele estava totalmente entregue às mãos dos ímpios, desesperado a tal ponto que eles, por causa da sua segurança excessiva, se divertiram com as suas vestes; falta, aqui, que esperassem que Ele ressuscitasse ou temessem que isto fosse vingado por Deus Pai! Pois os soldados não dividiram as Suas vestes por ganância. Antes, como num jogo blasfemo, levado ao extremo, queriam escarnecer, rir e zombar, como sinal de que Ele estava desolado, perdido, aniquilado e condenado ao perpétuo esquecimento pelo próprio Deus. Sim, como se o próprio Deus Lhe fosse um diabo. Ele, Cristo, estava aí entregue à vontade diabólica dos lacaios, como o último mesmo dos homens, como aquele do qual, depois Lhe terem sido tirados vida e corpo, nem sequer as vestes ficassem de lembrança para os seus. Findos os sofrimentos de Cristo, é justo, para entendimento mais amplo deste Salmo, o principal dentre todos, demorar-nos um pouco e observar nEle aquilo que Paulo diz: que em Cristo, o Crucificado, estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.
Jesus Cristo, padecendo, subjugou a lei, apagou o pecado, venceu a morte. E assim, por nós, corporeamente, se tornou autor e agente, do novo éon, fazendo surgir um novo dia, um novo tempo, o da graça, da vida e da bem-aventurança eternas, contanto que as pessoas se arrependessem e cressem nEle. Sim, Jesus Cristo, a segunda Pessoa da Trindade, é o autor e agente, na carne, em cumprimento perfeito do Seu ofício e incumbência, da Nova Aliança. O salmodiar do salmista edifica, exorta e consolo todas as pessoas arrependidas e crentes asseverando que em Cristo houve, ao mesmo tempo, a maior alegria e a maior tristeza; da mesma forma, a maior fraqueza e a maior força; assim também a maior honra e a maior vergonha; igual, a maior paz e a maior discórdia, a maior vida e a maior morte. E que é nosso dever, do lar ao Governo, temer, amar e confiar nEle acima de tudo, de todas as coisas, de todas as pessoas. Não há como ser salvo sem fé, pessoal, nEle.
P. Airton Hermann Loeve.
