Jesus Cristo, que quer conformar a nossa fé, teologia, culto, piedade, disse: “Tomai cuidado com vossas esmolas, para que não as deis perante as pessoas, para que sejais vistos por elas. Do contrário, não tereis recompensa junto a vosso Pai no céu. Ao dares esmolas, não mandes tocar trombetas a tua frente, como fazem os hipócritas nas escolas e nas ruas, para serem glorificados pelas pessoas. Em verdade vos digo: eles já receberam sua recompensa. Tu, porém, ao dares esmola, não permitas que tua mão esquerda saiba o que faz tua direita, para que tua esmola permaneça em segredo, e teu Pai, que vê em segredo, to recompensará publicamente” – Mt 6.1-4.
Até aqui, o SENHOR Cristo criticou a falsa doutrina e interpretação da Escritura, pelas quais as pessoas apenas foram levadas a não pecarem com suas mãos, enquanto o coração permanecia totalmente impuro interiormente. Por outro lado, mostrou e destacou a compreensão correta da Escritura e da lei. Agora, porém, passa da doutrina para denunciar também a vida. Ele critica as boas obras das autoridades religiosas, não deixando nelas nada de bom, nem em termos de doutrina, nem de obras, embora, como pessoas santas, segundo juízo da carne e do sangue, ensinassem diariamente a Escritura e fizessem boas obras, de modo que eram consideradas por seus próximos e próximas como o melhor cerne de todo o povo judeu e os homens mais santos sobre a terra. Todo o mundo tinha que olhar para elas como seu espelho e exemplo a ser seguido. E o povo seduzido pela falsa doutrina e vida tentou procurar a verdadeira doutrina e vida agradável a Deus junto a essas pessoas cuja fé, teologia, culto e piedade brilham na aparência, mas, que, não obstante, agora, também, estão sendo arguidas pelo Evangelho. O ensino e a pregação de Cristo faz toda gente crente nEle enxergar que as autoridades religiosas não ensinaram e nem viveram corretamente, antes seduziram e enganaram a si mesmas e ao pobre povo de consciências engessadas e enlatadas. Doutrina e vida libertadora são as que promovem e apontam para Jesus Cristo como o nosso único e suficiente Mérito e exemplo. É da fé, dom de Deus, que, de verdade, emanam as verdadeiras boas obras.
Ora, é aborrecida esta pregação que vem ao mundo para, em verdade, não deixar nada de correto e bom na gente piedosa segundo a sua própria inventiva, com o que mereceram perfeitamente que Cristo e Seus apóstolos os considerassem os inimigos do Evangelho. E eles, em contrapartida, que não os quiseram tolerar no mundo. O Espírito Santo não se deixa embaraçar com a doutrina e vida auto inovada das autoridades religiosas que muito brilham na aparência, mas que são, em verdade, gente péssima diante de Deus. Cristo exerce Seu ofício benéfico, onde quer que chegue, denunciando a doutrina e a vida infestada de autolatria. Aliás, tanto uma quanto a outra foram e continuam sendo denunciadas e criticadas por Ele e Seus apóstolos, como lemos, com clareza, no Evangelho e nas epístolas. A verdade é que onde a doutrina não é correta, é impossível que a vida seja correta e boa. Ela tem que deixar-se orientar pela doutrina de Cristo e segui-la crente de que a justificação diante de Deus Pai se dá única e exclusivamente por graça mediante a fé. O dar esmolas que é feito e realizado na base da justiça das obras só pode ser e de fato é desvio do caminho certo segundo as Escrituras. É encetar por trilhas enganosas, e isso é tanto mais grave porque sempre permanecem a aparência e a ilusão como se fossem a verdadeira doutrina, que aponta e conduz para o céu, e as obras são chamadas de boas segundo a carne e o sangue, embora não enxerguem e nem consigam ajuizar além das mãos. Enfim, em suma, somente a fé verdadeira faz dar esmolas agradáveis a Deus continuamente. Porque tal obra não busca o reconhecimento dEle e nem o aplauso das pessoas.